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TELECUIDADO NO SERVIÇO DE ATENÇÃO DOMICILIAR

Rosimere Ferreira Santana

Maria Auxiliadora Rodrigues

Tallita Mello Delphino Machado

Ana Beatriz Serra Hercules

epub-BR-PROENF-SI-C4V1_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • reconhecer a importância do telecuidado como intervenção de enfermagem ao idoso e a seus cuidadores em domicílio;
  • descrever as possíveis aplicações das tecnologias remotas na integração da Rede de Atenção à Saúde ao idoso, principalmente na atenção domiciliar;
  • identificar as principais tecnologias utilizadas na aplicabilidade do telecuidado ao idoso e a seus cuidadores.

Esquema conceitual

Introdução

Com o envelhecimento, amplia-se a vulnerabilidade dos idosos a patologias crônicas que podem acarretar complicações, sequelas, limitações físicas e cognitivas, provocando a redução da capacidade funcional e da autonomia do idoso e exigindo cuidados continuados e mais intensivos.1

Diante das mudanças significativas no perfil populacional, gradativamente mais envelhecido, e no perfil de saúde da população idosa, caracterizado pela ocorrência de condições crônicas e agudas de saúde, somadas, ainda, aos agravos decorrentes de causas externas, torna-se necessária a implantação de modelos de atenção que respondam, de forma adequada, às condições crônicas e em longo prazo.

O processo de envelhecimento e suas repercussões clínicas e sociais é um dos principais fatores responsáveis pela percepção da necessidade da criação de novos modelos assistenciais.2 Nessa perspectiva, destaca-se a atenção domiciliar (AD).

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a AD pode ser definida como uma modalidade assistencial de saúde que visa promover ações de prevenção e tratamento de doenças, reabilitação, paliação e promoção à saúde em âmbito domiciliar.3

A modalidade assistencial AD tem como objetivos primários a redução da demanda de internações e atendimentos hospitalares, e a otimização da gerência de leitos e recursos financeiros estruturais da rede de saúde,3 além da prestação de assistência a usuários com quadro clínico estável e que necessitem de atenção à saúde em situação de restrição ao leito ou domicílio, sendo organizada em modalidades, de acordo com a complexidade e periodicidade do cuidado.4

A modalidade definida como AD1 representa os usuários que necessitam de uma menor frequência e um menor quantitativo de intervenções, sendo em geral de responsabilidade das equipes de atenção básica, apoiadas pelos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASFs).3

A modalidade AD2 contém usuários que apresentam afecções agudas ou crônicas, necessidades de cuidados paliativos, ganho ponderal em caso de bebês e tratamentos parenterais ou reabilitação, que demandem atendimento, no mínimo semanal, a fim de abreviar ou evitar hospitalização.

São considerados usuários de AD3 aqueles que apresentam características de AD2 e necessitam de cuidados multiprofissionais de maior frequência com uso de equipamento(s) ou agregação de procedimento(s) de maior complexidade (por exemplo, ventilação mecânica, paracentese de repetição, nutrição parenteral e transfusão sanguínea), comumente demandando períodos maiores de acompanhamento domiciliar.3

Na classificação da modalidade assistencial, são levados em consideração aspectos clínicos, socioeconômicos e ambientais, que englobam a utilização dos serviços de saúde, o quadro clínico, o suporte terapêutico, a necessidade de reabilitação e os cuidados de enfermagem, ou uso de dispositivos invasivos, e também questões relacionadas às condições de moradia, saneamento básico, estrutura e risco familiar, segurança e acessibilidade da equipe ao local.3

As modalidades AD2 e AD3 são representadas pelo Programa Melhor em Casa e contam com equipes específicas para o atendimento domiciliar, chamadas equipes multiprofissionais de atenção domiciliar (EMADs), compostas por enfermeiro, médico, auxiliares ou técnicos em enfermagem, fisioterapeuta ou assistente social, e por equipes multiprofissionais de apoio (EMAPs). Recomenda-se uma composição mínima de três profissionais das seguintes categorias: assistente social, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, odontólogo, psicólogo, farmacêutico ou terapeuta ocupacional.3

A captação dos usuários com necessidade de AD ocorre, geralmente, por meio da avaliação da equipe de atenção básica; porém, o número de solicitações de avaliação pela EMAD por outros pontos de apoio à saúde — Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais, entre outros — vem aumentando de maneira considerável. Ainda são consideradas no fluxo as demandas representadas pelas solicitações espontâneas de famílias e a busca ativa do Programa Melhor em Casa.2–4

O perfil do usuário do Programa Melhor em Casa em geral se caracteriza por indivíduos com altas demandas de cuidado e diferentes níveis de dependência, causados por patologias e agravamentos que repercutem diretamente na capacidade funcional e na autonomia.4 Muitos desses sujeitos são admitidos na AD, encaminhados de internações hospitalares ou mesmo da atenção primária, com “novas” condições clínicas agudas ou mesmo em complicações agudizadas de doenças com as quais convivem por anos.1,2,4

O paciente assistido pelas modalidades abrangidas pelo Melhor em Casa, na maioria das vezes, possui dificuldades de deslocamento até os serviços de saúde, e, embora teoricamente devam receber visitas semanais da equipe de AD, muitas vezes se encontram em situações de risco, em locais inacessíveis, ou com prioridades em relação às condutas de saúde ou em alguns outros aspectos do cuidado. Do mesmo modo, as equipes enfrentam situações desafiadoras ou impeditivas na realização das visitas, como a falta de tempo, a sobrecarga de trabalho, a ausência de materiais e insumos adequados, e o frequente medo relacionado à violência em determinadas áreas.

Nesse contexto, o uso de tecnologias que permitem o acompanhamento profissional a distância pode ser alternativa promissora e viável, considerando as complexidades no deslocamento do paciente em AD, sua condição econômica e as distâncias que precisa percorrer até o atendimento, podendo também funcionar como suporte às famílias e aos usuários de AD na decorrência entre as visitas.

Como forma complementar e contínua, de modo a potencializar a assistência domiciliar, o uso de diferentes tecnologias tem sido incorporado na assistência e na gestão, com o intuito de atender às necessidades de cuidado emergentes à saúde da população.5 Podem-se destacar como tecnologias comumente aplicadas para continuidade do cuidado ao idoso em domicílio:6–9

  • acompanhamento por ligações telefônicas;
  • realização de videoconferência;
  • envio de mensagens de celular via short message service (SMS) ou via aplicativo de mensagens (por exemplo, WhatsApp);
  • plataformas digitais;
  • sensores ou robôs com inteligência artificial;
  • sistema de monitoramento noturno;
  • sistema de monitoração e localização por Global Positioning System (GPS);
  • estímulos por comandos verbais;
  • assistência de navegação robotizada.

Cada tecnologia adicionada ao processo de cuidar e aos sistemas organizacionais:7,10

  • permite continuidade dos cuidados em domicílio;
  • oferece ensino e orientações pertinentes, conforme a necessidade de cada paciente;
  • melhora a qualidade do cuidado;
  • diminui os eventos adversos e erros.

Para a enfermagem, o uso de tecnologias no cuidar baseia-se no conhecimento técnico e científico, na observação do cotidiano e na preocupação com o bem-estar, tanto do cuidador quanto do sujeito a ser cuidado.10

Para essas estratégias, alguns termos têm surgido na área da saúde, como telessaúde, telemonitoramento, telemedicina, telenfermagem, telecuidado e teleconsulta, conceituados a seguir.

Telessaúde refere-se à prestação de serviços de atenção à saúde por meio do uso de tecnologias de informação e comunicação, de forma a:

  • superar a barreira da distância e aproximar os serviços de saúde;
  • evitar os deslocamentos desnecessários de pacientes e profissionais de saúde;
  • promover o acesso e melhorar a qualidade da assistência com apoio à tomada de decisão pelos profissionais;
  • reduzir o tempo para atendimentos ou diagnósticos especializados;
  • compartilhar e coordenar recursos geograficamente distribuídos, otimizando seu uso e garantindo a oferta qualificada de diferentes especialidades em saúde.

A telessaúde possibilita a interação entre profissionais de saúde ou entre estes e seus pacientes, bem como o acesso remoto a recursos de apoio diagnósticos ou até mesmo terapêuticos.11,12

Telemonitoramento trata-se do monitoramento a distância de parâmetros de saúde e/ou doença de pacientes por meio das tecnologias de informação e comunicação (áudio, vídeo e outras tecnologias). Dados como medidas de sinais vitais, glicemias e sintomas clínicos são verificados na casa do paciente e enviados para avaliação do profissional de saúde. Sua utilização tem sido associada à redução de consultas em emergências, redução de hospitalizações e redução da duração da internação, sendo uma alternativa para suporte ao cuidado de pacientes portadores de doenças crônicas.11,12

Telemedicina trata-se de uma categoria existente dentro da própria telessaúde, que corresponde ao uso de tecnologias que proporcionam a troca de informações entre médicos e pacientes, também validado na pandemia em caráter emergencial, tendo maior enfoque anterior a 2020 nas dimensões de interconsultas, educacional ou de pesquisa.6,7

Telenfermagem integra a telessaúde, sendo caracterizada pelo uso de recursos tecnológicos para a realização da prática de enfermagem a distância nas dimensões assistencial, educacional ou de pesquisa.6–8

Telecuidado é a continuidade de cuidados e orientações de enfermagem a distância, por meio de ligações telefônicas, videoconferência, consultas virtuais e/ou mensagens de celular,6–8 ou seja, um contato presencial e inicial com o usuário é requerido.

Teleconsulta foi autorizada e normatizada, ad referendum, pela Resolução Cofen nº 634, aprovada em 26 de março de 2020, considerando:

  • a Resolução Cofen nº 568, de 9 de fevereiro de 2018, que regulamentou o funcionamento de consultórios e clínicas de enfermagem;
  • a pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) em 2020;
  • a importância da participação dos enfermeiros no combate à pandemia mediante consultas, esclarecimentos, encaminhamentos e orientações, principalmente nos momentos de isolamento social, em que as pessoas precisam de acesso a informações seguras e com possibilidade de atendimento sem deslocamentos às unidades de saúde.

A teleconsulta de enfermagem foi autorizada e normatizada como forma de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), mediante consultas, esclarecimentos, encaminhamentos e orientações com uso de meios de tecnologia de informação e comunicação, com recursos audiovisuais e dados que permitam o intercâmbio a distância entre o enfermeiro e o paciente, de forma simultânea ou assíncrona.13 Isso significa que o primeiro contato pode ser virtual, e prescrições novas podem ser realizadas.

Acredita-se que a implantação, manutenção e consolidação de uma ampla rede de comunicação entre os serviços de saúde permitam a efetivação das redes de atenção à saúde, visto que não há rede sem aproximação entre os profissionais que a compõem. Essa aproximação não necessita ser presencial, podendo ser apenas de comunicação, desde que efetiva e dirigida a resolver os problemas de integração que impedem que as pessoas obtenham o cuidado certo, no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa, de forma humanizada.2

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