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Atenção domiciliar em período de Covid-19

Autores: Natalia Dias de Almeida Costa, Leonardo Cançado Monteiro Savassi
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • revisar as ações da atenção domiciliar (AD) nos seus três níveis em caso de COVID-19;
  • avaliar o papel da atenção primária à saúde (APS) no cuidado domiciliar em caso de COVID-19;
  • realizar a coordenação do cuidado às pessoas com síndromes pós-COVID-19;
  • utilizar as etapas de paramentação e desparamentação seguras no domicílio;
  • descrever os possíveis instrumentos de avaliação da limitação de funcionalidade.

Esquema conceitual

Introdução

Em dezembro de 2019, na cidade Wuhan, na República Popular da China, foi registrada pela primeira vez a doença do coronavírus 2019, mais conhecida como COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, tendo se espalhado rapidamente pelo mundo, até que, em março de 2020, foi declarado o caráter pandêmico da doença.1 Um alerta mundial foi emitido sobre a rápida propagação da doença e, diante desse cenário, o Ministério da Saúde (MS) declarou emergência de saúde pública de importância nacional em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus.2

O MS recebeu a primeira notificação de um caso confirmado de COVID-19 no Brasil em 26 de fevereiro de 2020. Os dados diários informados pelas secretarias estaduais de saúde ao MS apontam que, de 26 de fevereiro de 2020 até a semana epidemiológica na qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência em saúde pública, foram confirmados 37.449.418 casos e 701.494 óbitos por COVID-19 no Brasil.3

Uma avaliação abrangente do excesso de mortalidade devido à COVID-19, por meio de um algoritmo de machine-learning com uma vasta lista de covariáveis para produzir estimativas de excesso de mortalidade em 187 países, levou a uma estimativa global de 18,0 milhões (intervalo de confiança de 95%: 12,9 a 21,0) de excesso de mortalidade relacionada à COVID-19 no período de 1º de janeiro de 2020 a 27 de dezembro de 2021.4

Já segundo a OMS, o excesso de mortalidade, ou seja, número total de mortos associado direta ou indiretamente à pandemia de COVID-19 entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021, foi de aproximadamente 14,9 milhões (intervalo de confiança de 95%: 13,3 milhões a 16,6 milhões).5

O excesso de mortalidade é calculado como a diferença entre o número de mortes que ocorreram e o número que seria esperado na ausência da pandemia com base em dados de anos anteriores. Inclui mortes diretas ou indiretamente associadas à COVID-19, pelo impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade.5

Passados mais de três anos desde o início da pandemia, o atendimento de pessoas suspeitas ou confirmadas com infecção pelo SARS-CoV-2, o acompanhamento de quadro de COVID-19 longa e as amplas campanhas de vacinação ainda somam um grande número, o que exige diariamente dos profissionais de saúde a dedicação e uma jornada de trabalho extensa e exaustiva.6

A estratégia de vacinação — apesar do aumento no número de casos de COVID-19 no início de 2022, devido à disseminação da variante ômicron — promoveu uma redução considerável da letalidade da doença até o momento.6

A COVID-19 tem imposto imensos desafios para os sistemas de saúde de diversos países em todo o mundo, à medida que se propaga. O potencial de contágio, as características de sua evolução e o grau de complexidade de cuidados em saúde que pode requerer são alguns desses desafios.7

Algumas medidas de contenção e mitigação da pandemia foram adotadas a partir da observação do curso da doença e das formas de transmissão, como distanciamento físico, testagem massiva (apesar da dificuldade em se conseguir kits em quantitativo suficiente) e em familiares de contatos, isolamento de casos, minimização da circulação de pessoas e uso de máscaras, que têm sido amplamente preconizadas com vistas a evitar o crescimento descontrolado de casos e o colapso dos sistemas e serviços de saúde.7

A vacinação contra a COVID-19 iniciou em 8 de dezembro de 2020 no Reino Unido,8 apenas 11 meses após a notificação do primeiro caso. O Brasil iniciou a sua campanha de vacinação na segunda quinzena de janeiro de 2021.9 Antes da vacinação, cerca de 80% dos casos de COVID-19 evoluíam com quadros leves ou mesmo eram assintomáticos, e 20% apresentavam quadro moderado ou grave.8

A COVID-19 trouxe elevada demanda por cuidados de saúde nos diferentes níveis de atenção, com destaque para o volume de atendimentos de sintomáticos respiratórios na APS e nos serviços de urgência. Embora, após o período vacinal, a demanda por atendimento tenha reduzido, e a mortalidade tenha caído drasticamente, persistiu a necessidade de atendimento diferenciado ao menos por dois anos, com variações em números de casos de acordo com a cepa viral.

Tendo em vista que a demanda regular dos serviços de saúde nos diferentes níveis de atenção em condições normais comumente já enfrenta gargalos nos sistemas de saúde, a rápida disseminação da doença e o elevado índice de transmissibilidade do SARS-CoV-2 geraram ainda mais preocupação pela exposição dos profissionais da saúde e pelo risco de infecção de pessoas com outras condições de saúde que utilizam os serviços de saúde.

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