Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- ter ciência, de modo geral, da importância da insuficiência cardíaca na carga de doenças no mundo e no Brasil;
- reconhecer a fisiopatologia da insuficiência cardíaca, as principais etiologias, classificações e objetivos do tratamento do paciente com diagnóstico da doença;
- conhecer os fármacos utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, seu papel na terapia e os principais efeitos adversos;
- identificar os principais medicamentos envolvidos no desenvolvimento e/ou na exacerbação dos sintomas de insuficiência cardíaca;
- compreender a importância do trabalho multidisciplinar e integrado no cuidado à pessoa com insuficiência cardíaca.
Esquema conceitual
Introdução
Imaginemos a seguinte situação: o farmacêutico, no serviço de emergência de um hospital de médio porte, atende uma paciente de 71 anos, obesa, que apresenta cansaço e falta de ar aos mínimos esforços, dificuldade para respirar quando caminha mais rápido ou em subidas íngremes, ortopneia, dispneia paroxística noturna e inchaços nas pernas.
A paciente não apresenta dor no peito, palpitações ou desmaios, tem hipertensão diagnosticada há três anos, sofreu infarto agudo do miocárdio (IAM) há dois anos e possui diagnóstico de depressão e dislipidemia. Ela relata que não consulta com cardiologista há 1 ano e meio, mas segue usando seus medicamentos (propranolol 40mg, 1 comprimido 2x/dia; ácido acetilsalicílico [AAS] 100mg, 1 comprimido 1x/dia [após o almoço]; sinvastatina 20mg, 1 comprimido 1x/dia [à noite]; sertralina 50mg, 1 comprimido 1x/dia [ao acordar]).
Os resultados do exame físico, dos exames laboratoriais de admissão e dos exames de imagem evidenciam diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC). Qual seria o papel inicial do farmacêutico no cuidado dessa paciente?
A IC é uma condição complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma suficientemente eficaz para atender às necessidades metabólicas de órgãos e tecidos; ou então só consegue fazê-lo às custas de elevadas pressões de enchimento.
O tratamento farmacológico é essencial para melhoria da qualidade de vida e desfechos positivos no manejo dessa doença, mas agrega uma carga importante de polifarmácia aos seus portadores que, em geral, já possuem em média outras duas a três comorbidades.
O papel do farmacêutico no cuidado à pessoa com IC é essencial não apenas na garantia da adesão ao tratamento, mas na condução de protocolos clínicos institucionais (em especial, de diureticoterapia), na revisão da farmacoterapia desses pacientes, buscando a melhor evidência científica na individualização de terapias (tanto ambulatorialmente quanto em nível de internação), na conciliação medicamentosa de admissão hospitalar e, prioritariamente, no planejamento da alta hospitalar, ao prevenir novas hospitalizações.
Este capítulo busca detalhar questões teóricas relativas à doença e seu tratamento, durante a abordagem a ser realizada pelas equipes multiprofissionais no cuidado às pessoas vivendo com IC, servindo de base para a compreensão da atuação do farmacêutico no cuidado das pessoas com IC.
As etapas do cuidado da paciente descrita anteriormente serão apresentadas ao longo do capítulo, sendo abordadas as questões relativas à doença e a seu tratamento, e retomadas no final do capítulo, em Caso clínico.