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APLICABILIDADE DA TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS DE WANDA DE AGUIAR HORTA AO CUIDADO DE ENFERMAGEM PRESTADO AO PORTADOR DE ESQUIZOFRENIA EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA

Autores: Renê dos Santos Spezani, Bruno de Oliveira Dias, Taiane Cardoso da Silva, Alessandra de Souza Duarte Marques, Ana Caroline Silva Pereira da Cruz
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  • Introdução

Na literatura, destaca-se que a esquizofrenia é conhecida como uma das doenças psiquiátricas mais graves e desafiadoras, sendo definida como uma síndrome clínica complexa que compreende manifestações psicopatológicas variadas de pensamento, percepção, emoção, movimento e comportamento.1

Trata-se de uma doença que aparece com muita frequência entre os transtornos mentais, ocasionando a ocupação de um número elevado de leitos nos hospitais psiquiátricos. Estima-se que cerca de 75 mil novos casos desse transtorno surjam no Brasil por ano, o que representa cerca de 50 casos para cada 100 mil habitantes.1

Os portadores de esquizofrenia se sentem discriminados pela denominação de esquizofrênicos e de “loucos” que lhes é imputada. Em decorrência do estigma que esse diagnóstico acarreta, tanto para o paciente quanto para seus familiares, costuma ocasionar grande desconforto, sendo imprescindível um olhar diferenciado por parte dos profissionais de saúde em relação a esse processo de mudança, que vem ocorrendo no âmbito das doenças psiquiátricas.1

A reformulação do modelo de assistência em saúde mental impulsiona o afloramento de desafios, no sentido de que os gestores e profissionais de saúde insiram novas estratégias de atenção e ação para que o cuidado atinja as perspectivas de integralidade e humanização nos cenários de saúde, de modo que os pacientes com esquizofrenia deixem de ser considerados sob o estigma da loucura e possam, então, ser contemplados como seres humanos que, apesar da doença, também devem ser vistos como portadores de possibilidades.2

Com a reforma psiquiátrica, legalmente respaldada e amparada com a promulgação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental,3 houve a necessidade de se criar novos modelos de atendimento aos pacientes com esquizofrenia.

Desde então, com a reorganização da assistência psiquiátrica, observou-se a necessidade da criação de modelos intra e extra-hospitalares para o acompanhamento desses pacientes por uma equipe multiprofissional, para atendimento ambulatorial e de emergência dos usuários com essa singularidade.3,4

Com a adoção desse novo paradigma de atenção em saúde mental, vislumbra-se uma assistência mais humanizada e individualizada para o portador do transtorno, com vistas a ajudar a minimizar o risco de crises, implementar estratégias para reduzir o risco de hospitalização, estreitar os laços entre os profissionais de saúde, os pacientes e seus familiares, sendo essas prerrogativas fundamentais para, assim, obter melhores resultados sobre a inclusão social e familiar desse paciente.4

Existem, também, unidades hospitalares que funcionam como porta de entrada para pacientes em crise, as quais são indicadas para os casos mais graves que necessitam de um atendimento mais demorado ou até mesmo de urgência e internações.4

O profissional de saúde que atua na área da emergência tem que ter o cuidado de manter os vínculos sociais, ambientais e afetivos dos sujeitos, evitando medidas violentas, repressoras ou excludentes, capazes de comprometer as relações dos pacientes que vivenciam a crise.5,6 O paciente com transtornos mentais apresenta, muitas vezes, alterações de discernimento e comportamento que são capazes de acarretar agressividade com os familiares e profissionais de saúde.5

Sabe-se também que a descoberta da esquizofrenia se torna um processo extremamente difícil e doloroso, pois a convivência com o transtorno, além de ser permeada pelo estigma social, ainda é acompanhada de intenso sofrimento e limitações. As limitações, de modo geral, decorrem da deterioração de vários processos mentais, fazendo com que o indivíduo apresente alguns sintomas característicos da esquizofrenia, conhecidos como sintomas positivos — delírios e alucinações — e sintomas negativos — como diminuição da atividade motora e psíquica.1

Entretanto, observa-se que a convivência do familiar com a pessoa em sofrimento psíquico desperta alguns sentimentos, que geralmente expressam as dificuldades de enfrentamento desse processo, tais como o despreparo emocional e o desconhecimento sobre a doença mental; a angústia e impotência diante da crise; a cidadania comprometida; o ambiente familiar e interacional deteriorado nas relações interpessoais; a rejeição; a culpabilização; a medicalização do corpo para a cura, e o sanar dos problemas familiares.2

Em virtude da complexidade da doença, as famílias costumam sofrer muito com a descoberta do diagnóstico e com o aparecimento das crises provocadas pela esquizofrenia, não sendo raros os casos em que alguns familiares manifestem atitudes de inaceitação e negação frente aos primeiros sinais da doença. Sabe-se que a participação da família no acompanhamento do indivíduo com esquizofrenia é considerada muito importante para a continuidade do paciente no tratamento, pois o modo de agir e pensar do familiar pode interferir diretamente com o ente adoecido.1

Entretanto, percebe-se que o transtorno provoca uma desordem na rotina existencial da família, razão pela qual o cuidador passa a colocar suas próprias necessidades e seus desejos em segundo plano, ficando, assim, sobrecarregado ao sofrer intensamente com a condição da pessoa adoecida e vivenciando sentimentos de intensa aflição, isolamento, tristeza, culpa e angústia, por arcar com todos os prejuízos gerados pela esquizofrenia.7

Considerando esses apontamentos, é importante salientar que a esquizofrenia prejudica inúmeras necessidades básicas do ser humano acometido.2 Da mesma forma, percebe-se existir uma lacuna teórica verificada na literatura de enfermagem sobre a temática, o que acaba por acarretar a dificuldade para a realização de uma assistência qualificada. Esse hiato entre a teoria e a prática justifica a realização desse estudo, a partir do referencial da teoria das necessidades humanas básicas de Horta.8

Para tanto e considerando a relevância da temática, foram elaboradas as seguintes questões norteadoras: Quais necessidades humanas básicas descritas por Horta são afetadas no paciente portador de esquizofrenia e em seus familiares? Como a teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta pode ser aplicada ao cuidado de enfermagem ao portador de esquizofrenia e a sua família em unidades de emergência? Como pode ser realizada a sistematização da assistência de enfermagem à pessoa portadora da esquizofrenia e a sua família nas unidades de emergência psiquiátrica à luz da teoria das necessidades humanas básicas de Horta?8

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • descrever a fisiopatologia da esquizofrenia;
  • identificar as necessidades humanas básicas que são afetadas no paciente portador de esquizofrenia e em seus familiares descritas por Horta;
  • analisar a aplicabilidade da teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta ao cuidado de enfermagem ao portador de esquizofrenia e a sua família em unidades de emergência;
  • sugerir um protocolo de sistematização da assistência de enfermagem (SAEsistematização da assistência de enfermagem) para a implementação com a pessoa portadora da esquizofrenia e sua família em unidades de emergência psiquiátrica à luz da teoria das necessidades humanas básicas de Horta.

 

  • Esquema conceitual

 

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