- Introdução
A doença arterial coronariana (DACdoença arterial coronariana) é a principal causa de morte em todo o mundo, e no Brasil não poderia ser diferente. Em nosso País, a DACdoença arterial coronariana é responsável por, aproximadamente, 31% das mortes cardiovasculares, ultrapassando a morte por acidente vascular cerebral (AVCacidente vascular cerebral).1
Os pacientes acometidos por uma síndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST (SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST) acabam evoluindo a óbito — de 40 a 65% na primeira hora e aproximadamente 80% nas primeiras 24 horas — se a síndrome não for identificada e tratada a tempo. Portanto, o diagnóstico correto e a instituição de um tratamento de reperfusão precoce são fundamentais para evitar a isquemia miocárdica, que pode levar à necrose e a um consequente quadro de insuficiência cardíaca (ICinsuficiência cardíaca) com grave disfunção ventricular.
Por outro lado, o óbito precoce devido à fibrilação ventricular (FVfibrilação ventricular) nas primeiras horas de uma SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST pode ser reduzido por algumas medidas, como campanhas de conscientização da população para identificar sinais e sintomas de uma síndrome coronariana aguda (SCAsíndrome coronariana aguda), treinamento na abordagem de vítimas de mal súbito de forma adequada por leigos, com a utilização de desfibrilador externo automático, e melhorias no atendimento pré-hospitalar por profissionais de saúde.
Diversas são as patologias que alteram o equilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio no miocárdio, o que leva à perda da autorregulação do fluxo coronário e pode causar isquemia e consequente necrose celular. A SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST ocorre, na grande maioria dos casos, devido à formação da aterosclerose coronária, quando uma ruptura da placa de ateroma ativa a agregação plaquetária e a cascata de coagulação com a formação do trombo, ocasionando a oclusão trombótica total do vaso e dando início ao processo de isquemia miocárdica que, quando não revertido, leva à necrose do miocárdio.2
Na prática, o diagnóstico das SCAsíndrome coronariana aguda, com ou sem supradesnível do ST, tem base em uma série de achados clínicos, eletrocardiográficos e laboratoriais. Contudo, em alguns casos, o diagnóstico é difícil, uma vez que muitos pacientes apresentam sintomas atípicos e exames complementares inicialmente normais, como nos casos de pacientes idosos, do sexo feminino, com ICinsuficiência cardíaca, diabetes melito (DMdiabetes melito) e portadores de marcapasso.
A expertise de quem faz o primeiro atendimento é fundamental para um diagnóstico correto. História clínica adequada, exame físico acurado, análise criteriosa do eletrocardiograma (ECGeletrocardiograma) e interpretação adequada dos marcadores de necrose miocárdica são etapas fundamentais para diagnosticar e tratar a grande maioria dos pacientes.
Entender a fisiopatologia envolvida na SCAsíndrome coronariana aguda auxilia no tratamento diante de um quadro de infarto agudo do miocárdio (IAMinfarto agudo do miocárdio). O diagnóstico e o tratamento devem ser instituídos de forma precoce e sem retardo na sua terapia de reperfusão.
Neste capítulo, serão abordadas a propedêutica e a terapêutica fundamentada nas atuais diretrizes sobre a SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST, para que se possa intervir de forma segura na evolução da história natural dessa doença.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer uma SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST em suas diferentes apresentações clínicas;
- avaliar a melhor estratégia de reperfusão a partir de um fluxograma sistematizado e fundamentado nas diretrizes vigentes;
- prescrever as terapias adjuvantes necessárias na SCACSSTsíndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST;
- identificar as possíveis complicações fatais.
- Esquema conceitual