- Introdução
Disfunções neurológicas são importantes causas de incapacidade e morte no mundo. Esses comprometimentos, como um grupo, foram a principal causa de anos vividos com incapacidade em 2015 (251 milhões de anos, o que corresponde a 10% dos anos vividos com incapacidade no mundo) e a segunda principal causa de morte no mundo (9 milhões, o que corresponde a 17% dos óbitos). Isso significou aumento, entre 1990 e 2015, de 7% no número de anos vividos com incapacidade e de 37% no número de mortes.1
Em países não desenvolvidos ou em desenvolvimento, foi reportado aumento da incidência de acidente vascular cerebral (AVCacidente vascular cerebral); globalmente, houve maior incidência de epilepsia, da prevalência de esclerose múltipla e da incidência de tumores cerebrais. Uma vez que países não desenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil, ainda estão passando pela transição demográfica relacionada com o crescimento populacional, com redução da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida, é esperado que o número de indivíduos com disfunções neurológicas continue a aumentar nas próximas décadas.1
As doenças neurológicas provocam impacto negativo na saúde superior ao das doenças cardiovasculares (excluindo o AVCacidente vascular cerebral), das disfunções mentais ou do câncer. Portanto, o número de pessoas que precisará de cuidados adequados por profissionais da área neurológica crescerá. Assim, é importante desenvolver intervenções para promover a saúde e a funcionalidade dos indivíduos com disfunções neurológicas. Com o intuito de reduzir o impacto negativo na saúde dessa população, uma das abordagens promissoras é a intervenção por meio de exercícios físicos.1
O exercício físico pode exercer impacto sobre a neuroplasticidade, que é a habilidade de o sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central) modificar suas estruturas e funções em resposta a novas experiências. As possíveis modificações estruturais e funcionais que ocorrem no SNCsistema nervoso central incluem diversos mecanismos, como:2
- alterações na força das transmissões sinápticas (comunicações entre os neurônios);
- formação de novas sinapses (sinaptogênese);
- reorganização cortical;
- crescimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese);
- indução de formação de novos neurônios (neurogênese).
As mudanças no SNCsistema nervoso central podem ser resultantes de modificações no comportamento e no ambiente, como o exercício físico, e ser desencadeadas após processos patológicos, como o AVCacidente vascular cerebral. Logo, estruturas e funções neuronais danificadas após um comprometimento neurológico podem ser restauradas por meio da neuroplasticidade, aspectos que serão mais bem discutidos a seguir.2
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer evidências relacionadas com a eficácia do exercício aeróbio em desfechos de neuroplasticidade em indivíduos com disfunções neurológicas;
- identificar evidências relacionadas com os parâmetros de exercício aeróbio para melhora de desfechos de neuroplasticidade em indivíduos com disfunções neurológicas;
- listar as possibilidades das aplicações clínicas das evidências relacionadas com a eficácia do exercício aeróbio em desfechos de neuroplasticidade para reabilitação;
- descrever os parâmetros do exercício aeróbio já utilizados para promover neuroplasticidade;
- reconhecer questões relacionadas com a eficácia do exercício aeróbio em desfechos de neuroplasticidade que ainda devem ser mais bem investigadas.
- Esquema conceitual