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ATENDIMENTO INICIAL À PESSOA QUE SOFREU QUEIMADURAS: ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA

William Campo Meschial

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • identificar os principais componentes das avaliações primária e secundária do paciente que sofreu queimaduras;
  • descrever as principais classificações das queimaduras em relação à gravidade, profundidade e extensão das lesões;
  • distinguir sinais e sintomas de lesão inalatória e realizar a correta abordagem das vias aéreas;
  • adotar a regra dos nove para realizar a estimativa do tamanho da queimadura;
  • entender o cálculo para reposição volêmica nos pacientes que sofreram queimaduras;
  • realizar medidas de primeiros socorros para interromper o processo de queimadura causadas por diferentes agentes;
  • compreender o cuidado com as lesões, incluindo a realização de curativos;
  • entender os critérios de encaminhamento de pacientes com queimaduras para centros especializados;
  • aplicar as etapas do processo de enfermagem (PE) para pacientes com queimaduras atendidos em unidades de urgência.

Esquema conceitual

Introdução

As lesões decorrentes de queimaduras significativas podem ter consequências devastadoras para a saúde física e mental das pessoas acometidas e também estão associadas a altos custos de tratamento e de reabilitação.1,2 O problema torna-se ainda maior quando os primeiros socorros domiciliares e o atendimento inicial, realizado por equipes de serviços de urgência pré e intra-hospitalares, são realizados de maneira inapropriada.

Nos serviços de urgência e emergência, as queimaduras apresentam-se de forma heterogênea, tanto no que se refere à população acometida quanto às características da injúria. Portanto, é essencial que seja realizada uma abordagem individualizada, que leve em consideração as singularidades de cada paciente e de suas respectivas lesões. O cuidado dispensado necessita de um gerenciamento multidisciplinar, com alinhamento entre as equipes médicas, de enfermagem, cirúrgicas e afins.1

Sabe-se que as queimaduras constituem uma causa importante de hospitalização e requerem maior tempo de internação em comparação a outras causas de morbidade, acarretando ônus social e econômico para os pacientes e seus familiares. As primeiras horas após a lesão constituem um momento crucial, sendo necessária uma avaliação imediata e eficaz, seguida da administração de fluidos e transferência, em tempo oportuno, dos pacientes com critérios de gravidade para centros especializados.3

A administração de cuidados iniciais adequados após uma queimadura é crucial ainda para minimizar os danos físicos e psicológicos às vítimas.4 Neste contexto, torna-se importante que haja uma abordagem correta desde os cuidados domiciliares prestados por leigos, passando pelo atendimento pré-hospitalar e até a assistência realizada na sala de emergência.

Este capítulo tem como foco o atendimento inicial ao queimado (AIQ), que é aquele realizado em serviços de urgência e emergência pré e intra-hospitalares, em uma faixa de tempo entre 48 e 72 horas após a queimadura. Nessa fase, o objetivo principal é interromper o processo de queimadura e tratar das condições que colocam a vida da vítima em risco, momento em que um manejo adequado pode afetar significativamente os resultados em longo prazo. Esse atendimento segue as mesmas diretrizes indicadas às vítimas de trauma e está descrito em protocolos e referências consolidados da área.5

Nessa perspectiva, o AIQ, por suas particularidades e pela necessidade de atuação rápida e eficaz, é considerado complexo e deve ser conduzido por equipe multidisciplinar devidamente capacitada. O enfermeiro, como integrante dessa equipe e responsável pela assistência de enfermagem às vítimas de queimaduras, necessita atualizar-se constantemente, buscando desenvolver competências e habilidades necessárias a uma atuação resolutiva e livre de riscos ao paciente.5

Estudo conduzido em um Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), no sul da Alemanha, comparou o prognóstico de pacientes que foram admitidos diretamente no CTQ com aqueles que receberam o atendimento inicial previamente em serviços de urgência e emergência. Verificou-se que os pacientes atendidos, inicialmente, nos serviços de urgência obtiveram maiores índices de gravidade, maior tempo de ventilação mecânica e de internação hospitalar e retardo para realização da primeira excisão cirúrgica.6

Esses resultados contribuem para reflexões acerca do AIQ, apontando para possíveis déficits de recursos humanos e materiais nos serviços de urgência e emergência, o que provavelmente contribui para um pior prognóstico das vítimas e reforça a necessidade de ações de educação continuada/permanente efetivas, capazes de aumentar as competências dos profissionais da ponta.