Introdução
Quadros psicóticos agudos e transitórios, por vezes recorrentes, mesmo com intervalos de anos ou décadas, sempre desafiaram a prática psiquiátrica e intrigaram os mais variados psicopatologistas que buscavam caracterizá-los e descrevê-los com precisão.
É provável que o leitor mais experimentado na clínica psiquiátrica já tenha se defrontado com pacientes relatando a presença de sintomas psicóticos — por vezes bastante floridos — que tiveram um curso autolimitado ou que cederam facilmente ao tratamento e não trouxeram outras complicações. É possível que esses mesmos colegas tenham também se intrigado ao receber pacientes com características semelhantes, mas que apresentaram evolução distinta.
O transtorno psicótico breve, como definido na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5),1 é um construto diagnóstico com apresentações clínicas heterogêneas, de curso e sintomatologia variável e com prognóstico igualmente variável. Antes entendido como uma entidade benigna e com baixa taxa de recorrência ou complicações, ele tem sido constantemente revisitado, e os achados baseados em evidências sugerem um cenário bastante diferente do classicamente postulado.
Neste capítulo, são abordados os principais pontos sobre essa entidade diagnóstica e seu manejo, enfatizando os aspectos clínicos clássicos e, em especial, os novos apontamentos e considerações trazidos pelos estudos mais recentes no campo.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar o transtorno psicótico breve e diagnosticá-lo de acordo com os manuais diagnósticos atuais (DSM-5 e 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças [CID-11]);
- estabelecer raciocínio diagnóstico e etiológico bem definido para casos de primeiro episódio psicótico;
- indicar o tratamento agudo e de manutenção do transtorno psicótico breve;
- considerar opções globais de tratamento e estabelecimento de tratamentos baseados em evidências e na lógica da intervenção precoce em psiquiatria.