Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever as peculiaridades constitucionais e funcionais nas várias fases do desenvolvimento da criança que interferem na farmacoterapia;
- reconhecer a influência do desenvolvimento e da maturação da criança nas diferentes etapas da farmacocinética e da farmacodinâmica dos medicamentos;
- identificar as potenciais formas de toxicidade dos medicamentos na criança e no adolescente;
- reconhecer e prevenir os diferentes tipos de erros de medicação na criança;
- identificar e prevenir as inúmeras barreiras na adesão ao tratamento medicamentoso na criança;
- analisar as peculiaridades da criança com sobrepeso e obesidade em relação à prescrição de medicamentos;
- reconhecer as limitações e os cuidados na farmacoterapia de recém-nascidos a termo e prematuros;
- considerar as implicações do uso off-label de medicamentos na criança.
Esquema conceitual
Introdução
Dar assistência em qualquer nível para crianças e adolescentes envolve conhecimento, arte e emoção. As crianças não devem ser consideradas apenas como pequenos adultos, tal como artistas da era medieval as representavam. Em inúmeras pinturas daquela época, as crianças eram retratadas com traços faciais e corporais de adultos, demonstrando o pouco conhecimento e a pouca importância que se dava a elas.1
Muitas características sociais da criança — como a comunicação, a necessidade de cuidado, higiene e alimentação, abrigo e educação — tornam-na extremamente dependente de seus genitores ou responsáveis ao longo de muitos anos, além de prescindir de uma legislação própria que a proteja e defenda os seus interesses — o Estatuto da Criança e do Adolescente.2
Além de compor um grupo humano diferenciado, que abrange menos de 20% do ciclo de vida de cada indivíduo, a criança passa por importantes momentos de crescimento e maturação, integrando distintos subgrupos ou faixas etárias: o recém-nascido (RN), o lactente, o pré-escolar, o escolar e o adolescente.3
Do ponto de vista farmacológico, o desenvolvimento cronológico e a maturação dos órgãos e sistemas na criança determinam inúmeros processos de transformação na sua anatomia, fisiologia e metabolismo, que resultam em alterações diferenciadas na absorção, distribuição, metabolização e excreção dos princípios ativos que compõem os medicamentos. Isso torna a criança muito especial e vulnerável à utilização de fármacos sem uma avaliação e padronização específicas para cada segmento pediátrico.