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A FAMÍLIA NA PREMATURIDADE: DO ESTRESSE PARENTAL AO CUIDADO DE ENFERMAGEM BASEADO EM EVIDÊNCIAS

Maria Estela Diniz Machado

Luciana Rodrigues da Silva

Flavia Melo de Castro

Nicole Dias dos Santos

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer o impacto da prematuridade na família e os seus riscos psicossociais para o desenvolvimento infantil;
  • definir estresse parental;
  • sugerir estratégias que possibilitem identificar o estresse parental;
  • apresentar as evidências científicas sobre o cuidado de enfermagem com enfoque no acolhimento familiar.

Esquema conceitual

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nascem, anualmente, 30 milhões de prematuros no mundo. Em 2017, dos 2,5 milhões de recém-nascidos (RNs) que foram a óbito nos primeiros 28 dias de vida, 80% tinham baixo peso e 65% eram prematuros. Nesse contexto, o Brasil se encontra entre os 10 países do mundo com maior taxa de nascimento prematuro, em torno de 12%, configurando um grande problema de saúde pública que afeta milhares de famílias.1

As consequências da prematuridade para a criança envolvem inúmeros problemas relacionados ao seu neurodesenvolvimento, como2,3

 

  • paralisia cerebral (PC);
  • problemas cognitivos;
  • problemas motores;
  • baixo quociente de inteligência (QI);
  • problemas de saúde mental;
  • problemas comportamentais.

Além disso, a internação em uma unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), embora necessária para dar suporte à vida do bebê, representa a imersão deste em um ambiente repleto de estímulos, nem sempre adequados ao seu neurodesenvolvimento. De fato, certos elementos têm o potencial de causar efeitos deletérios ao prematuro4 e, ademais, agem como fatores estressantes para esse bebê, aumentando o risco de alterações cerebrais e tornando-se causa de morbidades.5 Entre esses elementos, estão

 

  • o número elevado de procedimentos dolorosos;6
  • o manuseio excessivo;7
  • os ruídos elevados;7
  • a intensidade luminosa;4
  • os odores dos medicamentos e das substâncias utilizadas na higienização das superfícies;4
  • a separação dos pais.4

Nesse sentido, a aplicação de cuidados neuroprotetivos (cuidado desenvolvimental [CD]) que reduzam a mortalidade e/ou previnam morbidades neonatais é essencial no cuidado ao prematuro em UTIN e à sua família. Mais que uma estratégia, o CD é um modelo assistencial que se baseia nas necessidades do prematuro e da sua família por meio de um cuidado individualizado, reduzindo estressores ambientais e integrando os pais no cuidado ao seu filho.8

No contexto internacional, existem vários modelos de CD em que a família é vista como parceira nas decisões e no cuidado com o seu filho. Mais que um aspecto do CD neonatal, esses modelos respondem a uma filosofia de cuidado chamada de cuidado centrado na família (CCF, do inglês family-centered care [FCC]), que abrange todos os ambientes onde indivíduos e famílias recebem cuidados e apoio.8

No Brasil, esse modelo de assistência está inserido no eixo 1 da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), que trata da atenção humanizada à gestação, ao parto–nascimento e ao RN, e cuja estratégia é a atenção humanizada ao RN método canguru (MC).4 Nesse contexto, comprometido com as boas práticas de cuidado ao RN e à sua família, bem como com a qualidade da assistência, o MC passa a direcionar a prática assistencial para um modelo mais humanizado.

Do ponto de vista estratégico, a Portaria nº. 930, de 10 de maio de 2012, define, então, as diretrizes para a sua organização, estabelecendo os seguintes requisitos de humanização nas UTINs:9

 

  • controle de ruído;
  • controle de iluminação;
  • climatização;
  • iluminação natural para as novas unidades;
  • garantia de livre acesso e de permanência à mãe ou ao pai;
  • garantia de visitas programadas dos familiares;
  • garantia de informações sobre a evolução do paciente aos familiares pela equipe médica uma vez ao dia, no mínimo.

Apesar dessas conquistas, o movimento para a mudança da prática assistencial ao RN e à sua família nas UTINs é lento, necessita de constantes atualizações dos profissionais e depende de fatores institucionais e gerenciais. Consiste, portanto, em um processo complexo. Com base nisso, neste capítulo, serão abordados alguns dos fatores que contribuem para a complexidade do cuidado à família do prematuro, sobretudo o cuidado com os seus pais, e que necessitam ser compreendidos para que efetivamente seja possível oferecer um cuidado neuroprotetor.

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