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SÍNDROME DA BOCA ARDENTE

Autores: Matheus Simão Marcos, Ali Mahmoud
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Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • caracterizar as formas clínica e epidemiológica da síndrome da boca ardente;
  • compreender a fisiopatologia da síndrome da boca ardente.
  • identificar os diagnósticos diferenciais a serem pesquisados na suspeita de síndrome da boca ardente;
  • reconhecer as opções terapêuticas existentes atualmente para pacientes com a síndrome da boca ardente;
  • estabelecer um fluxograma para o diagnóstico e o manejo do paciente com queimação oral.

Esquema conceitual

Introdução

Existem diversas definições para a síndrome da boca ardente, feitas pelas mais variadas associações de estudiosos do tema ao longo do tempo.1 A mais utilizada atualmente é a da International Headache Society, que a define como “queimação intraoral ou sensação disestésica, recorrendo diariamente por mais de 2 horas, por um período maior do que 3 meses, sem lesões causais clinicamente evidentes e não mais bem explicada por outro diagnóstico”.1 É, portanto, uma doença crônica, idiopática e um diagnóstico de exclusão.

Classicamente, a síndrome da boca ardente foi classificada em primária e secundária.2 Quando causas orgânicas não são identificadas, tem-se a forma primária, que é idiopática; quando fatores causais locais ou sistêmicos que justifiquem os sintomas são encontrados, tem-se a forma secundária. Atualmente, a tendência é chamar de síndrome de boca ardente somente a forma primária. As formas secundárias são, na realidade, outras doenças que apresentam manifestações clínicas semelhantes e que devem ser excluídas durante a investigação diagnóstica.

Sua fisiopatologia ainda não é completamente compreendida. Acredita-se que as manifestações clínicas sejam decorrentes tanto de neuropatia periférica quanto de alterações centrais no sistema inibitório da dor. Também há incertezas sobre o papel dos transtornos psiquiátricos na síndrome da boca ardente. Há evidente associação com ansiedade, depressão e transtornos de personalidade,3 mas ainda não se sabe se são comorbidades, fatores causais, fatores moduladores ou consequências de um quadro doloroso crônico.

Como resultado de tantas incertezas, o tratamento da síndrome da boca ardente é desafiador. Dificilmente se atinge a resolução dos sintomas, mas a diminuição na intensidade da dor. Compreender melhor a fisiopatologia dessa doença provavelmente levará ao tratamento mais direcionado, com melhores resultados e maior impacto no restabelecimento da qualidade de vida dos pacientes acometidos.

Epidemiologia

Os dados de prevalência e incidência da síndrome da boca ardente são bastante variáveis, em função dos diferentes critérios diagnósticos utilizados pelos pesquisadores ao longo do tempo.

Um estudo populacional retrospectivo conduzido em Minnesota, Estados Unidos, em 2014, é o único que avaliou a incidência da síndrome, sendo 11,4 casos novos por 100 mil indivíduos ao ano.4 A prevalência, considerando os critérios diagnósticos atuais, fica entre 1 e 3,7% da população.5

O que é bem estabelecido de longa data, na literatura, são as características do paciente típico da síndrome da boca ardente, ou seja, as mulheres são mais acometidas, em uma proporção de sete para cada homem, principalmente na pós-menopausa. Em ambos os sexos, é nítido o aumento da prevalência com a idade, de modo mais acentuado após os 50 anos.4

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