Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a importância de realizar um diagnóstico diferencial;
- conceituar os princípios do método McKenzie® de diagnóstico e terapia mecânica (MDT) (avaliação, tratamento, autotratamento, recuperação de função e prevenção de lesão);
- compreender o MDT como método de raciocínio clínico, e não como técnica isolada para tratamento de lesões no esporte;
- inferir que, no esporte, as lesões têm recuperação eficaz e segura, sem enfoque no modelo patoanatômico, mas no modelo cinético funcional.
Esquema conceitual
Introdução
Este capítulo trata do papel do MDT na fisioterapia esportiva e nos desafios do atual modelo da equipe multidisciplinar do esporte. Com base na vivência clínica dos autores e por evidências científicas, será exposta sua utilização na recuperação e na prevenção de lesões.
O MDT foi desenvolvido pelo fisioterapeuta Robin McKenzie na década de 1950. Os princípios de tratamento do método promovem o potencial do corpo para se reparar e não envolvem o uso de medicamentos, calor, frio, ultrassom (US), agulhas ou cirurgia. É um sistema de avaliação e classificação com bom embasamento em pesquisas, além de uma das filosofias de tratamento de queixas musculoesqueléticas mais reconhecidas e praticadas no mundo.1
Embora o MDT seja mais amplamente praticado para a abordagem de pacientes com sintomas de problemas na coluna vertebral, apresenta confiabilidade entre profissionais treinados para classificar alterações na lombar,2 e há um número crescente de pesquisas sobre a classificação e a aplicação do MDT em pacientes com dores na cervical e com problemas nas extremidades.2,3
O MDT engloba classificações caracterizadas por produzirem apenas dor local ou dor referida e tem sido usado por clínicos na diferenciação de sintomas de problemas na coluna e nas extremidades.4,5 Além disso, por ser uma terapia conservadora para o tratamento de distúrbios musculoesqueléticos, baseia-se em estratégias de carga mecânica e educação do paciente de maneira psicossocial.6
Segundo o MDT, há 13 possibilidades para fechar um diagnóstico mecânico ou não mecânico da coluna ou das extremidades: desarranjo, disfunção (contrátil ou articular), postural e o subgrupo outros (trauma, articulação estruturalmente comprometida, síndrome de dor crônica, inflamação, pós-cirúrgico, mecânico inconclusivo, aprisionamento do nervo periférico, processo de doença do tecido mole, vascular, bandeiras vermelhas).6,7
A maioria dos fisioterapeutas que já ouviram falar sobre o MDT acredita que ele está ligado apenas à preferência direcional (PDpreferência direcional), que é corrigir um problema com apenas um movimento previsível, como a extensão lombar, por exemplo, demonstrando uma visão estreita sobre a terapia e o diagnóstico mecânico. O MDT consiste em uma linha de raciocínio direcionada para a compreensão e a resolução do problema.1,4,8
Neste capítulo, serão abordados os diagnósticos mais comuns na prática clínica desportiva dos autores deste texto: desarranjo (sintomas variáveis, causados por obstrução e com resposta duradoura e rápida após estratégias de tratamento), disfunção contrátil (é consistente em seu quadro clínico, com dor na mesma amplitude e no mesmo arco de movimento) e trauma (inicialmente, é constante, quando agudo; ao se tornar crônico e intermitente, será reclassificado e tratado com base nas fases de recuperação). Além disso, pretende-se mostrar a comum ineficácia do trabalho calcado apenas no modelo patoanatômico.
Os autores declaram não ter qualquer relação profissional com o Instituto McKenzie Brasil ou Instituto McKenzie Internacional, embora tenham a formação no método nessa instituição. A motivação para a autoria do capítulo foi única e exclusivamente a vivência e a experiência clínica dos autores com o MDT e com o esporte.