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Cirurgião Como Líder em Tempos de Crise

Luiz Carlos von Bahten

José Jerônimo de Menezes Lima

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • relacionar o conceito de liderança ao exercício da profissão de cirurgião;
  • descrever as habilidades para o exercício da liderança no contexto de trabalho do cirurgião;
  • identificar os diferentes estilos de lideranças, com suas vantagens e desvantagens;
  • analisar o exercício da liderança pelo cirurgião em tempos de crise pandêmica.

Esquema conceitual

Introdução

A cirurgia ocupa, hoje em dia, um lugar de destaque no complexo sistema de cuidados de saúde da maioria dos países emergentes. A prática cirúrgica evoluiu muito rapidamente nas duas últimas décadas, desde a adoção de colecistectomia laparoscópica. As abordagens laparoscópicas suplantaram a maioria das operações abertas, agora unidas pela toracoscopia, terapia endovascular e cirurgia guiada por imagem. Os avanços científicos também mudaram as bases da prática cirúrgica.

Os estudos sobre a estrutura e a função do genoma humano fizeram avançar a medicina personalizada, que em breve se juntará a uma terapia cirúrgica personalizada. Dessa forma, a formação cirúrgica pós-universitária foi forçada a evoluir com novas oportunidades e desafios.

Nesse contexto, é necessária uma liderança cirúrgica eficaz para que a cirurgia se mantenha relevante para a prática futura da medicina. Caso contrário, a cirurgia pode ser reduzida a uma prática técnica de especialidade e ficar vulnerável à perda de identidade e ao deslocamento da tomada de decisões relativas à prestação de cuidados operatórios.

A liderança cirúrgica deve ser orientada para o futuro, aplicando lições do passado para as circunstâncias ainda por vir. No seu melhor, a liderança cirúrgica envolve a criação de um futuro positivo pela comunicação da ideia de que o comportamento cooperativo da equipe cirúrgica alcança sempre melhores resultados do que o comportamento individual ou automotivado do cirurgião atuando isoladamente.

Em tempos de pandemia, em especial, espera-se dos cirurgiões uma postura de liderança ativa no enfrentamento dos complexos problemas que atingem suas atividades conduzidas em equipes, principalmente as relacionadas ao enfrentamento de crises. Como um primeiro passo para considerar a liderança cirúrgica, é importante analisar as atividades com as quais os cirurgiões estão envolvidos e depois perguntar como essas tarefas promovem a liderança.

Em medicina, uma crise é um momento decisivo em uma doença aguda, quando esta tem uma alteração súbita de agravamento. Em termos mais amplos, a crise é uma conjuntura ou um momento perigoso, difícil ou decisivo. Uma crise sempre apresenta características de imprevisibilidade, ameaça à vida e urgência pela compressão de tempo.

Há um reconhecimento em organizações de alto risco, como hospitais, de que a liderança é essencial para o desempenho eficiente e seguro de equipes médicas. No entanto, há poucos estudos e evidências empíricas que identifiquem competências de liderança específicas e comportamentos associados ao exercício de liderança no trabalho dos cirurgiões durante as cirurgias realizadas em épocas de crise e pandemia.

Nesse sentido, este capítulo visa esclarecer o conceito de liderança, sob o ponto de vista do trabalho do cirurgião, bem como analisar as habilidades necessárias ao desenvolvimento eficaz da competência de liderança dos cirurgiões, em especial, em tempos de crise. A literatura sobre gestão indica que há questões a serem pensadas em todos os âmbitos em que se precise de líderes, como:1

  • é possível desenvolver líderes?
  • os esforços justificam os ganhos dessa tarefa?
  • os resultados desses esforços são medidos adequadamente?
  • os cirurgiões, enquanto líderes, são tão importantes como se pensa que são?
  • e os seguidores?
  • ensiná-los bem, agora, não é tão importante quanto ensinar boa liderança aos cirurgiões?

Essas são questões relevantes para se pensar, dadas as dificuldades dos cirurgiões líderes na apreciação de seus seguidores. As respostas a essas questões podem indicar a criação de alternativas aos modelos existentes e às maneiras de ensinar liderança, que considerem as circunstâncias do século XXI, em especial, aos cirurgiões.2

Cabe destacar que este capítulo não busca relacionar a competência de liderança diretamente com quaisquer resultados relativos à melhora da saúde dos pacientes ou a medidas de desempenho da equipe cirúrgica. Seu intuito visa sugerir, descrever e analisar as habilidades de liderança apresentadas pelos cirurgiões, em especial, em momentos de crise.

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