- Introdução
O leite de vaca é uma importante fonte de proteína de alto valor biológico. Contém, também, vitaminas (A, D, E e do complexo B) e minerais (cálcio, fósforo, magnésio, zinco e selênio). O consumo habitual do leite de vaca é importante para atender as recomendações nutricionais de cálcio. O consumo de leite desnatado e de laticínios com menor teor de gordura representa menos de 10% do consumo de produtos lácteos no Brasil e ocorre predominantemente nos grupos com maior renda.1
De acordo com a pirâmide alimentar adaptada à população brasileira, indica-se o consumo diário de três porções de lácteos para atingir as recomendações de ingestão de cálcio e proteínas. Por exemplo, 200mL de leite corresponde a uma porção.1
Quanto à composição, 87% do leite de vaca é constituído por água. Os componentes sólidos são os seguintes: 5% de carboidratos (lactose), 3% de proteínas (vários tipos, sendo as mais abundantes as caseínas, a betalactoglobulina e a alfalactoalbumina) e 3% de lipídeos (70% com ácidos graxos saturados). Um litro de leite contém aproximadamente 1.200mg de cálcio.1 A população brasileira está aumentando o consumo de produtos lácteos; no entanto, a ingestão é inferior ao recomendado internacionalmente.1
A priori, o leite de vaca pode ser consumido em todas as faixas etárias, exceto no lactente. A alimentação ideal para o lactente é o leite de sua mãe, que deve ser oferecido exclusivamente até o 6º mês de vida e associado com outros alimentos até os 2 anos de idade ou mais.2 Foge ao escopo deste capítulo descrever as inúmeras vantagens do aleitamento natural em relação ao aleitamento artificial.2
O lactente não alimentado com o leite de sua mãe não deve receber leite de vaca integral,2 apesar de isso ocorrer com muitos lactentes brasileiros.3,4 Na situação de interrupção precoce do aleitamento natural, que infelizmente ainda é comum em muitas regiões do mundo, os lactentes devem ser alimentados com fórmulas infantis.2 A maioria das fórmulas infantis contém proteínas do leite de vaca com adequação da relação entre proteínas do soro e caseína e maior quantidade de lactose em relação ao leite de vaca, além de fortificação com ferro.4
Também foge do escopo deste capítulo abordar detalhes sobre outros constituintes e dos avanços que vêm ocorrendo na composição das fórmulas infantis. De acordo com informações disponíveis na literatura brasileira, cerca de 77% das crianças brasileiras com idade entre 1 e 7 anos consome leite de vaca integral todos os dias.4
Apesar da sua inquestionável importância na nutrição humana, o leite de vaca e seus derivados podem ser responsáveis diretos por diferentes tipos de reações adversas. As reações adversas aos alimentos podem ser classificadas em intolerância e hipersensibilidade.5–8
A intolerância é ocasionada pelo efeito tóxico (por exemplo, toxinas bacterianas), farmacológico (por exemplo, cafeína) ou metabólico (por exemplo, lactose e outros carboidratos não absorvidos). A lactose é o principal componente do leite de vaca que pode causar intolerância. Os sintomas são dependentes, basicamente, do efeito osmótico da lactose na luz intestinal e de sua fermentação.5–8
Por outro lado, a alergia às proteínas do leite de vaca (APLValergia às proteínas do leite de vaca) resulta de uma resposta imunológica anormal desencadeada pelo componente proteico do leite de vaca. A APLValergia às proteínas do leite de vaca pode envolver mecanismos de reposta imunológica celular (reação tardia) ou mediada pela imunoglobulina E (imediata ou IgE mediada).5–8 Neste capítulo, discutem-se a intolerância à lactose e a APLValergia às proteínas do leite de vaca.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer os mecanismos e a apresentação clínica das reações adversas ao leite de vaca;
- diferenciar o quadro clínico da intolerância à lactose e da APLValergia às proteínas do leite de vaca na criança;
- estabelecer o diagnóstico e orientar o tratamento da APLValergia às proteínas do leite de vaca em pediatria;
- estabelecer o diagnóstico e orientar o tratamento da intolerância à lactose em pediatria.
- Esquema conceitual