Introdução
Em razão do aumento global da expectativa de vida, alcançado nas últimas décadas, observa-se, também, uma prevalência crescente das doenças relacionadas ao envelhecimento, entre elas, as desordens neurodegenerativas.1,2
Nesse cenário, a hidrocefalia de pressão normal (HPN) tem atraído a atenção e despertado o interesse científico, particularmente devido à potencial reversibilidade dos sintomas após o tratamento cirúrgico.3–9
A HPN é considerada uma das poucas causas tratáveis de demência,1,2,4,7,9 podendo ser responsável por cerca de 5% de todas as síndromes demenciais.9
Descrita em 1965 por Hakim e Adams,1,2,5,10 a HPN é caracterizada por uma tríade de sintomas (tríade de Hakim) — composta por distúrbio de marcha, comprometimento cognitivo e incontinência urinária — associada ao alargamento desproporcional à atrofia do sistema ventricular cerebral à neuroimagem e a níveis normais de pressão do líquido cefalorraquidiano (LCR) à punção lombar.1,2,5,7,8,11
Ainda em 1965, os autores descreveram que os pacientes apresentaram melhora sintomática dramática com o tratamento neurocirúrgico,3,11 destacando assim a HPN como uma síndrome neurológica tratável.5,7-10,12
Em 1975, Shenkin e colaboradores6 reportaram casos de pacientes nos quais a HPN se manifestou a despeito da ausência de fatores predisponentes, denominando-a idiopática. Desse modo, em função do reconhecimento ou não de sua etiologia, a HPN pode ser classificada como secundária (HPNs) ou idiopática (HPNi).1,2,6,8,9,13,14
A HPNi tem etiologia desconhecida, enquanto a HPNs tem como etiologia traumatismo cranioencefálico, acidentes cerebrovasculares, infecções de sistema nervoso central (SNC), neoplasias cerebrais, cirurgia intracraniana prévia e estenose de aqueduto.
A HPNs acomete indivíduos de qualquer faixa etária, ao passo que a HPNi ocorre, predominantemente, naqueles com mais de 60 anos.9,10
Dada a maior relevância no âmbito da geriatria, a HPNi será, a partir de agora, o objeto de estudo deste capítulo.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- conceituar a HPN e classificá-la quanto a sua etiologia;
- reconhecer a epidemiologia e as hipóteses fisiopatológicas da HPNi;
- realizar a abordagem clínica dos pacientes com suspeita de HPNi;
- indicar os principais exames complementares para o diagnóstico de HPNi;
- identificar os testes funcionais pré-operatórios;
- orientar, de modo geral, quanto ao prognóstico da doença e a expectativa de resposta ao tratamento cirúrgico.