- Introdução
A fibrilação atrial (FAfibrilação atrial) é a arritmia cardíaca mais frequente na prática clínica e, recentemente, vem ganhando grande atenção em razão de suas características epidemiológicas. Trata-se de uma anormalidade do ritmo idade-dependente, apresentando sua maior prevalência nas últimas décadas de vida. Dessa forma, com o envelhecimento populacional, estima-se que aproximadamente 33,5 milhões de pessoas vivam com FAfibrilação atrial.1
O alto número de casos de FAfibrilação atrial encontrado na prática clínica não é apenas justificado pela idade; outros fatores parecem estar contribuindo para esse incremento observado nas últimas décadas. A prática de exercício físico extenuante, o consumo de álcool e o tabagismo2,3 são exemplos de fatores de risco para FAfibrilação atrial. A atividade física recreativa e regular é benéfica para a prevenção dessa anormalidade do ritmo, mas a atividade excessiva de atletas de alta performance é a responsável por um maior risco de FAfibrilação atrial.
Não apenas fatores relacionados a hábitos de vida são importantes, mas fatores cardiovasculares, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade4 e apneia obstrutiva do sono (AOSapneia obstrutiva do sono)5,6 também estão associados ao maior risco de desenvolvimento da arritmia. Observou-se que 81,6% dos pacientes portadores de FAfibrilação atrial crônica persistente ou permanente apresentavam AOSapneia obstrutiva do sono em uma amostra de hospital terciário.7
Os mecanismos envolvidos no aparecimento de FAfibrilação atrial em pacientes com AOSapneia obstrutiva do sono permanecem incertos, mas a ativação simpática, as alterações na pressão intratorácica e a hipóxia intermitente podem contribuir para o início e a manutenção da arritmia. Além disso, a AOSapneia obstrutiva do sono pode prejudicar o funcionamento do átrio esquerdo. Estudos com ecocardiografia tridimensional demonstraram disfunção e remodelamento atrial esquerdo, com reversão após tratamento efetivo com pressão positiva.8
Além da importância epidemiológica, a FAfibrilação atrial é destacada pelas suas repercussões clínicas, incluindo os fenômenos tromboembólicos. A FAfibrilação atrial aumenta, em média, 4 vezes a chance de um acidente vascular cerebral (AVCacidente vascular cerebral). Em pacientes com a forma persistente e permanente de FAfibrilação atrial, é fácil fazer o diagnóstico da arritmia subjacente; entretanto, em muitos casos, apesar de toda a investigação diagnóstica, o paciente é referido como portador de AVCacidente vascular cerebral criptogênico.
Recentemente, com a disponibilização do monitor de eventos na prática clínica, foi demonstrado que uma parcela significativa desses pacientes também apresenta a FAfibrilação atrial como causadora da complicação neurológica.9
O aumento dos casos de FAfibrilação atrial também é observado nas admissões em sala de emergência. São observados mais de 20 mil atendimentos em emergência por FAfibrilação atrial por ano, em Ontário, no Canadá.10 A adequada abordagem dessa arritmia, incluindo a prevenção de fenômenos tromboembólicos, é fundamental para um atendimento de excelência, com protocolos criteriosos e fluxo de fácil acesso para o acompanhamento de pacientes submetidos à anticoagulação.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
- identificar os principais aspectos epidemiológicos, clínicos e diagnósticos da FAfibrilação atrial;
- reconhecer as principais diretrizes de tratamento da FAfibrilação atrial na emergência.
- Esquema conceitual
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ATIVIDADE |
1. Como a FAfibrilação atrial apresenta-se ao eletrocardiograma de 12 derivações? Compare sua resposta com o texto a seguir.