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ATUALIZAÇÃO EM ESPOROTRICOSE

Autor: Vitor Márcio Ribeiro
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • discutir o histórico da esporotricose e sua distribuição no mundo e no Brasil;
  • identificar a biologia do agente da esporotricose nas fases de vida parasitária e não parasitária (ambiental);
  • descrever a manifestação da esporotricose em diferentes espécies;
  • interpretar os sinais clínicos da esporotricose nos animais;
  • listar as formas de diagnóstico da esporotricose;
  • aplicar as formas de tratamento e manejo da infecção e da doença;
  • reconhecer os aspectos de saúde pública e saúde única da esporotricose;
  • empregar as ações de controle da esporotricose, visando à saúde dos animais e dos humanos.

Esquema Conceitual

Introdução

Videoaula sobre o capítulo

A esporotricose é uma doença subaguda ou crônica, causada por fungos termodimórficos do gênero Sporothrix, que está atualmente distribuída em todo o mundo, principalmente nas zonas tropicais e subtropicais.1

A infecção geralmente ocorre por inoculação traumática de solo, plantas e matéria orgânica contaminados com o fungo. Certas atividades de lazer e ocupacionais são tradicionalmente associadas à micose, como floricultura, agricultura, mineração e exploração de madeira.2

Ocorre, também, a transmissão a partir do contato com a lesão de animais infectados, principalmente gatos. Desse modo, veterinários, técnicos, cuidadores e proprietários de gatos com esporotricose constituem uma categoria de risco para a aquisição da doença.1–4

Clinicamente, a esporotricose é caracterizada por pequenos nódulos que evoluem para supuração e ulceração. Tais nódulos se localizam na pele e no tecido subcutâneo e, menos frequentemente, atingem órgãos internos.5,6

Em humanos, a esporotricose pode ser classificada como sistêmica, imunorreativa ou de regressão espontânea, de acordo com sua manifestação na pele e na membrana mucosa.7,8 Embora a doença cause uma morbidade considerável, ela raramente é associada à mortalidade.2 Essas categorias clínicas não são atribuídas aos animais, porque eles têm, frequentemente, mais de uma forma de apresentação da doença.9

A forma mais comum de esporotricose em cães e gatos consiste em nódulos cutâneos e úlceras, com o envolvimento frequente de mucosas.9

A esporotricose ocorre em todo o mundo. A doença tem sido menos frequente na Europa e mais frequente nas Américas, na África, no Japão e na Australásia, com áreas hiperendêmicas no Brasil, na China e na África do Sul.9–11 É considerada a micose subcutânea mais frequente na América Latina, onde é endêmica.1

Entre os animais suscetíveis, o gato é a espécie de maior importância. Isso não se deve somente ao fato de ser altamente vulnerável à infecção e à doença, mas também à capacidade de transmissão para pessoas e outros animais.9

Um aspecto de grande relevância na atualidade é a visão de saúde única. Ações voltadas a esse conceito devem favorecer a vida de humanos e animais envolvidos, evitando a contaminação e buscando viabilizar o tratamento de todos.12

História da esporotricose

A primeira observação bem documentada da esporotricose foi feita por Schenck, em 1896, quando isolou o agente de lesões na mão e no braço direito de um homem com 36 anos de idade, nos Estados Unidos.13,14 Dois anos após, dois casos humanos foram descritos em Chicago. Em 1900, foi proposta a espécie Sporothrix schenckii (Ascomycota: Ophiostomatales).15

No Brasil, a doença natural foi observada em ratos Mus decumanus (Rattus norvegicus) oriundos de esgotos e em ratos brancos criados em laboratório. Em humanos, a observação data de 1907.16 Sugeriu-se que a transmissão ocorria por meio de mordeduras, uma vez que o organismo era isolado da mucosa da boca e formas morfologicamente idênticas eram encontradas na mucosa do estômago, e pela inoculação de culturas do agente.16 Cavalos naturalmente infectados foram identificados pela primeira vez em 1909, nos Estados Unidos, e em 1934, no Brasil.17,18

Saunders, em um trabalho de revisão publicado em 1948, apresentou a distribuição da esporotricose pelo mundo. Ele mostrou que, além de humanos, ratos e equídeos, a doença acomete outras espécies, como:9,19

  • cão;
  • gato;
  • hamster,
  • chimpanzé;
  • suíno;
  • golfinho;
  • caprino;
  • tatu;
  • raposa;
  • camelo;
  • galinha.

Ainda em 1896, Schenck inoculou o material obtido do caso humano em um cão sadio, que desenvolveu a doença, demonstrando que essa espécie era também suscetível à esporotricose.13,14,19 Infecções experimentais em gatos foram reportadas em 1907, na França.19

Mesmo com todas as descrições das infecções em humanos e diversas espécies animais, a esporotricose ainda era classificada como uma doença ocupacional de horticultores. Considerava-se que as infecções em animais ou humanos eram oriundas de feridas provocadas por farpas ou espinhos.19 Entretanto, em 1952, nos Estados Unidos , foi relatado o primeiro caso de esporotricose felina com transmissão a um ser humano.20 No Brasil, em 1955, foram relacionadas rotas zoonóticas de transmissão, por meio de arranhões de gatos e preás e mordidas de ratos e cães, embora houvesse predomínio da transmissão sapronótica, por traumas envolvendo farpas e espinhos.21

Em 2007, estudos fenotípicos e genotípicos levaram à descrição de quatro novas espécies no complexo Sporothrix:22,23

  • S. globosa;
  • S. brasiliensis;
  • S. mexicana;
  • S. luriei.

A espécie S. brasiliensis é considerada restrita ao Brasil e se mostra altamente patogênica para humanos e animais, caracterizando-se por um alto grau de transmissibilidade de gatos para humanos e de gatos para cães. Essa condição leva à manifestação de surtos em gatos e humanos no Brasil.24

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