Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar inadequações ergonômicas no ambiente físico do centro cirúrgico, como mobiliários, equipamentos e ferramentas;
- reconhecer fatores de sobrecarga cognitiva nas atividades relacionadas à cirurgia;
- definir a importância da ergonomia e da ergonomia cognitiva como ferramentas de bem-estar, saúde, segurança e produtividade para cirurgiões e equipe;
- utilizar os conceitos de ergonomia para a melhoria das posturas de cirurgiões e equipe, bem como para alterações e implementações de melhorias em equipamentos, instrumentais e mobiliários do centro cirúrgico;
- aplicar conceitos da ergonomia cognitiva para adequação das sobrecargas cognitivas e emocionais relativas às atividades em cirurgia.
Esquema conceitual
Introdução
Em geral, médicos cirurgiões dedicam longas horas de trabalho a procedimentos e intervenções inerentes às suas atividades, podendo apresentar posturas estáticas, repetitivas e desconfortáveis. Isso se soma aos desafios do design de instrumentos, equipamentos, mobiliários e ferramentas, os quais, em grande parte, não são apropriados, favorecendo o aparecimento dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs).
Para além das questões físicas e biomecânicas, os profissionais cirurgiões são submetidos à elevada demanda cognitiva, com foco nos processos, nos métodos e nas técnicas utilizadas durante as cirurgias, nas possíveis intercorrências e na variabilidade do processo, na saúde e na segurança do paciente e da equipe, bem como na precisão e na qualidade dos resultados.
A somatória da alta carga cognitiva e da sobrecarga física podem resultar em cansaço, fadiga, dores e até patologias, as quais podem limitar as atividades, aumentar o absenteísmo, gerar incapacidades temporárias ou permanentes, podendo ocasionar aposentadoria precoce do profissional ou impactar a segurança e a qualidade do resultado de suas atividades.
A ergonomia é uma ciência voltada para a compreensão da atividade real do trabalho, no sentido de transformá-la para a adequação ao ser humano, proporcionando conforto, segurança e produtividade. Já a ergonomia cognitiva é uma vertente de estudo da ergonomia que se ocupa de compreender os aspectos da inteligência humana envolvidos no trabalho e para o trabalho, como atenção, percepção, compreensão, categorização, memorização, raciocínio, abstração, conclusão ou resolução para a ação.
A complexidade de cada um dos referidos itens e da mente humana como um todo é somada à complexidade das exigências das tarefas, acarretando um estudo bastante aprofundado e útil para determinar diversos assuntos de interesse, como carga cognitiva ocupacional, gestão do conhecimento, confiabilidade humana, prevenção de erros e usabilidade de produtos e sistemas.
No contexto da medicina, tanto a ergonomia quanto a ergonomia cognitiva assumem papel crucial, sobretudo na prática cirúrgica. A complexidade das tarefas cirúrgicas, que resultam em grande sobrecarga física e mental para os profissionais, tornam ambas as ciências essenciais, no sentido de que as práticas ergonômicas, ou a falta delas, podem afetar a saúde e o bem-estar dos profissionais de saúde, assim como podem impactar a eficiência, a precisão e a segurança dos procedimentos e dos processos.
O objetivo deste capítulo é introduzir conceitos e princípios da ergonomia e da ergonomia cognitiva, a fim de que o leitor possa aplicá-las, de forma prática e factível, em sua rotina de trabalho, sobretudo no centro cirúrgico e durante suas atividades intervencionistas.