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REPERCUSSÕES BIOMECÂNICAS NA PRÁTICA CLÍNICA: AVALIAÇÃO CINEMÁTICA

Marcelo Peduzzi de Castro

epub-PROFISIO-TRAU-C5V1_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:

  • descrever os principais aspectos da análise cinemática linear e angular;
  • identificar a aplicação e o potencial da análise cinemática bidimensional e tridimensional;
  • distinguir as especificações técnicas mais relevantes da análise de vídeo bidimensional;
  • reconhecer procedimentos de registro de imagem importantes;
  • caracterizar aspectos gerais para análise quantitativa de gestos funcionais;
  • aplicar diretrizes para realizar análise qualitativa de gestos funcionais;
  • explicar a estruturação e a aplicação de escalas subjetivas para análise qualitativa;
  • comparar características desejadas e indesejadas de movimento de gestos funcionais;
  • discutir as propriedades de medida da avalição cinemática bidimensional.

Esquema conceitual

Introdução

A investigação biomecânica pode ser dividida em interna e externa. A biomecânica interna, como o próprio nome já diz, é um método invasivo usado para a determinação das forças articulares e musculares, no qual, em geral, são implantadas pequenas células de carga nas articulações ou nos tendões musculares que medem a força presente nas estruturas. A realização de estudos para medir as forças internas é extremamente complexa, por isso eles são pouco comuns — existem aspectos éticos relevantes a serem observados.

A biomecânica externa acaba sendo a alternativa mais viável para se explorar indiretamente as forças produzidas pelo sistema musculoesquelético, viabilizando tanto o registro da ativação dos efetores do movimento (eletromiografia) e das forças causadas pelo movimento (forças de reação do solo) como a descrição do movimento (cinemetria ou cinemática).

A cinemática, por sua vez, permite que profissionais que lidam com exercício físico e reabilitação sejam capazes de influenciar o movimento, ora para prevenir lesões, ora para reabilitar disfunções ou para melhorar o desempenho.

Sistemas para análise cinemática

A análise cinemática é o método principal para a compreensão do movimento humano. Ela fornece a descrição do movimento, independentemente de quais são as forças agindo no corpo humano.1,2 Em gestos unilaterais

Diferentes sistemas podem ser usados para a análise cinemática, e os mais comuns são listados a seguir.

  • Eletrogoniômetro: consiste em um potenciômetro que permite a medição dos ângulos articulares.
  • Acelerômetro: consiste em um transdutor de força que mede a força de reação associada com uma dada aceleração.
  • Videogrametria: consiste no uso de câmeras de vídeo utilizadas para registrar as imagens do movimento realizado. São necessárias, pelo menos, duas câmeras de vídeo, simultaneamente, filmando o gesto de ângulos diferentes. Assim, o método possibilita calcular as coordenadas tridimensionais (3D) de marcadores de interesse posteriormente digitalizados em cada imagem.
  • Sistema de vídeo bidimensional (2D): consiste no uso de uma câmera de vídeo para registrar imagens de um determinado gesto. As imagens devem ser registradas perpendicularmente ao plano de movimento de interesse e, posteriormente, serão processadas com digitalização de marcadores de referência para permitir extração de parâmetros de interesse.
  • Sistema optoeletrônico: é considerado, atualmente, o padrão-ouro para análise cinemática. Esse sistema registra as coordenadas de marcadores reflexivos fixados em pontos anatômicos específicos ao longo do corpo. Com base nas coordenadas de cada marcador, as coordenadas dos segmentos corporais são calculadas, sendo possível fazer a reconstrução do movimento.

Embora o uso de eletrogoniômetros e acelerômetros apresente algumas aplicações específicas, para a análise de gestos funcionais, a análise de vídeo 2D, a videogrametria e os sistemas optoeletrônicos são mais indicados e amplamente utilizados.

Em relação à acelerometria, o erro de medida presente nesse sistema é substancialmente maior em comparação aos outros, por isso ele acaba ficando em desvantagem quando análises mais precisas, como aquelas empregadas na prática do exercício físico ou na prática clínica, são necessárias.

A análise de vídeo 2D, devido ao seu baixo custo e à fácil implementação, é o método mais facilmente aplicado na prática clínica. Dada a proposta deste capítulo, a análise de vídeo 2D e os sistemas optoeletrônicos serão apresentados com mais detalhes, já que esses métodos propiciam a análise cinemática linear e angular do movimento humano.

Análise cinemática linear

Movimento é a mudança de posição em relação a alguma referência. Matematicamente, movimento linear é a posição final menos a posição inicial de um segmento.

A cinemática permite que se conheçam as coordenadas posicionais de pontos anatômicos ou segmentos corporais específicos; com o conhecimento dessas coordenadas, é possível calcular vários parâmetros lineares, como a distância percorrida, a velocidade e a aceleração, o que proporciona uma análise de aspectos espaço-temporais do movimento.

Para ilustrar um exemplo de parâmetro linear, ao analisar a aterrissagem de um salto, pode-se utilizar um marcador na região da crista ilíaca (o qual estima o centro de massa corporal) e calcular, a partir da diferença temporal entre o primeiro contato do pé ao solo e a posição inferior máxima do marcador, o tempo de desaceleração da aterrissagem (Figura 1). Esse parâmetro permite inferências em relação à estratégia de aterrissagem.

FIGURA 1: Tempo de desaceleração. A) Contato inicial. B) Máxima flexão do joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Outro exemplo de parâmetro linear será ilustrado para o agachamento no plano frontal (Figura 2). Pode-se colocar um marcador em cada joelho e calcular a distância entre os marcadores durante a posição inicial (postura ereta) e a posição final (máxima flexão de joelho). Essa medida é uma indicação indireta da magnitude do ângulo de projeção do joelho no plano frontal (valgo/colapso medial). Esse parâmetro permite inferir sobre a qualidade do movimento (Figura 3).

FIGURA 2: Colapso medial do joelho. A) Posição inicial. B) Máxima flexão do joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Análise cinemática angular

Visto que a maior parte dos movimentos humanos ocorre pela interação entre dois segmentos corporais por meio de uma articulação, a cinemática angular é aplicada, principalmente, na análise do movimento humano.

Os movimentos articulares podem ser descritos utilizando-se uma, duas ou três rotações. Comumente, na análise de gestos funcionais, o objetivo é verificar a posição articular ou a amplitude dos movimentos (ADM) articulares; assim, analisa-se um conjunto entre dois segmentos.

Por exemplo, para saber o ângulo do tornozelo no plano sagital (dorsi/plantiflexão), é necessário definir o segmento pé e o segmento perna, assim como onde é o centro de rotação da articulação (Figura 3A). Alteração na posição, tanto do segmento distal (pé) quanto do segmento proximal (perna), alterará o ângulo do tornozelo.

Assim, enquanto em pé, se o indivíduo puxar o pé para cima, mantendo o calcanhar na superfície de apoio, ocorrerá uma dorsiflexão do tornozelo (Figura 3B); da mesma forma, se mantiver o pé fixo na superfície e fazer um squat (com anteriorização da perna), também ocorrerá uma dorsiflexão do tornozelo (Figura 3C).

FIGURA 3: Dorsiflexão do tornozelo. A) Posição inicial. B) Movimento do segmento proximal (perna). C) Movimento do segmento distal (pé). // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Na primeira situação descrita, a dorsiflexão ocorreu por meio do movimento do segmento distal (pé), ao passo que, na segunda situação, a dorsiflexão ocorreu em razão do movimento do segmento proximal (perna). Conhecendo a posição de ambos os segmentos, pode-se calcular as ADMs, as velocidades e as acelerações articulares (angulares).

Análise cinemática bidimensional (2D) e tridimensional (3D)

A análise cinemática pode ser realizada em duas dimensões (2D — x, y) ou em três dimensões (3D — x, y, z).

A cinemática 2D permite explorar somente um plano de movimento por vez, ou seja, é possível analisar, individualmente, ou o plano sagital, ou o plano frontal ou o plano transverso. A cinemática 2D apresenta três graus de liberdade: dois lineares e um angular

Por exemplo, a análise cinemática 2D de um agachamento no plano sagital possibilita, após serem definidos os segmentos coxa e perna, que se identifiquem o ângulo de flexão/extensão do joelho (Figuras 4A e B) e seu movimento linear.

Como exemplo de movimento linear do joelho, considera-se o marcador que representa o centro de rotação do joelho e calcula-se o deslocamento anteroposterior e inferossuperior da articulação (Figuras 4C e D), totalizando três graus de liberdade.

FIGURA 4: Cinemática 2D — 3 graus de liberdade. A) Posição neutra. B) Movimento de flexão do joelho (plano sagital — um grau de liberdade). C) Centro de rotação do joelho. D) Deslocamento anterior e inferior do joelho (dois graus de liberdade). // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Já a análise cinemática 3D, como visto, pode fornecer informações sobre os três planos de movimento, viabilizando a observação de seis graus de liberdade — três deles referentes aos movimentos lineares (deslocamento mediolateral, anteroposterior e inferossuperior) e os outros três referentes aos movimentos angulares (flexão e extensão, abdução e adução e rotação interna e externa). No entanto, de maneira geral, explora-se, principalmente, os movimentos angulares.

Será utilizado o mesmo exemplo apresentado anteriormente — o comportamento do joelho durante o agachamento. Com a análise 3D, pode-se observar o movimento do joelho nos três planos de movimento: flexão e extensão, abdução e adução e rotação interna e externa (Figuras 5A e B).

FIGURA 5: Cinemática 3D. A) Ilustração 3D do movimento. B) Gráfico representando os 3 graus de liberdade dos movimentos angulares. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

ATIVIDADES

1. Quantos planos de movimento a análise cinemática 2D permite explorar por vez?

A) Um.

B) Dois.

C) Três.

D) Quatro.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "A".


A análise cinemática 2D permite somente analisar um plano de movimento por vez. Para analisar mais de um plano, é necessária a análise cinemática 3D.

Resposta correta.


A análise cinemática 2D permite somente analisar um plano de movimento por vez. Para analisar mais de um plano, é necessária a análise cinemática 3D.

A alternativa correta e a "A".


A análise cinemática 2D permite somente analisar um plano de movimento por vez. Para analisar mais de um plano, é necessária a análise cinemática 3D.

2. Quantos marcadores são necessários para calcular o ângulo do joelho no plano sagital utilizando cinemática 2D?

A) Dois.

B) Três.

C) Quatro.

D) Seis.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "B".


São necessários três marcadores. Tipicamente se utiliza o trocânter maior do fêmur, o epicôndilo lateral do fêmur (centro de rotação) e o maléolo lateral da tíbia.

Resposta correta.


São necessários três marcadores. Tipicamente se utiliza o trocânter maior do fêmur, o epicôndilo lateral do fêmur (centro de rotação) e o maléolo lateral da tíbia.

A alternativa correta e a "B".


São necessários três marcadores. Tipicamente se utiliza o trocânter maior do fêmur, o epicôndilo lateral do fêmur (centro de rotação) e o maléolo lateral da tíbia.

3. A análise cinemática 2D permite avaliar os seguintes movimentos do quadril, se for analisado o plano frontal:

A) flexão e extensão.

B) rotação interna e externa.

C) abdução e adução.

D) nenhuma das alternativas anteriores.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "C".


O plano frontal, ou vista anterior, permite analisar os movimentos de abdução e adução do quadril; para os movimentos de flexão e extensão, seria necessário o plano sagital; e para as rotações, o plano transverso.

Resposta correta.


O plano frontal, ou vista anterior, permite analisar os movimentos de abdução e adução do quadril; para os movimentos de flexão e extensão, seria necessário o plano sagital; e para as rotações, o plano transverso.

A alternativa correta e a "C".


O plano frontal, ou vista anterior, permite analisar os movimentos de abdução e adução do quadril; para os movimentos de flexão e extensão, seria necessário o plano sagital; e para as rotações, o plano transverso.

Análise de vídeo 2D

O uso de câmeras de vídeo para analisar o movimento humano é o método mais comum na prática do exercício físico e na prática clínica. Serão apresentadas, a seguir, as especificações técnicas mais relevantes sobre câmeras de vídeo e os procedimentos de coleta de dados que merecem mais atenção, bem como conceitos importantes e as principais etapas para análises quantitativas e qualitativas de gestos funcionais.

Especificações técnicas

Existem vários aspectos técnicos que devem ser considerados para análise de vídeo; alguns dos principais serão apresentados aqui: a resolução, a frequência de amostragem e a velocidade de abertura da lente.

Resolução (qualidade da imagem)

Uma imagem é composta por duas dimensões de linhas de pontos, chamados de pixels. Uma dimensão representa os pixels horizontais; a outra, os pixels verticais. O número de pixels horizontais e verticais representa a resolução da imagem e, consequentemente, a sua qualidade.

Quanto maior o número de pixels, menor será o seu tamanho; quanto menor o tamanho do pixel, melhores serão a definição e a qualidade da imagem. A resolução é bastante influenciada pela característica do sensor de imagem, o qual converte a luz de um objeto em um sinal elétrico.

Um aspecto importante a se considerar quando se digitaliza uma imagem é o tamanho do pixel em relação ao marcador. Idealmente, o pixel deve ser pequeno o suficiente para que o marcador represente adequadamente o ponto anatômico em questão. De maneira geral, a resolução da maioria das câmeras comerciais é suficiente para realizar análise cinemática.

Frequência de amostragem

Em relação a imagens de vídeo, um quadro (ou frame) refere-se a uma imagem capturada em um instante de tempo. A frequência de amostragem consiste no número de quadros capturados em um segundo. A maioria das câmeras convencionais apresenta uma frequência de amostragem de 30Hz — isso significa que, no período de um segundo, são capturados 30 quadros. Existem câmeras de vídeo de alta velocidade, capazes de registrar a mais de 2.000Hz. Por curiosidade — e para comparação —, a frequência de amostragem do olho humano situa-se entre 10 e 25Hz.

A seleção da frequência de amostragem é baseada na velocidade do gesto e no nível de detalhe que a análise necessita. Por exemplo, para um agachamento realizado a uma cadência de 30bpm (dois segundos para subir e dois para descer), o uso de uma câmera a uma frequência de amostragem de 30Hz permite registrar 60 quadros (1s = 30 quadros; 2s = 60 quadros) na fase ascendente e 60 na fase descendente; parece, assim, um conjunto de informação suficiente para representar o fenômeno analisado.

Por outro lado, para analisar a aterrissagem unilateral em que a fase de desaceleração compreende, aproximadamente, a 0,1s (100ms), a utilização da mesma câmera (30Hz) permitiria o registro de somente três quadros (30Hz x 0,1s) para representar o fenômeno — dependendo da precisão que se espera para a análise, três quadros podem não ser suficientes.

Ao se utilizar uma câmera com uma frequência de amostragem de 200Hz, 20 quadros seriam registrados representando a fase de desaceleração da aterrissagem (200Hz x 0,1s). Caso uma câmera com frequência de amostragem de 1.000Hz fosse utilizada, 100 quadros seriam registrados. Recomenda-se, para gestos lentos, como o agachamento ou a caminhada, frequências entre 25 e 50Hz; já para gestos rápidos, essas frequências devem ser superiores a 100Hz.

Shutter (velocidade de abertura da lente)

O shutter é o componente da câmera que controla a quantidade de tempo em que o sensor de imagem é exposto à luz. A maioria das câmeras atualmente tem shutter eletrônico, o que possibilita a ativação e a desativação por períodos específicos. Quando velocidades lentas de shutter são utilizadas, o sensor de imagem fica exposto à luminosidade por um período relativamente longo, podendo deixar a imagem um tanto desfocada. Em geral, a velocidade do shutter varia entre 1/60 à ¼.000 de segundo.

A seleção do shutter dependerá, principalmente, da velocidade do movimento a ser analisado e das condições de luminosidade. Para gestos lentos, como o step-down e o squat, velocidades de shutter entre 1/150 e 1/250 por segundo são suficientes. Já para gestos mais rápidos, como saltos, velocidades entre 1/350 e 1/750 de segundo são recomendadas.

Procedimentos de registro de imagens

Para análise cinemática quantitativa, uma série de procedimentos deve ser realizada para minimizar erros sistemáticos durante a filmagem e durante o processamento das imagens. Mesmo quando a análise for qualitativa, muitos dos procedimentos descritos ainda devem ser considerados. A seguir, são listados alguns destes na análise cinemática 2D.

  • Montar a câmera em um tripé estável e evitar qualquer tipo de movimento: para as análises quantitativas, é fundamental a câmera não se movimentar, sobretudo naquelas em que um calibrador é utilizado. Caso haja movimento, o sistema de referência (calibrador) é afetado, gerando erro de medida.
  • Maximizar a distância entre a câmera e o indivíduo: a distância deve permitir que todo o gesto seja registrado. Além disso, quanto mais longe estiver a câmera, menor será o erro de perspectiva causado por movimentos fora do plano de análise.
  • Maximizar o tamanho da imagem: para aumentar a precisão da digitalização, deve-se deixar a imagem da pessoa o maior possível, ou seja, a fim de que registre todo o gesto e que não “sobre” imagem irrelevante para a análise. Se a câmera estiver distante, deve-se utilizar o zoom que deixe a imagem o maior possível.
  • Alinhar o eixo óptico da câmera perpendicularmente ao plano de movimento: os movimentos realizados no plano de análise não serão sujeitos a erro de perspectiva desde que a câmera esteja alinhada perpendicularmente ao plano de movimento. Caso o alinhamento não esteja correto, o erro de perspectiva estará presente.

O programa para análise dos vídeos, idealmente, deve permitir a passagem do vídeo não somente em tempo real, mas também em slow motion e, sobretudo, quadro a quadro.

Análise quantitativa de gestos funcionais

A análise cinemática quantitativa pode ser 2D ou 3D. Na análise 2D, assume-se que o movimento está sendo realizado em um único plano de movimento. Qualquer medida realizada fora desse plano de movimento está sujeita a erro de perspectiva, diminuindo sua precisão. Os gestos funcionais são, em sua maioria, triplanares, ou seja, acontecem movimentos nos três planos de movimento.

A análise 2D permite somente a análise de um plano de movimento por imagem, e quanto maiores forem os movimentos nos outros planos, maior será a possibilidade de erro de medida no plano que está sendo analisado (Figuras 6A–C). A análise 3D possibilita a eliminação do erro de perspectiva, mas é uma abordagem substancialmente mais complexa. Por outro lado, ela conta com o efeito cross-talk, que se refere ao cálculo de um movimento como se fosse outro, o que é relevante principalmente na articulação do joelho.

Por exemplo, durante o agachamento unilateral, em que existem amplitudes relevantes de flexão do joelho, pequenas alterações no eixo longitudinal dos segmentos (coxa ou perna) farão movimentos de adução–abdução ou rotação interna–externa do joelho estarem presentes, mesmo quando eles não estiverem.

FIGURA 6: Inclinação do tronco durante o agachamento unilateral. A) Inclinação na posição neutra. B) Inclinação do tronco na flexão máxima do joelho. C) Inclinação do tronco associada à componente relevante de rotação ipsilateral do tronco. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Digitalização

A análise quantitativa requer o uso de digitalização das imagens, que consiste em informar o programa de análise em que estão as estruturas anatômicas necessárias para a análise. De maneira geral, pequenas esferas ou fita adesiva são colocadas em pontos-chave anatômicos. No processo de digitalização, geralmente um clique do mouse é utilizado nas marcas para indicar ao programa que aquele pixel representa um ponto anatômico de interesse.

Por exemplo, para analisar o ângulo de adução do quadril durante um agachamento unilateral com o membro inferior direito, o indivíduo foi filmado no plano frontal anterior com três marcas coladas: espinhas ilíacas anterossuperiores (EIASs) direita e esquerda e uma marca alguns centímetros acima do joelho (Figura 7A).

Considerando que o segmento pelve é representado por uma reta ligando as duas EIASs e o segmento fêmur é representado pela EIAS direita e pela marca acima do joelho, a digitalização desses três pontos fornece a determinação do ângulo de adução do quadril (Figura 7B).

FIGURA 7: Digitalização dos segmentos pelve e coxa no plano frontal. A) Posição inicial. B) Posição de máxima flexão do joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Se o objetivo é analisar todo o gesto, pode-se supor que foram realizadas três repetições do agachamento unilateral a uma cadência de 30bpm e com registro a 30Hz (câmera convencional). Assim, a análise duraria 12s (cada squat dura 4s); 12s a uma frequência de amostragem de 30Hz significa 360 quadros (12s x 30Hz).

Visto que há três pontos anatômicos de referência necessários para o cálculo do ângulo do quadril no plano frontal, seriam necessárias três marcações (ou cliques) em cada quadro, totalizando 1.080 cliques para obter o comportamento do quadril no plano frontal durante três repetições de agachamento unilateral.

O tempo que levaria para realizar o processamento poderia inviabilizar tais análises na prática clínica. Assim, um procedimento frequentemente adotado é a determinação de eventos principais. Esses eventos devem ser representativos dos principais instantes ou componentes a serem analisados do gesto. Por exemplo, durante a aterrissagem unilateral, dois eventos são comumente analisados: o primeiro contato do pé ao solo — que fornece informação acerca da posição dos membros inferiores e do tronco durante o início da descarga de peso (Figura 8A); e o instante de máxima flexão do joelho — que representa a fase de maior sobrecarga articular (Figura 8B).

FIGURA 8: Detecção de eventos durante a aterrissagem unilateral. A) Posição inicial. B) Posição final. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Uma opção para reduzir o tempo de processamento das imagens quando o objetivo é analisar o gesto inteiro é a digitalização semiautomática, encontrada na maioria dos programas para processamento de imagem. No Kinovea, por exemplo, essa função é encontrada na opção “seguir caminho”. Ela permite que, ao identificarmos o marcador em um quadro, o programa identifique automaticamente os marcadores nos quadros seguintes. Para isso acontecer, deve haver um bom contraste entre o marcador e a região marcada. Caso contrário, a rotina de detecção automática será incapaz de seguir o caminho do marcador.

Análise qualitativa de gestos funcionais

Todos os envolvidos com treinamento ou reabilitação musculoesquelética realizam análise de movimento qualitativa (subjetiva) em suas práticas diárias. A análise qualitativa é aquela em que não há quantificação de posturas ou movimentos; há somente a observação do gesto.

A avaliação qualitativa pode ser dividida em duas abordagens: análise qualitativa em tempo real e análise qualitativa por vídeo.

Análise qualitativa em tempo real

É usada pelos profissionais do movimento humano diariamente, em academias ou clínicas, no sentido de corrigir padrões de movimento ou influenciar sobrecarga musculoesquelética. Aqui não é usado qualquer equipamento ou necessidade de processamento de dados; utiliza-se o sistema visual com o conhecimento em biomecânica para estabelecer as condutas. Quanto melhor for a compreensão do fisioterapeuta sobre padrões indesejados de movimento, melhor será a sua intervenção.

Um ponto desafiador da abordagem qualitativa em tempo real é a frequência de captura do sistema visual, o qual limita-se a, aproximadamente, 20Hz, e, portanto, é possível que aspectos relevantes do movimente não sejam registrados. Além disso, não há qualquer registro do movimento (além da memória), nem a possibilidade de repetição da análise ou o uso do movimento analisado para ilustrar ou dar feedback ao cliente e para uma comparação após algum tipo de intervenção.

Análise qualitativa por vídeo

Também é bastante comum na prática da análise de movimento. Aqui, o gesto a ser analisado é filmado e analisado posteriormente. A grande vantagem do registro do movimento é a possibilidade de analisar o gesto mais de uma vez, com uma frequência de amostragem maior, paradas na imagem, análise em slow-motion, etc.

O gesto registrado na análise qualitativa por vídeo pode ser usado para dar feedback ao cliente e também para comparações futuras. Nesse caso, o conhecimento em biomecânica específico sobre o gesto é a base para a tomada de decisão; não há qualquer medida objetiva guiando a análise.

Escalas subjetivas para análise qualitativa

A base da construção de escalas subjetivas é o conhecimento de posturas e padrões desejados e indesejados presentes em um dado gesto. Assim, ao observar o gesto, tanto pela análise qualitativa em tempo real quanto pela análise por vídeo, o analista é direcionado a identificar a presença ou a ausência de uma série de características. Por exemplo, um comportamento relevante a ser avaliado durante o agachamento unilateral é a inclinação ipsilateral do tronco.

Assim, um item da escala pode ser “Há inclinação ipsilateral do tronco?” Caso sim, um ponto é atribuído para o item. Os itens também podem permitir dar importância diferenciada para a magnitude da característica, por exemplo, “0 ponto” para inclinação mínima/normal”, “1 ponto” para inclinação relevante/moderada e “2 pontos” para inclinação severa. O número de itens de uma escala subjetiva pode ser tão grande quanto o número de eventos relevantes a serem analisados.

Características interessantes a serem consideradas para estruturação de uma escala subjetiva são aquelas identificadas como fatores associados ou fatores de risco de disfunções musculoesqueléticas. Os fatores associados são aquelas posturas ou movimentos identificados em pessoas com disfunção quando comparadas a pessoas assintomáticas.

Por exemplo, pessoas com disfunção patelofemoral apresentam maior rotação interna do quadril e colapso medial do joelho durante o agachamento unilateral quando comparadas a pessoas sem disfunção. Assim, a rotação interna excessiva do quadril é um fator associado à disfunção patelofemoral. É importante observar que, no caso dos fatores associados, não há relação entre causa e efeito, ou seja, eles não permitem inferir que as pessoas com aumento da rotação interna do quadril são mais susceptíveis a desenvolver disfunção patelofemoral; ainda assim, esses fatores parecem relevantes para o estabelecimento de padrões desejados de movimento.

Já os fatores de risco viabilizam o estabelecimento de relações entre causa e efeito. Por exemplo, pessoas que apresentam aumento da abdução do joelho no instante de primeiro contato do pé no solo durante a aterrissagem unilateral apresentam maior risco de romper o ligamento cruzado anterior. Assim, o aumento da abdução do joelho é um fator de risco para ruptura do ligamento cruzado anterior.

Além do conhecimento dos fatores associados e fatores de risco de disfunções musculoesqueléticas, a experiência prática e a compreensão de sobrecarga articular possibilitam o estabelecimento de itens para as escalas subjetivas relevantes na avaliação de gestos funcionais. Por exemplo, a manutenção da lordose lombar, dada a sua relação com a sobrecarga das estruturas lombopélvicas, é um parâmetro relevante a ser analisado durante o agachamento. A observação dessa postura pode, então, ser acrescentada em uma escala.

Existem várias escalas subjetivas propostas na literatura para a avaliação de diversos gestos funcionais. O fisioterapeuta pode usar uma escala subjetiva para avaliar a qualidade do movimento de um paciente em reabilitação e então determinar a abordagem terapêutica mais assertiva. Conhecer a influência do padrão cinemático na sobrecarga articular permite o estabelecimento de itens específicos e relevantes para cada análise proposta, aumentando a efetividade da abordagem terapêutica ou do treinamento.

Os resultados de uma escala subjetiva podem ser analisados por meio de duas estratégias: análise individual de cada item e criação de um índice de qualidade de movimento.

A análise individual do item possibilita o estabelecimento de abordagens específicas respectivas ao padrão identificado. Embora seja fundamental, a análise individualizada não permite uma compreensão integrativa da capacidade do indivíduo de realizar o gesto. A compilação da pontuação recebida em todos os itens possibilita a determinação de um índice geral de qualidade de movimento. Esse valor representativo do gesto é uma estratégia fácil de transmitir ao cliente os dados referentes ao seu nível de desempenho e à sua progressão em análises subsequentes.

Há, também, algumas tentativas de estabelecer, com base no índice, pontos de corte representativos de padrão desejado ou indesejado de movimento. Em outras palavras, quando o indivíduo está abaixo do índice, ele necessita melhorar o padrão de movimento. A principal crítica ao uso do índice é a não consideração das características específicas que não tenham sido contempladas de maneira satisfatória.

Por exemplo, duas pessoas podem ter o mesmo índice, mas apresentar distúrbios do movimento completamente diferentes e, portanto, necessitarem de abordagens terapêuticas distintas. Uma abordagem de análise mista, calculando o índice, mas que não deixe de explorar cada item individualmente parece ser a mais adequada.

Nos Quadros 1, 2 e 3 são apresentadas três escalas subjetivas encontradas na literatura: agachamento unilateral,3 descida do degrau4 e aterrissagem com salto;

QUADRO 1

ESCALA SUBJETIVA DO AGACHAMENTO UNILATERAL

Critério

Interpretação — para ser classificado como “bom”

A. Impressão geral ao longo das cinco repetições

Capacidade de manter o equilíbrio

Participante não perde o equilíbrio

Perturbações da pessoa

Movimento é realizado de maneira suave

Profundidade do squat

Alcança, pelo menos, 60° de flexão de joelho

Velocidade do squat

É realizado, aproximadamente, um squat a cada 2s

B. Postura do tronco

Desvio ou deslocamento lateral

Sem desvio lateral ou deslocamento do tronco

Rotação do tronco

Sem rotação do tronco

Inclinação lateral

Sem inclinação lateral

Flexão anterior do tronco

Sem flexão anterior

C. Posição da pelve

Desvio lateral da pelve

Sem desvio lateral da pelve

Rotação pélvica

Sem rotação pélvica

Inclinação anteroposterior da pelve

Sem inclinação anteroposterior da pelve

D. Articulação do quadril

Adução do quadril

Sem adução do quadril

Rotação interna do quadril

Sem rotação interna do quadril

E. Posição do joelho

Aparente valgo do joelho

Sem valgo do joelho

Posição do joelho relativa ao pé

O centro do joelho permanece no centro do pé

// Fonte: Crossley e colaboradores (2011).3

QUADRO 2

ESCALA SUBJETIVA DA DESCIDA DO DEGRAU LATERAL

Critério

Interpretação

Pontuação

Alinhamento do tronco

Alinhamento vertical

0

Inclinação lateral

1

Plano pélvico

Alinhamento horizontal

0

Drop pélvico

1

Posição do joelho

Tuberosidade da tíbia alinhada com o segundo dedo ou lateral

0

Tuberosidade da tíbial medial ao segundo dedo

1

Tuberosidade da tíbia medial a borda medial do pé

2

Total

0; 1

Bom

1; 2

Moderado

> 3

Ruim

// Fonte: Rabin e colaboradores (2016).4

QUADRO 3

ESCALA SUBJETIVA DA ATERRISSAGEM COM CONTRAMOVIMENTO

Critério

Interpretação

Pontuação

Flexão do joelho (contato inicial)

O joelho está flexionado a menos de 30° no contato inicial

1

Flexão do quadril (contato inicial)

A coxa está alinhada verticalmente com o tronco no contato inicial

1

Flexão do tronco (contato inicial)

O tronco está vertical ou estendido em relação aos quadris no contato inicial

1

Flexão plantar do tornozelo (contato inicial)

A aterrissagem inicia com o retro-pé ou com o pé plano no contato inicial

1

Posição medial do joelho (contato inicial)

O centro da patela está medial à borda medial do pé no contato inicial

1

Inclinação lateral do tronco (contato inicial)

Inclinação lateral do tronco durante o contato inicial

1

Base de apoio larga

Os pés estão posicionados com uma base mais larga do que a largura dos ombros (acrômios) no contato inicial

1

Base de apoio estreita

Os pés estão posicionados com uma base mais estreita do que a largura dos ombros (acrômios) no contato inicial

1

Posição do pé (rotação externa)

Os pés estão com rotação externa maior do que 30° entre o contato inicial e o pico de flexão do joelho

1

Posição do pé (rotação interna)

Os pés estão com rotação externa menor do que 30° entre o contato inicial e o pico de flexão do joelho

1

Simetria de contato

Um pé aterrissa antes do outro ou um pé aterrissa inicialmente com o retro-pé e o outro com o ante-pé

1

Deslocamento de flexão do joelho

O joelho flexiona menos de 45° entre o contato inicial e o pico de flexão do joelho

1

Deslocamento de flexão do quadril

Não há flexão de quadril entre o contato inicial e o pico de flexão do joelho

1

Deslocamento de flexão do tronco

Não há flexão de tronco entre o contato inicial e o pico de flexão do joelho

1

Deslocamento medial do joelho

No pico de flexão do joelho, o centro da patela está medial à borda medial do pé

1

Deslocamento articular

Suave: o participante demonstra grande deslocamento de tronco, quadril e joelho

0

Moderado: o participante demonstra algum deslocamento de tronco, quadril e joelho

1

Rígido: o participante demonstra mínimo ou nenhum deslocamento de tronco, quadril e joelho

2

Impressão geral

Excelente: o participante demonstra uma aterrissagem suave, sem movimento no plano frontal ou transverso

0

Moderado: algumas alterações

1

Ruim: o participante apresenta bastante movimento no plano frontal ou transverso, ou apresenta aterrissagem rígida com algum movimento no plano frontal ou transverso

2

Classificação

Ótima execução e baixo risco de lesão

≤5

// Fonte: Padua e colaboradores (2015).5

Análise das características de movimento de gestos funcionais

Nesta seção, serão apresentadas ilustrações de dois gestos funcionais comumente utilizados na prática clínica — agachamento unilateral (single-leg squat) e aterrissagem (drop landing) e aterrissagem com salto (drop jump) —, enfatizando as principais características a serem compreendidas durante a análise do movimento.

Parâmetros

Serão utilizados quatro parâmetros para as análises dos gestos funcionais, apresentados a seguir.

  • Posição articular: refere-se ao ângulo de uma determinada articulação ou segmento em um instante específico do gesto. Por exemplo, a posição do quadril no instante de máxima flexão do joelho durante a aterrissagem unilateral. Tal parâmetro é expresso em graus (º).
  • Amplitude de movimento (ADM): indica a quantidade de movimento ocorrido em uma determinada articulação ou segmento durante duas posições distintas. Por exemplo, para verificar a ADM de flexão do joelho durante a aterrissagem, subtrai-se o valor da posição do joelho no instante de máxima flexão pelo valor de posição do joelho no instante do primeiro contato do pé com o solo (posição final menos posição inicial). Tal parâmetro também é expresso em graus (º).
  • Forças de reação ao solo (FRSs): esse parâmetro reflete a magnitude de carga que o corpo recebe em determinado gesto. Nas ilustrações a seguir, serão apresentados valores referentes à componente vertical das FRSs. A unidade desse parâmetro é newton (N) dividido (normalizado) pelo peso corporal (PC): N/PC. Por exemplo, se o pico de FRS vertical em um dado gesto foi de 1,5 N/PC, isso significa que a pessoa recebeu uma carga vertical 50% superior ao seu peso, ou seja, 1,5 vezes o seu peso corporal.
  • Momento articular externo: esse parâmetro reflete a sobrecarga externa rotacional na articulação. Ele é expresso em newton-metro (Nm) e também é normalizado pelo peso corporal, sendo newton-metro por peso corporal (Nm/PC). Por exemplo, analisando o plano frontal do quadril durante o single leg squat, tem-se um momento externo adutor de 0,7 Nm/PC; para uma pessoa com massa de 80kg, significa que haverá uma tendência à adução de quadril de, aproximadamente, 56Nm. Como consequência, haverá um momento interno realizado pelos músculos abdutores do quadril de, no mínimo, esse valor (56 Nm) para contrabalancear o momento externo.

Gestos funcionais

A magnitude da sobrecarga imposta em cada gesto, assim como o padrão de movimento e as principais características indesejadas serão apresentadas. É importante considerar que os valores de posição articular, força e momento articular apresentados são referentes a uma pessoa, não necessariamente refletindo uma média populacional. No entanto, para propostas ilustrativas e comparativas, parece ser adequado.

Agachamento unilateral (single-leg squat)

Em gestos unilaterais, as FRSs serão dissipadas somente em um membro inferior, aumentando, assim, os momentos externos em todas as articulações periféricas do membro protagonista do gesto. Destacam-se os momentos externos nos planos frontal e transverso, que são substancialmente maiores do que nos gestos bilaterais. Como consequência, os movimentos nesses planos são mais difíceis de controlar. Além disso, também se destaca um componente de equilíbrio, tornando o grau de complexidade da tarefa maior.6–9

Um gesto amplamente utilizado na prática clínica para analisar a capacidade neuromuscular de execução de tarefas unilaterais é o agachamento unilateral (Figuras 9 e 10). Durante tal gesto, existem relevantes momentos articulares nos três planos de movimento. No quadril, as maiores magnitudes são de momento externo flexor, seguido de momento externo adutor e de rotação interna, sendo necessário recrutar músculos capazes de realizar extensão, abdução e rotação externa do quadril (Figura 11).6–9

Em relação ao joelho, o momento externo com maior magnitude também é flexor; ao passo que nos planos frontal e transverso, os momentos externos são adutor e de rotação interna, respectivamente. Sendo assim, o corpo precisa contrabalancear esses movimentos (Figura 12).6–9

Ao analisar o agachamento unilateral durante um gesto realizado com substancial estratégia de tronco no sentido de rotação e inclinação ipsilateral (Figura 10), notam-se diferenças na magnitude dos momentos externos comparativamente ao gesto realizado com padrão desejado (Figura 9). Essas diferenças acontecem com maior relevância nos planos frontal e transverso do quadril e do joelho (Figuras 11 e 12).6–9

Durante o gesto com estratégia de tronco, há um deslocamento do tronco em direção ao membro de apoio; consequentemente, o vetor da FRS aproxima-se do centro de rotação nos planos frontal e transverso. Assim, há uma diminuição do momento externo de adução e rotação internas do quadril e do joelho. Esse padrão muitas vezes está associado a uma diminuição na capacidade de produção de torque dos músculos do quadril. Sendo assim, essa estratégia permite a realização do gesto com menor necessidade de recrutamento dos abdutores e rotadores externos do quadril. Esse comportamento eventualmente sobrecarrega estruturas passivas, sendo, assim, um componente indesejado importante de ser considerado.6–9

FIGURA 9: Reconstrução 3D do agachamento unilateral. A) Posição inicial — vista frontal. B) Posição inicial — vista sagital. C) Posição final (pico de flexão) — vista sagital. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 10: Reconstrução 3D do agachamento unilateral no plano frontal. A) Normal. B) Estratégia de tronco (rotação e inclinação ipsilateral). // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 11: Momentos articulares do quadril durante o agachamento unilateral normal e com estratégia de tronco (rotação e inclinação ipsilateral). A) Plano sagital. B) Plano frontal. C) Plano transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 12: Momentos articulares do joelho durante o agachamento unilateral normal e com estratégia de tronco (rotação e inclinação ipsilateral). A) Plano sagital. B) Plano frontal. C) Plano transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor .

Outro perfil de estratégia de tronco é quando há um movimento compensatório principalmente no plano frontal, sem compensação rotacional. A seguir são apresentadas as curvas cinemáticas 3D do quadril e do joelho de um agachamento unilateral com padrão desejado e de um gesto realizado com compensação relevante do tronco no plano frontal (Figura 13).

Destaca-se a presença de uma inversão da direção dos movimentos no plano frontal (Figuras 14 e 15). Durante o gesto com estratégia de tronco ipsilateral, há uma abdução do quadril e do joelho, enquanto o padrão esperado apresenta uma pequena adução do quadril e estabilidade do joelho. Também se destaca um aumento substancial na rotação interna do quadril e rotação externa do joelho no gesto com padrão indesejado (Figuras 14 e 15).

FIGURA 13: Reconstrução 3D do agachamento unilateral no plano frontal. A) Normal. B) Estratégia de tronco (inclinação ipsilateral). // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 14: Posição articular do quadril durante o agachamento unilateral normal e com estratégia de tronco (inclinação ipsilateral). A) Plano sagital. B) Plano frontal. C) Plano transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 15: Posição articular do joelho durante o agachamento unilateral normal e com estratégia de tronco (inclinação ipsilateral). A) Plano sagital. B) Plano frontal. C) Plano transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Quando gestos unilaterais apresentam movimentos compensatórios relevantes no tronco, não somente há uma alteração de padrão de movimento e de momentos externos nos membros inferiores, mas há sobrecarga aumentada na coluna lombar (Figura 16). Embora não sejam apresentadas curvas de momento ou força da coluna, as alterações cinemáticas relevantes observadas nos gestos compensatórios permitem inferir a presença de sobrecarga substancial na coluna lombar (Figura 17).

O termo escólios e transitória tem sido usado para descrever um padrão de movimento no plano frontal e transverso da coluna lombar, associado ou não ao drop pélvico, o qual é compensado pela coluna torácica na tentativa de manter posição ereta da cabeça, manutenção do equilíbrio e adequado controle postural. Acredita-se que tal padrão seja fator de risco para disfunções da coluna.

FIGURA 16: Reconstrução 3D do single leg squat com três estratégias de tronco. A) Normal. B) Compensação no plano frontal. C) Compensação nos planos frontal e transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 17: Posição do tronco no plano frontal durante o agachamento unilateral com três estratégias de tronco: normal e compensação no plano frontal e compensação no plano frontal e transverso. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

A seguir são apresentadas imagens ilustrativas do agachamento unilateral no plano frontal realizado de maneira desejada (Figura 18) e com diferentes componentes de movimento indesejado. As principais características a serem analisadas durante o agachamento unilateral são a capacidade de manutenção do equilíbrio, a presença de desalinhamento relevante do tronco, a presença de movimento excessivo da pelve, a instabilidade do joelho e a presença de colapso medial ou mesmo movimento aumentado em varo. Para gestos realizados com cadência, também se verifica a capacidade de realizar o gesto na cadência proposta.

O primeiro componente indesejado ilustrado é a inclinação ipsilateral do tronco (Figura 19), onde também há aumento da adução de quadril. Na sequência, é ilustrado o aumento do ângulo de projeção do joelho no plano frontal, medida que reflete o colapso medial do joelho (Figura 20). Uma diminuição do ângulo de projeção do joelho, refletindo um aumento do varo, é um componente indesejado ocasionalmente presente (Figura 21). Por fim, mostra-se um drop pélvico (Figura 22).

Diferentemente das outras ilustrações (Figuras 19-21), em que o ângulo do quadril (coxa em relação a pelve) foi calculado, para calcular puramente o drop pélvico, considera-se a posição da pelve em relação ao ambiente (vertical do sistema).

FIGURA 18: Agachamento unilateral com padrão de movimento desejável. // Fonte: Arquivo de imagens do autor

FIGURA 19: Agachamento unilateral com inclinação ipsilateral do tronco. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 20: Agachamento unilateral com colapso medial do joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 21: Agachamento unilateral com varo de joelho e elevação pélvica. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 22: Agachamento unilateral com drop pélvico. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Aterrissagem (drop landing) e aterrissagem com salto (drop jump)

Atividades de alta demanda, como aquelas que envolvem saltos e aterrissagens, apresentam potencial altamente lesivo quando componentes indesejados de movimento estão presentes. A aterrissagem (Figura 23) e a aterrissagem bilateral seguida por um salto vertical são gestos capazes de expor eventuais incapacidades, expressas por componentes indesejados de movimento, quando utilizados com o sentido de analisar o padrão de movimento.10,11

Quando padrões indesejados são observados nesses gestos, espera-se que tais componentes também estejam presentes nas atividades esportivas que requeiram saltos, aterrissagens e trocas de direção. Dentre as principais características a serem observadas estão a capacidade de manutenção do equilíbrio, a ADM durante a fase descendente (aterrissagem), o nível de simetria da base de apoio e a presença de movimento nos planos frontal e transverso durante o voo.10,11

Duas estratégias de amortecimento serão comparadas: suave (Figura 23B) e rígida (Figura 23C). Fica evidente, ao observar as imagens (Figura 23), uma amplitude de flexão de joelho e quadril maior no gesto em que a aterrissagem foi realizada de maneira suave. Com a aterrissagem suave, o pico da FRS vertical foi de 2,5 N/PC; e com a aterrissagem rígida, alcançou 4,4 N/PC (ver Figura 18). Assim, a aterrissagem rígida apresentou próximo a 80% (duas vezes o peso corporal) a mais de FRS vertical em comparação ao amortecimento suave (Figura 24).10,11

FIGURA 23: Reconstrução 3D da aterrissagem (degrau com 30 cm): suave e rígida. A) Posição inicial. B) Aterrissagem suave. C) aterrissagem rígida. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 24: Força de reação do solo vertical durante aterrissagem suave e rígida. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Em relação aos momentos articulares, durante a aterrissagem rígida, houve aumento do momento externo flexor do quadril e diminuição do momento externo flexor do joelho, em comparação ao gesto com amortecimento suave (Figura 25). Como consequência, espera-se um aumento próximo a 20% no recrutamento dos músculos extensores do quadril (Figura 25A) e uma diminuição de 20% no recrutamento dos músculos extensores do joelho (Figura 25B) na aterrissagem rígida. Possivelmente, um percentual maior da componente vertical das FRSs na aterrissagem rígida será dissipado nas estruturas ósseas e articulares.

FIGURA 25: Momentos articulares do A) quadril e B) joelho no plano sagital durante a aterrissagem suave e rígida. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Um fenômeno bastante presente em aterrissagens bilaterais é o colapso medial dos joelhos (Figura 26). Espera-se que o vetor resultante das FRSs passe medialmente ao centro de rotação dos joelhos (Figura 26A), causando, assim, um momento externo adutor. No entanto, na presença de um colapso medial substancial, tal vetor pode passar lateralmente ao centro de rotação dos joelhos (Figura 26B), causando, dessa forma, um momento externo abdutor.

Assim, há um aumento substancial de carga no compartimento lateral do joelho, o qual, comparativamente ao compartimento medial, apresenta menor capacidade de absorção e é mais suceptível à lesão quando sobrecarregado.

Quando os momentos articulares são analisados, observam-se, também, aumento do momento externo flexor do quadril com a presença do colapso medial (Figura 27A) e similares magnitudes de momento externo flexor do joelho.

Em relação ao plano frontal (Figura 28), nota-se um aumento do momento externo abdutor do quadril logo no início da aterrissagem (Figura 28A); ao passo que no joelho há um momento externo adutor durante o gesto executado adequadamente e um momento externo abdutor no gesto durante o qual o colapso medial ocorreu (Figura 28B).

Por fim, ao analisar o plano transverso (Figura 29), nota-se que no gesto com colapso medial houve momento externo de rotação interna de quadril, ao passo que no gesto convencional tal momento é levemente rotador externo (Figura 29A). No joelho, houve uma diminuição substancial do momento externo de rotação externa durante o colapso medial (Figura 29B).

FIGURA 26: Reconstrução 3D da aterrissagem com salto — vista do plano frontal. A) Normal. B) Colapso medial severo dos joelhos. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 27: Momentos articulares no plano sagital durante aterrissagem normal e com colapso medial severo dos joelhos. A) Quadril. B) Joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 28: Momentos articulares no plano frontal durante aterrissagem normal e com colapso medial severo dos joelhos. A) Quadril. B) Joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 29: Momentos articulares no plano transverso durante a aterrissagem normal e com colapso medial severo dos joelhos. A) Quadril. B) Joelho. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

As imagens da aterrissagem foram extraídas no instante da transição entre a fase excêntrica e a fase concêntrica antes do salto vertical (Figuras 30–32). O alinhamento do tronco e um padrão simétrico entre os membros inferiores são características desejadas (Figura 30).

O colapso medial do joelho é uma característica frequentemente observada durante aterrissagens. Ao traçar uma linha perpendicular do centro do joelho em direção ao solo, esta deve incidir sobre o segundo dedo. Quando essa linha incide medialmente à borda medial do pé, considera-se a presença de um colapso medial dos joelhos bastante relevante (Figura 31).

Outro componente que pode estar associado a um aumento do risco de lesão e diminuição de rendimento é a assimetria relevante na aterrissagem. Pode-se quantificar tal componente por meio da análise do alinhamento do tronco e da posição dos quadris (Figura 32).

FIGURA 30: Aterrissagem com salto — padrão de movimento desejável. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 31: Aterrissagem com salto — colapso medial dos joelhos. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

FIGURA 32: Aterrissagem com salto — padrão assimétrico. // Fonte: Arquivo de imagens do autor.

Propriedades de medida da avaliação cinemática 2D

O objetivo desta seção é apresentar, de maneira resumida, os principais artigos abordando a validade, a confiabilidade e a relevância clínica da utilização da análise cinemática. Uma leitura atenta a todos os artigos presentes nesta seção é recomendada para os fisioterapeutas que planejam utilizar análise cinemática na prática cotidiana. De maneira geral, o grande corpo da literatura indica confiabilidade aceitável para as medidas 2D, capacidade de identificar diferenças entre grupos de participantes (com e sem disfunção) e capacidade de identificar o efeito de intervenções.

Inicia-se com uma revisão sistemática12 que oferece uma ótima síntese sobre estudos avaliando a confiabilidade e a validade do uso do plano frontal via cinemática 2D durante gestos funcionais. Os autores investigaram validade por meio da correlação das medidas coletadas via vídeo 2D e cinemática 3D (considerada padrão de referência).

Foram estudados o agachamento unilateral, as aterrissagens unilaterais e as bilaterais. Ao todo, 16 estudos foram incluídos na revisão. Destes, oito exploraram validade e 13 confiabilidade. A análise de risco de viés mostrou que todos os estudos de validade apresentaram baixo risco de viés, sendo estes bem conduzidos. Já alguns estudos de confiabilidade apresentaram falhas relevantes, merecendo atenção.12

De maneira geral, a confiabilidade se mostrou aceitável, apresentando, na maior parte das análises, valores de bom a excelente e, em alguns casos, coeficientes moderados. Isso sugere que todos os aspectos referentes aos aspectos de confiabilidade (no mesmo dia, entre dias e entre avaliadores) são aceitáveis.12

Em relação à validade concorrente, a qual compara o plano frontal 2D com o 3D, os resultados da metanálise sugerem que existe baixa concordância entre a análise 2D e a 3D para os ângulos de projeção do joelho no plano frontal (varo/valgo) durante o agachamento unilateral; tal concordância foi de moderada a boa para a aterrissagem unilateral.12

Os autores,12 após realizar análise de variabilidade/concordância, sugerem que tal concordância não é aceitável para a prática clínica. Em resumo, os autores12 concluíram que os dados da análise 2D no plano frontal não devem ser usados para representar os valores do joelho do plano frontal extraídos de análise 3D, não apresentando validade concorrente aceitável.

No entanto, com base em outros estudos e na experiência em pesquisa dos autores, questionou-se a utilização de alguns aspectos relacionados ao ângulo de abdução/adução (varo/valgo) do joelho por meio de sistemas 3D. A principal base para tal crítica é a presença de cross-talk cinemático.13

O cross-talk cinemático é um fenômeno que representa a detecção de movimento em um plano como movimento de outro plano.13 Especificamente, na articulação do joelho, estudos têm mostrado, durante a execução de uma flexão pura do joelho, que valores de adução do joelho tornam-se aparentes, sendo estes, sobretudo, efeitos do cross-talk.14

Além disso, o ângulo do joelho no plano frontal de sistemas 3D não tem apresentado potencial para discriminar populações diferentes, por exemplo, grupos com e sem disfunção quando analisando gestos com ângulos de flexão substanciais.

Assim, considerar o plano frontal do joelho de análises 3D como padrão de referência para validação concorrente das análises 2D é algo que vem sendo questionado. Além disso, a conclusão da maioria dos estudos incluídos na presente revisão sistemática12 mostrou-se a favor da validade da análise de vídeo 2D.

Outro estudo15 investigou a confiabilidade, o erro de medida e a mínima diferença detectável do valgo dinâmico do joelho (ângulo de projeção do joelho no plano frontal) durante três testes funcionais comumente usados: agachamento unilateral, aterrissagem com salto e aterrissagem unilateral (ou single-leg landing). De maneira geral, os autores15 encontraram confiabilidade intra-dia e entre-dias de boa a excelente.

Somente a confiabilidade intra-dia do agachamento unilateral das mulheres apresentou valores moderados. Visto que não foram encontradas diferenças entre membro inferior dominante e não dominante, os dados foram agrupados para análises. Como houve diferenças entre homens e mulheres, tais dados foram apresentados separadamente. Um parâmetro bastante útil para a prática clínica é a mínima diferença detectável.15

Por exemplo, a mínima diferença detectável do agachamento unilateral dos homens foi de 7,63º; isso sugere que alterações inferiores a essa, como resultado de intervenções, não apresentam significado clínico, uma vez que pode ser simplesmente variabilidade relacionada a erro de medida. Assim, somente alterações superiores a essa devem ser consideradas como alterações relevantes do padrão de movimento do joelho no plano frontal.15

A inclinação lateral do tronco influencia a distribuição de carga nos membros inferiores. No entanto, a maioria dos estudos utilizando testes funcionais unilaterais considera somente o ângulo de projeção do joelho no plano frontal (valgo).12 Associar a inclinação lateral do tronco pode permitir uma melhor compreensão da sobrecarga no joelho durante gestos unilaterais.

Um estudo16 investigou a confiabilidade intra-dia e inter-avaliador e a validade de medidas de inclinação lateral do tronco durante dois testes unilaterais — o agachamento unilateral e a aterrissagem unilateral com contra-movimento (ou aterrissagem unilateral com salto). Para verificar a validade, foi calculado o momento externo abdutor do joelho por meio da dinâmica inversa. O nível de correlação entre o momento externo de abdução do joelho e os dados de inclinação do tronco, assim como a combinação da inclinação do tronco e da abdução do joelho, foram utilizados para determinar a validade da análise da inclinação lateral do tronco.

A confiabilidade intra-dia e inter-avaliador foi excelente para todos os testes, com ICC ≥ 0,98 (o máximo é 1). Em relação à validade, ou seja, o quanto os valores de cinemática correlacionaram-se com o parâmetro que reflete a sobrecarga no joelho (momento externo de abdução do joelho), os autores observaram que associar os ângulos do joelho com o ângulo do quadril é melhor para inferir sobre sobrecarga no joelho, visto que foi o único parâmetro apresentando correlação estatisticamente significativa. Assim, os participantes com maior valgo de joelho e inclinação ipsilateral de tronco foram aqueles que apresentaram maior momento externo abdutor do joelho. É importante ressaltar que, embora a correlação tenha apresentado significância estatística, tais valores são moderados.16

De maneira geral, os autores16 destacaram a importância de incluir o tronco na análise cinemática. A prática clínica e de pesquisa do autor deste capítulo também aponta para considerar parâmetros refletindo o padrão de movimento do tronco como altamente relevantes. A posição do tronco parece importante para a sobrecarga dos segmentos lombares e de todas as articulações dos membros inferiores, portanto, a utilização de estratégias para influenciar tal movimento é bastante válida. Supõe-se que, em breve, muitos estudos serão conduzidos para compreender melhor a relação da posição do tronco e a sobrecarga articular.

Estudos explorando as propriedades de medidas da avaliação cinemática que podem ser consultados para maiores detalhes estão presentes na lista de referências.17–22

ATIVIDADES

4. A frequência de amostragem de um vídeo é:

A) o número de quadros capturados em um segundo.

B) o número de quadros capturados em um minuto.

C) a velocidade de abertura da lente.

D) a resolução da imagem.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "A".


A frequência de amostragem consiste no número de quadros capturados em um segundo. As outras questões são importantes, mas não relacionadas à frequência de amostragem.

Resposta correta.


A frequência de amostragem consiste no número de quadros capturados em um segundo. As outras questões são importantes, mas não relacionadas à frequência de amostragem.

A alternativa correta e a "A".


A frequência de amostragem consiste no número de quadros capturados em um segundo. As outras questões são importantes, mas não relacionadas à frequência de amostragem.

5. Com relação aos procedimentos necessários para a análise cinemática 2D quantitativa, marque V (verdadeiro) ou F (falso):

Alinhar o eixo óptico da câmera perpendicular ao plano de movimento.

Montar a câmera em um tripé estável e evitar qualquer tipo de movimento.

Maximizar a distância entre a câmera e o indivíduo.

Acompanhar o movimento do indivíduo ao longo da gravação.

Assinale a alternativa que apresenta a frequência correta.

A) F — V — V — F

B) V — F — V — V

C) V — V — F — F

D) V — V — V — F

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "D".


A câmera deve estar fixa, então não deve ser necessário ter que movimentá-la para acompanhar o movimento analisado.

Resposta correta.


A câmera deve estar fixa, então não deve ser necessário ter que movimentá-la para acompanhar o movimento analisado.

A alternativa correta e a "D".


A câmera deve estar fixa, então não deve ser necessário ter que movimentá-la para acompanhar o movimento analisado.

6. O que é o mais importante para construção de escalas de avaliação qualitativa?

A) Saber a incidência de lesões do esporte em que o gesto é utilizado.

B) Conhecer posturas e padrões desejados e indesejados presentes em um dado gesto.

C) Conhecer cinco itens necessários para corrigir.

D) Conhecer os três itens básicos de correção postural.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "B".


É fundamental um conhecimento aprofundado em biomecânica para identificar quais são os componentes desejados e indesejados de movimento. Com base nesse conhecimento, itens para verificar a qualidade do movimento podem ser estabelecidos.

Resposta correta.


É fundamental um conhecimento aprofundado em biomecânica para identificar quais são os componentes desejados e indesejados de movimento. Com base nesse conhecimento, itens para verificar a qualidade do movimento podem ser estabelecidos.

A alternativa correta e a "B".


É fundamental um conhecimento aprofundado em biomecânica para identificar quais são os componentes desejados e indesejados de movimento. Com base nesse conhecimento, itens para verificar a qualidade do movimento podem ser estabelecidos.

7. Qual é o componente de movimento que é considerado ruim na escala subjetiva do agachamento unilateral?

A) Capacidade de manter o equilíbrio.

B) Ausência de inclinação lateral.

C) Ausência de adução do quadril.

D) Aparente valgo do joelho.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta e a "D".


O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

Resposta correta.


O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

A alternativa correta e a "D".


O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

Paciente jovem, do sexo feminino, praticante de corrida e voleibol, apresenta dor retropatelar durante e após praticar atividade física, compatível com dor patelofemoral.

ATIVIDADES

8. Em relação ao caso clínico apresentado, qual gesto funcional se deve escolher para a avaliação cinemática?

Confira aqui a resposta

Agachamento unilateral. Esse gesto tem se mostrado capaz de identificar fatores de risco e associados à dor patelofemoral.

Resposta correta.


Agachamento unilateral. Esse gesto tem se mostrado capaz de identificar fatores de risco e associados à dor patelofemoral.

Agachamento unilateral. Esse gesto tem se mostrado capaz de identificar fatores de risco e associados à dor patelofemoral.

9. Qual plano de movimento você deve-se escolher para avaliar o caso clínico apresentado?

Confira aqui a resposta

Plano frontal. Os componentes de movimento indesejado mais relevantes para a dor patelofemoral são mais bem observados nesse plano.

Resposta correta.


Plano frontal. Os componentes de movimento indesejado mais relevantes para a dor patelofemoral são mais bem observados nesse plano.

Plano frontal. Os componentes de movimento indesejado mais relevantes para a dor patelofemoral são mais bem observados nesse plano.

10. Considerando a cinemática linear, onde deve ser colocado o marcador e qual variável deve ser calculada?

Confira aqui a resposta

Deslocamento mediolateral do joelho. Um marcador na patela seria suficiente.

Resposta correta.


Deslocamento mediolateral do joelho. Um marcador na patela seria suficiente.

Deslocamento mediolateral do joelho. Um marcador na patela seria suficiente.

11. Considerando a cinemática angular, qual variável deve ser calculada?

Confira aqui a resposta

A variável seria o ângulo do joelho no plano frontal (abdução/adução ou valgo/varo).

Resposta correta.


A variável seria o ângulo do joelho no plano frontal (abdução/adução ou valgo/varo).

A variável seria o ângulo do joelho no plano frontal (abdução/adução ou valgo/varo).

12. Qual componente indesejado pode-se encontrar?

Confira aqui a resposta

O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

Resposta correta.


O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

Conclusão

Neste capítulo, foram vistos aspectos conceituais, técnicos e clínicos referentes à análise cinemática aplicada a gestos funcionais. Foram apresentadas diretrizes para a execução da análise do movimento em contexto clínico, assim como para a identificação do tipo de análise que atende melhor às necessidades do fisioterapeuta e do paciente.

A interação apresentada entre sobrecarga musculoesquelética e padrão de movimento permite ao fisioterapeuta identificar e alterar padrões de movimentos considerados associados às disfunções ou ao maior risco de lesão, bem como quantificar a resposta de abordagens terapêuticas aplicadas para melhorar o padrão de movimento.

Por meio de avaliação qualitativa ou quantitativa, o fisioterapeuta encontra, na análise cinemática, uma ferramenta com grande potencial terapêutico.

Atividades: Respostas

Atividade 1 // Resposta: A

Comentário: A análise cinemática 2D permite somente analisar um plano de movimento por vez. Para analisar mais de um plano, é necessária a análise cinemática 3D.

Atividade 2 // Resposta: B

Comentário: São necessários três marcadores. Tipicamente se utiliza o trocânter maior do fêmur, o epicôndilo lateral do fêmur (centro de rotação) e o maléolo lateral da tíbia.

Atividade 3 // Resposta: C

Comentário: O plano frontal, ou vista anterior, permite analisar os movimentos de abdução e adução do quadril; para os movimentos de flexão e extensão, seria necessário o plano sagital; e para as rotações, o plano transverso.

Atividade 4 // Resposta: A

Comentário: A frequência de amostragem consiste no número de quadros capturados em um segundo. As outras questões são importantes, mas não relacionadas à frequência de amostragem.

Atividade 5 // Resposta: D

Comentário: A câmera deve estar fixa, então não deve ser necessário ter que movimentá-la para acompanhar o movimento analisado.

Atividade 6 // Resposta: B

Comentário: É fundamental um conhecimento aprofundado em biomecânica para identificar quais são os componentes desejados e indesejados de movimento. Com base nesse conhecimento, itens para verificar a qualidade do movimento podem ser estabelecidos.

Atividade 7 // Resposta: D

Comentário: O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

Atividade 8

Comentário: Agachamento unilateral. Esse gesto tem se mostrado capaz de identificar fatores de risco e associados à dor patelofemoral.

Atividade 9

Comentário: Plano frontal. Os componentes de movimento indesejado mais relevantes para a dor patelofemoral são mais bem observados nesse plano.

Atividade 10

Comentário: Deslocamento mediolateral do joelho. Um marcador na patela seria suficiente.

Atividade 11

Comentário: A variável seria o ângulo do joelho no plano frontal (abdução/adução ou valgo/varo).

Atividade 12

Comentário: O valgo ou colapso medial do joelho é considerado um movimento indesejado durante o agachamento unilateral.

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Castro MP. Repercussões biomecânicas na prática clínica: avaliação cinemática. In: Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica; Silva MF, Barbosa RI, organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2020. p. 119–59. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-397-7.C0003