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RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DO ABDOME COM CONTRASTE HEPATOESPECÍFICO

Roberto Pereira de Freitas

Daniel Lahan Martins

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • reconhecer o mecanismo de ação dos meios de contraste à base de gadolínio, com ênfase nos agentes hepatoespecíficos;
  • descrever o protocolo recomendado para os exames de ressonância magnética (RM) do fígado com ácido gadoxético;
  • determinar as principais indicações de RM hepática com ácido gadoxético.

Esquema conceitual

Introdução

A RM é um método de diagnóstico por imagem não invasivo, sem radiação ionizante, amplamente utilizado na prática clínica atual. As imagens de RM possuem alta resolução de contraste tecidual e boa resolução espacial e são formadas a partir da captação do sinal emitido pelos núcleos de certos elementos químicos, especialmente o hidrogênio, quando submetidos a um forte campo magnético e excitados por ondas de radiofrequência.1,2

Por apresentar elevada concentração nos tecidos corporais e produzir o mais alto sinal dentre os núcleos estáveis, o hidrogênio é o íon utilizado como fonte geradora de sinal nos exames de RM.1,2 Nos últimos anos, a RM experimentou importantes avanços técnicos, incluindo a criação de magnetos mais potentes (3,0 Tesla), gradientes mais eficientes, bobinas de sinergia de múltiplos canais e mecanismos de correção de artefatos e ruídos pós-processamento, melhorando significativamente a qualidade das imagens.3,4

O papel da RM no estudo das patologias abdominais vai além da detecção e da caracterização de lesões parenquimatosas focais. A RM é uma ferramenta diagnóstica importante no estudo das hepatopatias e pancreatopatias crônicas e na avaliação de doenças benignas e malignas do trato gastrintestinal e das vias biliares. Também pode ser utilizada na suspeita de abdome agudo inflamatório em gestantes ou quando o uso de contraste iodado nos exames de tomografia computadorizada (TC) está contraindicado.3

Embora a ultrassonografia (USG) e a TC sejam comumente utilizadas no rastreio de nódulos hepáticos, diversos estudos têm demonstrado que a RM com contraste hepatoespecífico é o melhor método para a detecção e a caracterização das lesões focais hepáticas.5

Os meios de contraste utilizados nos estudos por RM geralmente são compostos por gadolínio, um íon com propriedades paramagnéticas capazes de alterar o sinal dos tecidos corporais, melhorando a identificação e a caracterização de diversas lesões.2,6

Na forma livre, o gadolínio é extremamente tóxico e possui uma meia vida biológica de algumas semanas. Para reduzir sua toxicidade relativa e acelerar sua depuração, o gadolínio precisa estar ligado covalentemente a um quelante. Essa ligação reduz a meia vida do gadolínio para menos de 2 horas. Quando usados em doses adequadas, os contrastes com gadolínio são seguros e quase sempre bem tolerados pelos pacientes.2,6

O mecanismo de ação do gadolínio consiste essencialmente em:2

  • encurtar o tempo de relaxamento T1 (longitudinal);
  • encurtar o tempo de relaxamento transverso (T2);
  • aumentar a intensidade de sinal dos tecidos corporais nas sequências ponderadas em T1.

De acordo com a biodistribuição, os meios de contrastes à base de gadolínio podem ser divididos em duas classes: os agentes extracelulares, em uso clínico desde o final da década de 1980; e os meios de contraste hepatoespecíficos, desenvolvidos para superar algumas limitações do gadolínio convencional nos estudos de RM hepática.7,8

O gadolínio extracelular apresenta biodistribuição semelhante ao contraste iodado usado nos exames de TC.6 Após a injeção intravenosa, o contraste extracelular distribui-se pelo sistema vascular e depois para o interstício (espaço extracelular). A captação hepatocelular do gadolínio convencional é desprezível e a sua excreção ocorre quase que exclusivamente pelos rins. O contraste hepatoespecífico também se distribui inicialmente pelo interstício, porém uma parte da dose administrada é absorvida por hepatócitos normofuncionantes e sua excreção ocorre tanto por via renal quanto biliar.6

A captação do meio de contraste hepatoespecífico pelos hepatócitos permite diferenciar lesões de natureza hepatocelular de outras lesões não hepatocelulares. Além disso, por ser excretado na bile, esse meio de contraste pode ser útil na identificação e na caracterização de eventuais lesões na árvore biliar.9

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