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AVALIAÇÃO E CONDUTA NO ABDOME AGUDO GINECOLÓGICO

Autores: Gustavo Anderman Barison, Mariana Corinti, Juliana Pagotto Trevizo
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Objetivos

Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de

  • identificar os diferentes tipos de abdome agudo ginecológico e caracterizá-los de acordo com suas particularidades;
  • reconhecer as manifestações clínicas e as diferentes causas etiológicas das emergências ginecológicas mais frequentes;
  • estabelecer corretamente quais os meios mais eficientes para diagnosticar cada tipo de abdome agudo ginecológico, a partir do quadro clínico e da interpretação dos exames complementares;
  • definir o tratamento ideal para esse conjunto de afecções.

Esquema conceitual

Introdução

Em pacientes do sexo feminino, a dor abdominal aguda pode ser causada por patologias ginecológicas, gastrintestinais e do trato urinário. A dor abdominal aguda relacionada ao trato ginecológico é uma apresentação comum no âmbito da emergência. A ampla gama de diagnósticos diferenciais que devem ser considerados pode tornar o cenário desafiador. Muitas vezes, decisões terapêuticas devem ser rápidas e objetivas, com a necessidade ou não de intervenção cirúrgica.

As causas ginecológicas em mulheres não gestantes mais frequentes são doença inflamatória pélvica (DIP) aguda, afecções ovarianas (como ruptura de cistos ovarianos ou torção ovariana), patologias uterinas (como degeneração, torção ou prolapso de leiomiomas uterinos) e agudização de dor endometriótica. Por outro lado, aborto espontâneo e gravidez ectópica são as causas mais frequentes de dor abdominal aguda em pacientes grávidas.1,2

Em casos de suspeita de doença ginecológica aguda, a história clínica e o exame físico devem ser interpretados em associação a exames complementares. É imperativa a avaliação do status de gravidez da paciente, a fim de possibilitar a diferenciação entre cenários de emergência ginecológicos e obstétricos, além de auxiliar na escolha da modalidade de exame de imagem que será solicitado para elucidação do caso — uma vez que, a depender da escolha, pode-se acarretar risco para o feto, como é o caso da tomografia computadorizada (TC).3,4

Os exames complementares de imagem ou laboratoriais desempenham papel crucial na determinação da etiologia do abdome agudo ginecológico, além de serem essenciais para a distinção entre condições potencialmente ameaçadoras à vida e à fertilidade dessas pacientes. A interpretação correta dos achados de imagem, obtidos por meio de ultrassonografia (US), TC ou ressonância magnética (RM), permite um diagnóstico precoce e auxilia no planejamento adequado do tratamento.1

De modo geral, a ultrassonografia transvaginal (USTV) geralmente é a técnica diagnóstica de primeira escolha em razão de sua maior disponibilidade e praticidade nos sistemas de saúde, associada à sua maior sensibilidade em detectar a maioria das causas de dores abdominais de cunho ginecológico e à ausência de exposição à radiação. Nos casos de laudos inconclusivos à USTV, necessidade de reconhecimento de complicações ginecológicas em caráter de urgência ou de sobreposição na apresentação clínica que gere eventual dúvida em relação à dor de origem ginecológica, urinária ou gastrointestinal, a TC é uma opção.5,6

Por fim, a RM pode ser também uma importante e preciosa ferramenta para avaliação de massas complexas e caracterização adicional e detalhada dos demais exames mencionados.5,6 O papel proeminente da imagem é distinguir as causas de abdome agudo ginecológico tratáveis de forma conservadora das emergências, que exigem abordagem cirúrgica.7

Portanto, compreender os princípios da avaliação e da conduta adequada às emergências ginecológicas é essencial para garantir um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz, proporcionando menores chances de consequências irreparáveis a essas pacientes, como a cronificação do processo de dor, perda de fertilidade ou, até mesmo, o óbito.

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