Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever as ferramentas de avaliação respiratória funcional (dispositivos auxiliares) aplicáveis em unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP), seus pontos de corte, análise dos achados e sua aplicabilidade prática no contexto da criança e do adolescente em ventilação pulmonar mecânica invasiva (VPMI);
- selecionar as ferramentas auxiliares que possam ser necessárias para a avaliação respiratória funcional de crianças e adolescentes gravemente doentes em UTIP sob VPMI;
- analisar e interpretar os exames e seus achados de crianças e adolescentes doentes em UTIP em uso de VPMI.
Esquema conceitual
Introdução
As doenças respiratórias continuam sendo a principal causa de internação hospitalar em pediatria e a causa mais frequente da necessidade de intubação traqueal e do uso de ventilação não invasiva (VNI) e de VPMI.1
Concomitante ao uso do suporte ventilatório, seja VNI, seja VPMI, algumas medidas podem ser necessárias, como uso de analgossedação e algum grau de manutenção do paciente no leito. Em pediatria, esse contexto pode determinar complicações no sistema respiratório e neuromusculoesquelético, assim como atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) em razão da restrição no leito e de efeitos das medicações (opiáceos, corticoides, entre outros).2
Atraso no reconhecimento da deterioração do sistema respiratório, tratamento inadequado e retardo na adoção de medidas clínicas podem ser considerados causas importantes de falha no cuidado de pacientes internados e podem contribuir para a síndrome do imobilismo no leito, pneumonia associada à VM (PAV), lesão dermatológica por pressão, declínio da funcionalidade global, aumento do tempo de suporte ventilatório e de internação e, consequentemente, aumento do risco de síndrome pós-alta da terapia intensiva pediátrica (PICSPed, em inglês, post-intensive care syndrome in paediatrics).2 Entretanto, uma avaliação apropriada, com identificação precoce da deterioração clínica do paciente, e planejamento (em tempo) de tratamento e intervenções eficazes contribuem de maneira significativa para a segurança do paciente e um desfecho clínico de melhor qualidade.3
Para tal, deve-se realizar anamnese detalhada, bem como exame físico minucioso, para avaliar os sinais e sintomas clínicos do paciente e, assim, determinar a melhor conduta a ser adotada em momento apropriado. Os elementos básicos que devem estar incluídos na avaliação respiratória da criança em UTIP são:3
- anamnese;
- exame físico global;
- avaliação respiratória funcional.
O médico e o fisioterapeuta, principalmente, devem estar familiarizados com as diferenças anatômicas e fisiológicas do sistema respiratório do paciente pediátrico. Também é importante identificar as manifestações clínicas ocasionadas pelas doenças mais frequentes que acometem o sistema respiratório em pediatria, ou de outros sistemas, que possam interferir no sistema respiratório.4
Este capítulo visa descrever as ferramentas de avaliação respiratória funcional aplicáveis em UTIP em crianças sob VPMI, seus pontos de corte, a análise dos seus achados e a sua aplicabilidade prática no contexto clínico. Serão abordadas as ferramentas (dispositivos auxiliares) que podem ser usadas nesse contexto, excluindo da abordagem a avaliação da mecânica respiratória por meio do aparelho de VM.