- Introdução
Na área da saúde, é possível observar a intersecção de saberes, práticas e tecnologias com distintas finalidades, entre elas a diagnóstica e a terapêutica. Todavia, nas relações que são estabelecidas entre os profissionais e os clientes, podem ser desencadeados resultados terapêuticos ou iatrogênicos, a depender da instrumentalização e do encaminhamento das ações. Entre os fatores que podem interferir nesse processo estão os relacionados ao ambiente, aos recursos humanos e aos materiais. Tais aspectos refletem diretamente no emprego sistemático dos instrumentos e das técnicas nas diferentes finalidades do processo de trabalho.1,2
Nas relações vivenciadas nos cenários assistenciais, a temática da segurança tem uma ação abrangente e envolve diferentes aspectos do cuidado à saúde. Destarte, quando instituída na prática, ela traz os seguintes benefícios:
- redução da ocorrência de lesões e acidentes relacionados aos procedimentos e equipamentos;
- diminuição do tempo de tratamento e de hospitalização;
- melhora ou manutenção do estado funcional dos pacientes, aumentando sua sensação de bem-estar.
A segurança do paciente é reconhecida como a redução a um mínimo aceitável do risco de dano associado ao cuidado em saúde. O dano diz respeito ao comprometimento de estruturas ou funções do organismo humano, seja físico, social ou psicológico.3
Além de reduzir o risco de dano aos pacientes, um ambiente seguro oferece proteção à equipe de profissionais atuantes na assistência. Tal ambiente proporciona, ainda, as seguintes vantagens:4,5
- atendimento das necessidades humanas básicas dos pacientes;
- redução da transmissão microbiana;
- diminuição da incidência de infecções;
- conservação do estado sanitário;
- controle da poluição.
Serviços de saúde seguros e com elevados níveis de qualidade prestam uma assistência efetiva para aqueles que a necessitam, com desperdício mínimo de recursos. Por meio da aplicação do conhecimento científico e da tecnologia, seus benefícios são maximizados, e as pessoas não são expostas a riscos desnecessários. Logo, a qualidade está relacionada com a obtenção dos maiores benefícios com os menores riscos, em consonância com o paradigma vigente da enfermagem.6,7
Quando se fala de riscos ou vulnerabilidades, não se pode deixar de destacar as infecções relacionadas à assistência à saúde (IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde), que têm sido consideradas como um problema mundial de saúde pública. As IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde desafiam os avanços científico-tecnológicos, mobilizando a atenção de profissionais, pesquisadores e organizações nacionais e internacionais na busca da efetividade das medidas de prevenção e controle.2,8,9
As IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde podem resultar em internação prolongada, incapacidades em longo prazo e elevação da mortalidade, além de representar um ônus financeiro adicional para os sistemas de saúde, pacientes e familiares. Por conseguinte, constituem uma ameaça substancial à segurança dos pacientes e dos profissionais que atuam nos serviços de saúde.2,9
Há que se considerar que a problemática da incidência das IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde afeta todos os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento. Estima-se que milhões de pacientes sofram incapacidades, lesões ou morte como consequência de eventos adversos. Nos países desenvolvidos, a estimativa é que um em cada 10 pacientes seja vítima de danos causados em instituições hospitalares.7
A Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, um programa elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde), tem como princípio básico estabelecer uma assistência segura à saúde, a partir do desenvolvimento de políticas públicas por parte dos Estados.10 Como parte dessa Aliança Mundial, a OMSOrganização Mundial da Saúde lançou, em 2005, o primeiro desafio global, intitulado “Uma assistência limpa é uma assistência mais segura”. O objetivo desse desafio era prevenir e reduzir as IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde, e seu foco principal era a promoção das melhores práticas de higiene das mãos em todos os níveis de cuidados de saúde.2
O Ministério da Saúde (MSMinistério da Saúde), em consonância com as iniciativas globais da OMSOrganização Mundial da Saúde e em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AnvisaAgência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente, com vistas a contribuir para a prestação de um cuidado de qualidade nos serviços de saúde. No âmbito do Programa, foram instituídos protocolos voltados para a segurança do paciente no que tange ao controle e à prevenção das IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde.3,10
Apesar de várias organizações e instituições concentrarem esforços para o desenvolvimento de iniciativas, estratégias, diretrizes e medidas de prevenção, no intuito de melhorar a segurança do paciente, ainda são grandes os desafios relacionados às práticas de prevenção das IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde.
Este artigo apresenta um importante investimento na temática da segurança do paciente, no tocante às IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde. Para tanto, é necessário abordar a magnitude do problema, etapa fundamental para a identificação dos possíveis fatores intervenientes e de risco. É preciso, ainda, considerar o papel do enfermeiro na promoção de ambientes seguros, no manejo e na prevenção das IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde, no sentido de promover práticas que estejam em consonância com as melhores respostas à saúde do indivíduo, à família e à comunidade. Todo o artigo está estruturado para que, gradativamente, sejam alcançados os objetivos traçados.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- conceituar IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde;
- identificar os principais fatores de risco para a aquisição das IRASinfecções relacionadas à assistência à saúde;
- reconhecer a importância da segurança na assistência de enfermagem ao paciente com o diagnóstico de enfermagem (DEdiagnóstico de enfermagem) Risco de infecção (00004);
- identificar possíveis resultados e intervenções de enfermagem relativos ao DEdiagnóstico de enfermagem Risco de infecção.
- Esquema conceitual