Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar o quadro clínico e o diagnóstico de TEA;
- indicar intervenções para o paciente com TEA na vida adulta, levando em consideração questões de gênero e sexualidade, ações voltadas à inserção no mercado de trabalho e comorbidades clínicas.
Esquema conceitual
Introdução
Historicamente, o termo “autismo” foi cunhado por Eugen Bleuler, em 1911, para descrever o retraimento para uma vida fantasiosa, por dificuldade de lidar com a realidade indesejável nos pacientes com esquizofrenia.1 Três décadas mais tarde, Leo Kanner, nos Estados Unidos da América (EUA), e Hans Asperger, na Alemanha, paralelamente, usariam o termo “autismo” para descrever crianças e adolescentes com dificuldades em comunicação e habilidades sociais, bem como comportamentos restritos e repetitivos.2 Desde então, o interesse e as pesquisas sobre o assunto vêm crescendo, culminando na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), agrupando o autismo dentro de um único espectro.
O transtorno do espectro autista (TEA) do DSM-5 engloba o autismo, a síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global do desenvolvimento não especificado, presentes no DSM-IV. A síndrome de Rett, desordem genética, agora pertence a outra categoria diagnóstica.3
Atualmente, o TEA é descrito como transtorno do neurodesenvolvimento, com prejuízos na reciprocidade socioemocional, na comunicação social e nos relacionamentos (critérios A), além de padrões de comportamentos restritos e repetitivos (critérios B), de acordo com o DSM-5. O manual não especifica o limite de idade para o surgimento dos sintomas, restringindo-se a afirmar que eles devem surgir precocemente no período de desenvolvimento. Os especificadores de gravidade, nível 1, 2 e 3, são usados para descrever separadamente os critérios A e B, de acordo com o nível de suporte exigido em cada esfera. Também deve ser especificado se o autismo está associado à condição médica, à deficiência intelectual, ao prejuízo na linguagem e à catatonia.3
Deve-se destacar que a prevalência de TEA vem aumentando, e a estatística mais atual é de pelo menos 1 criança acometida em cada 59. Em estudos longitudinais, até 27% dos pacientes com TEA terão um desfecho positivo (muitas vezes definido como conseguir se tornar independente ou obter uma redução importante nos sintomas principais), mas a maioria pode apresentar dependência significativa na idade adulta.4
Adultos com TEA representarão um segmento crescente da sociedade, o que levará ao aumento da demanda para a psiquiatria de adultos e atenção médica geral.4
Com foco na atualização de psiquiatras de adultos e clínicos gerais, os autores deste artigo realizaram uma revisão com os escassos dados científicos sobre adultos com TEA. A ênfase recaiu sobre as principais características e o tratamento desse transtorno do neurodesenvolvimento em adultos.