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ESTIMULAÇÃO DO NERVO VAGO PARA O TRATAMENTO DE DEPRESSÃO RESISTENTE

Marcelo Neves Linhares

Jaqueline Leotte

Ricardo Guarnieri

Melina Moré Bertotti

Estimulação do nervo vago para o tratamento de depressão resistente - Secad

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever as bases fisiológicas da estimulação do nervo vago (ENV);
  • reconhecer as possibilidades de tolerância da ENV, bem como sua eficácia;
  • identificar casos em que a ENV é adequadamente indicada.

Esquema conceitual

Introdução

A depressão é uma doença global que afeta mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo.1 Embora não haja uma definição padrão para a depressão resistente ao tratamento (DRT), ela pode ser caracterizada como uma depressão não responsiva a dois ou mais antidepressivos, usados em doses apropriadas e por tempo adequado.1

Estima-se que de 25 a 30% dos pacientes com depressão sofrem de DRT, e o tratamento é um desafio para os profissionais da saúde mental.1,2

A ENV é um dos tratamentos indicados para DRT. Inicialmente, essa técnica foi desenvolvida para tratar epilepsia refratária; porém, observou-se que pacientes submetidos a esse procedimento apresentavam também melhora dos sintomas depressivos associados.3 A explicação para essa melhora está no fato de que a ENV altera a concentração de noradrenalina, epinefrina e serotonina no liquor, além de modular as regiões do sistema nervoso central (SNC), responsáveis por doenças do humor.3,4

Contudo, é raro os psiquiatras considerarem o uso de tratamentos cirúrgicos, mesmo quando são minimamente invasivos e reversíveis, como a ENV. É provável que o baixo número de indicações cirúrgicas deva-se ao fato de estudos iniciais que envolvem sistemas de neuromodulação terem falhado em produzir resultados claros quanto à eficácia da terapêutica em casos de DRT e à exigência de acompanhamento multidisciplinar em casos com indicação de ENV, incluindo avaliação com psiquiatras e neurocirurgiões, equipes essas que apenas foram criadas em tempos mais recentes.3

Apesar deste panorama, permaneceram restritas as opções de tratamento biológico com base em evidências para o tratamento da DRT que não fosse a eletroconvulsoterapia (ECT).5 Em contrapartida, foram observadas evoluções importantes nos estudos desenvolvidos ao longo dos últimos 20 anos, os quais têm demonstrado que a ENV é uma opção terapêutica segura, cuja eficácia apresenta efeito cumulativo e mantido em longo prazo em pacientes para os quais era difícil obter previamente resposta prolongada e/ou remissão.1,3,5

Embora estejam documentadas especificações de critérios mínimos para a indicação de tratamento neurocirúrgico de doenças psiquiátricas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a ENV no Brasil, no contexto do tratamento da DRT, é muito recente no quadro de opções terapêuticas dessa doença, e, com isso, não existe um protocolo definido de indicação ou até mesmo de parâmetros de estimulação. Porém, com os progressivos resultados positivos de eficácia e sustentabilidade do tratamento da DRT com a ENV na literatura, existe uma tendência de consolidação do método como opção terapêutica segura em casos refratários aos tratamentos tradicionais indicados pela psiquiatria.

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