Introdução
A defecorressonância magnética (defeco-RM) estabelece seu papel à medida que promove uma avaliação dos múltiplos compartimentos pélvicos no estudo da desordem do assoalho pélvico, uma disfunção relativamente comum e geralmente complexa, a qual acomete mais frequentemente pacientes do sexo feminino.1 É resultante de lesões envolvendo ligamentos, fáscias e musculatura que dão suporte ao assoalho,2 com etiologia multifatorial, incluindo:3
- idade avançada;
- multiparidade;
- obesidade;
- doenças do tecido conjuntivo;
- cirurgias pélvicas (com destaque para cirurgia obstétrica e histerectomia);
- desordens que causem aumento da pressão intra-abdominal.
A idade e o sexo feminino são fatores preponderantes, sabendo-se que aproximadamente 50% das mulheres com mais de 50 anos apresentarão disfunção pélvica no mundo. Nos países em desenvolvimento, a prevalência de prolapso de órgãos pélvicos é de 19,7%, de incontinência urinária é de 28,7% e de incontinência fecal é de 7%.4
Os três diferentes compartimentos (anterior, médio e posterior) envolvidos na disfunção do assoalho pélvico geralmente se entrelaçam. O compartimento anterior engloba bexiga e uretra, o médio representa o útero e a vagina, enquanto o posterior é representado pelo reto e o canal anal.
Os sintomas de disfunção do assoalho pélvico costumam ser inespecíficos, com relatos de dor pélvica, sensação de pressão ou abaulamento/protuberância, constipação ou incontinência fecal ou urinária e disfunção sexual.2,5
O exame clínico isoladamente, em geral, é insuficiente, muitas vezes, necessitando-se de exames de imagem complementares, pois a abordagem baseada apenas nos sintomas e no exame físico pode levar a falhas no diagnóstico dos múltiplos compartimentos envolvidos.1,3 Como os músculos e as fáscias do assoalho pélvico atuam como uma única entidade funcional, a disfunção de um compartimento é geralmente associada à disfunção de um dos outros.6
Enquanto causas de disfunção do assoalho pélvico localizadas nos compartimentos anterior e médio podem ser geralmente detectadas no exame físico, as causas envolvendo o compartimento posterior geralmente não são detectadas nesse exame, mas são bem vistas pela ressonância magnética (RM).2
Além da avaliação de múltiplos compartimentos, a defeco-RM possui as vantagens de não fornecer radiação ionizante e de apresentar uma excelente avaliação dos tecidos de partes moles. Ademais, pode realizar uma avaliação tanto anatômica quanto funcional do assoalho. Exemplificando: o estudo de um paciente com disfunção da defecação pode revelar tanto uma causa mecânica (por exemplo, retocele/intussuscepção retal), como uma causa funcional (por exemplo, dissinergia).1
As técnicas utilizadas na realização do exame e o protocolo de ressonância magnética variam entre os diferentes serviços. Em relação ao protocolo, recomenda-se que se realize o mesmo para diferentes pacientes, o que permitirá uma qualidade de exame uniforme, com tendência à redução dos erros por déficit de experiência dos técnicos e dos médicos radiologistas, além de simplificar o fluxo de trabalho por tornar o tempo do exame mais predizível7 e também por criar uma rotina para toda a equipe envolvida.
Além do estudo morfológico, com imagens anatômicas do assoalho pélvico, o estudo dinâmico deve ser realizado com imagens obtidas realizando-se manobras de contração, Valsalva e evacuação. O estudo dinâmico tem papel central no diagnóstico da disfunção pélvica, sendo crucial na escolha entre o tratamento conservador e o cirúrgico.8
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar a anatomia do assoalho pélvico por meio da defeco-RM;
- apontar as indicações para realização da defeco-RM;
- reconhecer o preparo necessário para o estudo, bem como o protocolo utilizado na defeco-RM;
- indicar as principais alterações visíveis pela defeco-RM no estudo dinâmico do assoalho pélvico.