Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer o papel biológico das principais vitaminas;
- identificar as recomendações das necessidades diárias de vitaminas propostas para o recém-nascido pré-termo (RNPT);
- reconhecer a influência do status das vitaminas na gestante no status do RNPT;
- identificar a importância da administração precoce de vitaminas na nutrição parenteral e da otimização da dieta enteral;
- compreender os efeitos do déficit e da toxicidade das principais vitaminas;
- avaliar criticamente e propor um esquema de suplementação de vitaminas individualizado, durante a internação e após a alta, de acordo com as características da população atendida e dos compostos disponíveis no seu serviço.
Esquema conceitual
Introdução
As vitaminas são nutrientes essenciais, requeridos em pequenas quantidades, que atuam predominantemente como coadjuvantes nas reações enzimáticas para manter o metabolismo intermediário.1,2
Existem 13 nutrientes classificados como vitaminas — quatro são lipossolúveis (A, D, E e K) e nove são hidrossolúveis (C e oito do complexo B). Todos são essenciais para manter a homeostase e a função metabólica fisiológica.1
As vitaminas hidrossolúveis são transferidas ativamente pela placenta, garantindo níveis mais elevados para o feto, mas elas não são armazenadas; por isso, seus níveis caem rapidamente. As vitaminas lipossolúveis atravessam a placenta por difusão simples ou facilitada, e, por esse motivo, os níveis fetais dependem dos níveis maternos na gestação.1
Os RNPTs apresentam necessidades aumentadas de vitaminas para o crescimento e têm baixos estoques corporais, pois nascem antes que essas reservas sejam formadas, no terceiro trimestre de gestação. Além disso, a oferta desses nutrientes, por via parenteral ou enteral, frequentemente é limitada por vários fatores. O status corporal fisiológico das vitaminas influencia diretamente o crescimento físico, o desenvolvimento neuropsicomotor e o sistema imunológico dos RNPTs.1,2
Em um primeiro momento, muitos desses RNPTs vão necessitar desses nutrientes por via parenteral, em decorrência de sua imaturidade e de adaptações fisiológicas, cardiovascular, respiratória e metabólica nas primeiras horas. É essencial, no entanto, a introdução precoce e adequada da nutrição enteral para favorecer o desenvolvimento das funções digestivas e metabólicas.1
O leite humano (LH) é o alimento adequado e contribui significativamente na ofera dos nutrientes necessários nessa faixa etária, em especial, de proteínas e vitaminas. No entanto, existe um déficit de minerais, como ferro e zinco em sua composição, apesar de sua boa biodisponibilidade, além de muitos nutrientes do LH serem dependentes da dieta materna e de sua reserva orgânica, incluindo as vitaminas A, B1, B2, B6, B12 e D.3
A carência de vitaminas é um fator de risco para o adoecimento e interfere no aumento da incidência de morbidade e mortalidade dos RNPTs, especialmente naqueles de muito baixo peso ao nascer (<1.500g). Nesse contexto, a suplementação de vitaminas, nesse grupo, está indicada para suprir as necessidades recomendadas de ingestão diária e prevenir deficiências.
Há poucos estudos, no entanto, sobre a suplementação rotineira de vitaminas para RNPTs. As recomendações são oriundas de relatórios de especialistas (nível C de evidência) da Academia Americana de Pediatria (AAP), da Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com algumas diferenças entre elas em relação às doses e ao tempo de suplementação.4–6