- Introdução
O câncer de bexiga é a neoplasia mais comum do trato urinário e, em 90% dos casos, é representado pelo subtipo histológico carcinoma urotelial. Cerca de 25% dos pacientes apresentam doença musculoinvasiva ao diagnóstico, uma condição que confere mortalidade específica estimada por câncer em 5 anos entre 37 e 67%.1
A cistectomia radical com linfadenectomia pélvica bilateral é considerada o pilar do tratamento no câncer de bexiga musculoinvasivo e não invasivo de alto risco resistente à terapia intravesical.2 A despeito da cirurgia radical, a recorrência a distância ocorre com frequência, sugerindo doença micrometastática ao momento do diagnóstico. Dessa forma, o uso perioperatório de tratamentos sistêmicos vem ganhando força com o passar dos anos.3,4
Historicamente, em 1993, a cisplatina foi o primeiro quimioterápico aprovado pelo Food and Drug Administration para uso no câncer de bexiga e, desde então, vem sendo estudada em diferentes combinações no cenário neoadjuvante.3,4 Apesar de o uso da cisplatina estar embasado em resultados de numerosos ensaios clínicos e metanálises que reportaram benefício com a quimioterapia (QTquimioterapia) pré-operatória em sobrevida global com nível 1 de evidência, a baixa aderência por parte da comunidade médica limitou por muito tempo o seu uso, fazendo com que apenas uma minoria dos pacientes tivesse acesso ao tratamento sistêmico previamente à cirurgia.3,4 Felizmente, nos últimos anos, essa prática se expandiu em muitos centros de excelência por todo o mundo.
Embora a QTquimioterapia neoadjuvante (em inglês, neoadjuvant chemotherapy [NACquimioterapia neoadjuvante]) seja ativa, a doença residual de alto risco (pT2 ou mais) está presente em mais de 50% dos pacientes e representa um fator de mau prognóstico. Outro dado importante se relaciona ao downstaging patológico (melhora do estadiamento patológico ou resposta completa), especialmente o achado de resposta patológica completa (pT0) ao tratamento neoadjuvante, que é considerado um desfecho bem estabelecido de sobrevida global.5
Além disso, por causa da atividade dos inibidores de checkpoint imunes reportada no tratamento do carcinoma urotelial metastático, esses fármacos estão sendo avaliados também no cenário neoadjuvante, em monoterapia ou combinados à QTquimioterapia com base em platina. A adição de cursos curtos de imunoterapia pré-cistectomia radical na doença musculoinvasiva tem o potencial de se tornar uma nova estratégia para a terapia neoadjuvante.5,6
Outra área de interesse em ascensão é a avaliação do perfil genômico, uma ferramenta bastante útil para definir possíveis alterações moleculares que tenham implicações prognósticas e preditivas de resposta ao tratamento quimioterápico. Nesse último aspecto, destaca-se o impacto de mutações em genes de reparo de ácido desoxirribonucleico (DNAácido desoxirribonucleico) que podem se correlacionar com a resposta à QTquimioterapia.7
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever o tratamento sistêmico pré-operatório por meio de NACquimioterapia neoadjuvante na neoplasia musculoinvasiva de bexiga;
- avaliar a elegibilidade da NACquimioterapia neoadjuvante, assim como seus prós e contras;
- identificar as toxicidades relacionadas aos esquemas de tratamento da neoplasia musculoinvasiva de bexiga;
- analisar as perspectivas futuras relacionadas a novos fármacos e biomarcadores no cenário neoadjuvante do tratamento da neoplasia musculoinvasiva de bexiga.
- Esquema conceitual