- Introdução
A anatomia e a fisiologia da articulação femorotibiopatelar (joelho) dos cães e gatos são muito complexas, e o completo entendimento desses mecanismos auxilia sobremaneira o estudo e o tratamento das afecções que acometem essa articulação. O conhecimento da anatomia dos ligamentos cruzados cranial e caudal evoluiu gradualmente ao longo do tempo, em particular no que diz respeito aos seus aspectos morfológicos.
Historicamente, a ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCCrruptura do ligamento cruzado cranial) em cães era caracterizada como consequência de um episódio traumático, com posterior desenvolvimento da osteoartrite do joelho; entretanto, a partir da década de 1980, essa hipótese tem passado por mudanças. Foi verificado um risco aumentado de RLCCrruptura do ligamento cruzado cranial contralateral em cães afetados e, muitas vezes, a história clínica dos pacientes não se apresentava compatível com os episódios traumáticos.
Recentes estudos demonstram, de forma clara, que a osteoartrite do joelho precede o desenvolvimento da ruptura e da instabilidade subsequente na maioria dos cães, levando a outra forma de olhar para a sua patogenia.
Atualmente, o termo doença do ligamento cruzado cranial tem sido utilizado para abranger uma variedade de desordens que afetam essa importante estrutura anatômica do joelho. Acredita-se que a doença do ligamento cruzado cranial seja a maior causa de claudicação de membros pélvicos no cão, ultrapassando a displasia coxofemoral. Desordens como rupturas por avulsão da inserção do ligamento, ruptura traumática aguda secundária ao excesso de tensão e a ruptura secundária à degeneração progressiva de causa desconhecida resultam em ruptura parcial ou total do ligamento cruzado cranial.
Existem diversos procedimentos cirúrgicos descritos para o tratamento da insuficiência do ligamento cruzado cranial e a escolha do método que apresente melhores resultados ainda é controversa. Historicamente, tendo em vista o tratamento do ligamento cruzado anterior em pacientes humanos, as técnicas intracapsulares foram amplamente utilizadas, porém os resultados abaixo do esperado tornaram-nas menos populares.
Atualmente, os procedimentos cirúrgicos utilizados preconizam o tratamento da instabilidade da articulação, e não a reconstrução ou a reparação do ligamento cruzado cranial propriamente dita. A estabilização é alcançada por técnicas de osteotomias da tíbia ou por técnicas extracapsulares.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever as funções, a biomecânica e os aspectos morfológicos do ligamento cruzado cranial;
- reconhecer a complexidade da etiopatogenia;
- entender os fatores que podem desencadear a doença do ligamento cruzado cranial;
- identificar os padrões raciais individuais mais predispostos e os fatores de risco para o desenvolvimento da lesão ligamentar;
- reconhecer os sinais clínicos característicos da lesão no ligamento cruzado cranial;
- diagnosticar/classificar a lesão no ligamento cruzado cranial;
- indicar as diversas modalidades de diagnóstico por imagem complementares e saber como utilizá-las;
- tratar o portador da doença do ligamento cruzado cranial de forma individualizada, indicando o melhor tratamento disponível para esse paciente.
- Esquema conceitual
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