- Introdução
Rupturas do manguito rotador são extremamente comuns na população em geral, e sua frequência tende a aumentar com a idade.1 A exata prevalência é bastante variável pois a maioria dos estudos descrevendo essa informação avaliaram de forma distinta ou agruparam dados de prevalência de diferentes tendões do manguito.
Outras questões que influenciam nos índices de prevalência são os métodos utilizados para a identificação das rupturas e o delineamento do estudo investigando essa informação, como, por exemplo, dados provenientes de estudos com humanos versus cadáveres ou ultrassonografia (US) versus ressonância magnética (RMressonância magnética).2 Isso acontece porque a US apresenta limitação para a identificação de rupturas parciais e tendinopatia e, como resultado, diferentes frequências de alterações do manguito rotador são descritas por vários estudos.3
Um estudo de mapeamento realizado com a população inteira de uma cidade do Japão reportou ao redor de 10% de rupturas do manguito rotador em indivíduos a partir dos 50 anos de idade, 16% aos 60 e de 27 a 37% em indivíduos entre 70 e 80 anos de idade.4 Embora esses índices sejam um pouco mais precisos do que em outros estudos, eles são relacionados com uma população mais velha e, portanto, com generalização limitada. Outros estudos reportam entre 23 e 39% de rupturas do manguito rotador na população em geral.5–7
As informações disponíveis atualmente na literatura ainda são pouco fidedignas, pela falta de detalhes acerca da severidade, extensão e até mesmo da identificação do tendão acometido. Como resultado, não se pode afirmar com certeza uma taxa de prevalência representativa da população de um modo geral. Além disso, rupturas bilaterais do manguito rotador já foram descritas em indivíduos com dor unilateral ou, ainda, em população assintomática.4,8,9 Nesse contexto, está-se diante de um grande questionamento ao modelo patoanatômico, no qual se estabelece uma relação direta entre a lesão tecidual e o quadro clínico apresentado pelo paciente.
Evidências recentes têm sugerido a ideia de que há baixa associação entre rupturas teciduais e função ou sintomas, ou seja, as alterações patoanatômicas parecem insuficientes para explicar grande parte dos sintomas em todos os pacientes.10–13 Por isso, o maior desafio clínico é determinar a relevância da ruptura do manguito rotador para o quadro apresentado pelo paciente e o potencial de recuperação funcional do membro superior (MSmembro superior) a ser explorado dentro de um modelo biopsicossocial.
Este capítulo proporcionará uma visão prática e resumida da reabilitação de rupturas de manguito rotador e abordará informações que serão relacionadas de forma direta com a recuperação funcional. Entretanto, recomendam-se leituras complementares que contemplem informações importantes sobre o tema e que não serão abordadas aqui, como fatores etiológicos envolvidos nas rupturas de manguito rotador e alterações histológicas associadas à tendinopatia e ao exercício físico, além de fatores psicológicos associados ao tratamento fisioterapêutico.
- Objetivos
Após a leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- entender a importância da avaliação baseada no movimento do complexo do ombro;
- identificar a contribuição de cada movimento escapulotorácico e glenoumeral para a dor no ombro advinda de uma ruptura de manguito rotador;
- elaborar um raciocínio clínico com base nas alterações de movimento identificadas para decidir se o foco de tratamento será na musculatura escapulotorácica, nos próprios tendões do manguito rotador ou no músculo deltoide anterior.
- Esquema conceitual