Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar a coexistência de sintomas de depressão e ansiedade em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doença respiratória crônica (DRC);
- diferenciar os principais métodos e instrumentos utilizados para avaliar os sintomas de ansiedade e depressão em doentes respiratórios crônicos utilizados na prática clínica e na pesquisa;
- descrever o manejo fisioterapêutico dos pacientes com doença respiratória e sintomas de depressão e ansiedade, e conhecer as condutas medicamentosas e não medicamentosas utilizadas no tratamento;
- identificar a forma de interpretação e as propriedades psicométricas do principal instrumento utilizado para avaliar os desfechos de depressão e ansiedade em programas de reabilitação pulmonar (PRPs).
Esquema conceitual
Introdução
O The Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study 2019 mostrou que os dois transtornos mentais mais incapacitantes foram os transtornos depressivos e de ansiedade, ambos classificados entre as principais causas de carga aos sistemas de saúde em todo o mundo.1
A depressão é um transtorno de humor que causa um sentimento persistente de tristeza e perda de interesse, tendo como características comuns de todos os transtornos depressivos a tristeza, o vazio ou o humor irritável, acompanhados por alterações somáticas e cognitivas que afetam, de forma significativa, a capacidade de funcionamento do indivíduo.2,3
A depressão é responsável por mais anos perdidos por deficiência do que qualquer outra condição.2,3 Existem, no mundo, cerca de 350 milhões de pessoas com depressão, sendo que ela acompanha um mesmo indivíduo por muitos anos, e, além disso, percebe-se, no mundo, uma tendência crescente de transtornos depressivos na população idosa. Metade da população mundial, praticamente, vive em países onde existem dois psiquiatras para cada 100 mil habitantes.3,4
A ansiedade é um distúrbio mental caracterizado por sentimentos de tensão, pensamentos preocupados e mudanças físicas, como, por exemplo, aumento da pressão arterial. Pessoas com transtornos de ansiedade geralmente apresentam pensamentos ou preocupações intrusivas recorrentes, evitam certas situações por preocupação e podem ter sintomas físicos, como sudorese, tremores, tontura ou taquicardia.5–8
Em muitas oportunidades, a depressão e a ansiedade apresentam dificuldade diagnóstica nos pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e demais doenças respiratórias crônicas (DRCs), pois os sinais e os sintomas característicos são semelhantes. Nesse sentido, é sugerida uma relação entre os transtornos de humor e as doenças crônicas do sistema respiratório.5–8
Estudos têm demonstrado que indivíduos com doenças crônicas apresentam maior risco de apresentar depressão e ansiedade do que indivíduos saudáveis.9,10 Além disso, uma metanálise mostrou que pessoas com histórico de DPOC tem 1,9 vezes maior propensão de cometer suicídio do que aquelas sem DPOC.11
Em pacientes com DPOC, a concomitância de transtornos de humor compromete a qualidade de vida e prejudica tanto o diagnóstico quanto o prognóstico da doença. O diagnóstico fica dificultado pela sobreposição entre os sintomas da DPOC e os sintomas da depressão e da ansiedade, tornando o processo de diagnóstico dos transtornos mentais tarefa complexa de ser realizada, podendo, inclusive, colaborar para subdiagnóstico da doença respiratória.9
Entretanto, o tratamento da depressão e da ansiedade como comorbidades da DPOC também fica prejudicado, pois pacientes ansiosos e deprimidos tendem a ter maior dificuldade em aceitar o tratamento e abandonar alguns hábitos, como o tabagismo, além de prejudicar a adesão ao tratamento medicamentoso e ao tratamento não medicamentoso da DPOC, em especial, a participação nos programas de reabilitação.9
Neste contexto, identificar e tratar os sintomas de depressão e de ansiedade em doentes respiratórios crônicos seria fundamental, pois, na realidade, sabe-se que na DPOC eles raramente são tratados de forma eficaz.12 Da mesma forma, saber quando e para quem encaminhar os pacientes com rastreio positivo de depressão e ansiedade, além de reconhecer os benefícios dos programas de exercícios sobre os sintomas de depressão e ansiedade, em especial a reabilitação pulmonar (RP), é fundamental. Entretanto, conhecer os instrumentos disponíveis para rastreio e saber como interpretá-los são tarefas complexas, porém determinantes àqueles que atendem e/ou pesquisam a DPOC, exatamente como acontece com o profissional fisioterapeuta respiratório.
Neste cenário, procura-se fornecer subsídios aos fisioterapeutas para que eles aprendam a suspeitar e rastrear a presença de sintomas de ansiedade e de depressão nos pacientes sob seus cuidados e, com isso, auxiliem no tratamento da depressão e da ansiedade de forma eficaz. O manejo adequado da depressão e da ansiedade comórbidas à DPOC otimiza os resultados terapêuticos e a documentação dos resultados auxilia a consolidar as evidências científicas da abordagem fisioterapêutica nos sintomas de depressão e de ansiedade dos doentes respiratórios.