- Introdução
O descolamento da retina consiste na separação da retina neurossensorial do epitélio pigmentar subjacente, com acúmulo de líquido nesse espaço virtual.
Foi Jules Gonin quem desenvolveu a teoria revolucionária sobre a patogênese e o tratamento do descolamento regmatogênico da retina (rhegma = fissura ou rasgo) que, até hoje, é aplicada na prática oftalmológica. Gonin enfatizou o papel da rotura retiniana na gênese do deslocamento e ponderou a necessidade de bloqueá-la para se obter sucesso cirúrgico. Na mesma época, surgiu a preocupação com a sua profilaxia.1
A incidência de descolamento da retina na população em geral é de 1:10 mil pessoas por ano, o que não é considerado elevado. A incidência aumenta de 1 a 3% em olhos traumatizados ou submetidos à cirurgia de catarata. Em pacientes que já tiveram descolamento em um dos olhos, a incidência chega a 5%. Quando se incluem lesões predisponentes, o risco de descolamento no segundo olho sobe para 10%. Aproximadamente, 40 a 55% dos descolamentos da retina acontecem em olhos míopes, 30 a 40% são afácicos e 10 a 20% sofreram trauma direto e a prevalência estimada na população em geral é de 0,3%.1
Os estudos clínicos e histopatológicos em olhos de cadáveres mostram uma incidência relativamente alta de roturas retinianas, que afetam uma em cada 10 pessoas. Isso contrasta com a baixa incidência de descolamento de retina, o que significa que nem todas as roturas levam ao descolamento. Considerando apenas esse aspecto, o tratamento profilático seria pouco indicado.1
Entretanto, analisando a gravidade do dano visual (10 a 15% dos casos, mesmo com intervenções múltiplas, podem resultar em insucesso funcional) e a acuidade visual (que atinge 20/50, ou seja, é atingida em apenas metade dos casos em reaplicação anatômica da retina), não há dúvidas quanto à indicação do tratamento profilático.1
Considerando o alto custo social e pessoal decorrente de cegueira secundária do descolamento da retina, é fundamental avaliar e interpretar com profundidade o significado do tratamento profilático e, principalmente, correlacionar custo-benefício com os fatores predisponentes.1
- Objetivos
Ao final de leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer as diferentes patologias da periferia da retina;
- descrever as características morfológicas e etiopatogênicas do descolamento de retina;
- avaliar o significado clínico e definir a conduta em cada caso.
- Esquema conceitual