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O QUE O PSIQUIATRA PRECISA SABER SOBRE A CARIPRAZINA

Autores: Jaime Eduardo Cecilio Hallak, Tiago Moraes Guimarães
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  • Introdução

Há cerca de 60 anos, teve início uma nova fase no tratamento dos transtornos psiquiátricos, com a fortuita descoberta de que a clorpromazina apresentava efeitos dramáticos no controle dos sintomas psicóticos. Tal achado deu origem à classe farmacológica conhecida como antipsicóticos. Isso contribuiu para a desinstitucionalização de um grande número de pacientes e permitiu que uma parcela significativa de indivíduos cronicamente incapacitados pudesse retomar suas vidas de forma relativamente normal.1

Anos depois, trabalhos pioneiros relacionaram a efetividade dos antipsicóticos ao bloqueio dos recém-descobertos receptores de dopamina do tipo 2 (D2Rdopamina do tipo 2).2,3 A indústria farmacêutica rapidamente explorou esses achados e desenvolveu inúmeros antipsicóticos, todos com efetividade similar e com efeitos adversos mediados pelo padrão de afinidade a vários outros receptores.

Hoje, o tratamento farmacológico da esquizofrenia permanece virtualmente o mesmo. A clozapina, desenvolvida em 1961, é o fármaco antipsicótico mais eficaz para a esquizofrenia.4 As tentativas de desenvolver um composto igualmente eficaz e sem os efeitos adversos hematológicos e ortostáticos desse psicofármaco falharam.5

A ineficácia dos antipsicóticos é mais óbvia em relação aos sintomas negativos e aos déficits cognitivos, que são preditores significativos de funcionalidade.5 Contudo, mesmo os sintomas positivos da esquizofrenia persistem em um número considerável de pacientes, apesar do tratamento antipsicótico agressivo.6

Talvez ainda mais frustrante seja o fato de que não apenas os fármacos que agem primariamente nos D2Rdopamina do tipo 2 falharam em reduzir de forma completa os sintomas chave da esquizofrenia, mas também os que foram propagandeados como superiores por serem antagonistas dos receptores de serotonina do tipo 2A (5HT2Areceptores de serotonina do tipo 2A), conhecidos como antipsicóticos atípicos ou de segunda geração.7 A proposta era a de que a ação nesses receptores evitaria os principais efeitos colaterais dos fármacos de primeira geração, como hiperprolactinemia e sintomas extrapiramidais (SEPsintoma extrapiramidals), além de reduzir os sintomas negativos.7

Entretanto, tais fármacos apresentam eficácia similar quando comparados a fármacos como a ferfenazina, por exemplo, um antipsicótico típico, e não há uniformidade em relação aos efeitos adversos, apesar de que, como grupo, a incidência de SEPsintoma extrapiramidals é menor.7 Mais de meio século após a descoberta dos antipsicóticos, a psiquiatria necessita não apenas de novas medicações, mas de novos alvos farmacológicos.8

A cariprazina é um novo antipsicótico, aprovado em setembro de 2015 pelo Food and Drug Administration (FDAFood and Drug Administration), para o tratamento do transtorno afetivo bipolar (TABtranstorno afetivo bipolar) e da esquizofrenia. A maior afinidade da cariprazina pelos D3R é considerada o principal fator para uma possível eficácia superior em sintomas negativos e cognitivos.9

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:

 

  • compreender a função dos D3R no sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central);
  • entender a farmacologia da cariprazina;
  • conhecer os estudos experimentais em animais e clínicos que dão suporte à cariprazina como antipsicótico, antimaníaco e antidepressivo;
  • identificar as possíveis vantagens da cariprazina;
  • apreender as indicações clínicas, a posologia e os principais efeitos adversos da cariprazina.
  • Esquema conceitual
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