Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar os aspectos da avaliação endoscópica da deglutição no indivíduo adulto;
- avaliar clinicamente o paciente disfágico com ênfase aos órgãos fonoarticulatórios e pares cranianos envolvidos no processo de deglutição;
- caracterizar os sinais e sintomas da disfagia;
- reconhecer a integridade funcional da deglutição orofaríngea;
- identificar a etiologia estrutural (exclusão de causas anatômicas obstrutivas) da disfagia;
- identificar os exames complementares de propedêutica armada para avaliação do processo de deglutição;
- avaliar a disfagia neurogênica.
Esquema conceitual
Introdução
A deglutição é um processo neuromuscular dinâmico que compreende didaticamente quatro fases, que são a pré-oral e oral (voluntárias), a faríngea e a esofágica (involuntárias), cujo objetivo é o transporte seguro do alimento da boca ao estômago. Para que esse processo ocorra de forma coordenada, são necessárias inúmeras estruturas neuromusculares orais, faríngeas, laríngeas e esofágicas integradas por um complexo controle multissináptico.1 Alterações biomecânicas ou fisiológicas dessas estruturas provocam quebra na eficiência da deglutição, resultando em disfagia.2
A disfagia é um sintoma que se refere a um comprometimento na deglutição e pode acometer uma de suas fases ou todas conjuntamente. Pode ser orofaríngea, envolvendo alterações neurofuncionais, ou mecânica, manifestando-se com alterações estruturais.3 Corresponde à dificuldade de deglutição relacionada a qualquer alteração no funcionamento das estruturas orofaringolaríngeas e esofágicas, que dificultam ou impossibilitam a ingestão oral segura e eficaz de saliva, líquidos e/ou alimentos de qualquer consistência, podendo ocasionar desnutrição, desidratação, aspiração, desprazer e isolamento social, além de complicações mais graves, como pneumonia aspirativa e até óbito.4
A disfagia orofaríngea caracteriza-se por comprometimento na transferência do bolo alimentar da cavidade oral até o esôfago, sendo a sintomatologia frequentemente relacionada à dificuldade em iniciar a deglutição, à sensação de alimento parado na garganta1 e aos engasgos. É frequentemente associada a doenças sistêmicas ou neurológicas, efeitos colaterais de medicamentos, doenças neurodegenerativas, quadros de presbifagia, entre outros.1
Entre as manifestações clínicas relacionadas às disfagias orofaríngeas, estão emagrecimento, desnutrição, desidratação e broncopneumonia por aspiração, com impacto na qualidade de vida dessa população. Nesse contexto, a aspiração pulmonar se torna uma questão de saúde pública, uma vez que aumenta a morbidade e a mortalidade de indivíduos com qualquer condição clínica de base, afetando um número significativo de indivíduos.1
A disfagia mecânica é decorrente de alterações estruturais, incluindo lesões neurais periféricas, ressecções de tumores de cabeça e pescoço, intubação orotraqueal prolongada, sequelas pós-radioterapia, entre outras. Essas alterações levam à falta de estruturas anatômicas do sistema estomatognático. Frequentemente, é transitória e passível de adaptação com uso de estruturas remanescentes.
As principais manifestações da disfagia mecânica são xerostomia, necessidade de engolir várias vezes, voz alterada durante ou após a alimentação e dor para engolir em graus variados, entre outros sinais e sintomas.3 Acarretam sequelas importantes que comprometem a alimentação, mastigação, deglutição e fonoarticulação, com impacto evidente na qualidade de vida em relação aos aspectos nutricionais, sociais e de manutenção da vida.4