■ Introdução
A osteoartrose (OAosteoartrose) é, hoje, uma das afecções mais comuns na prática diária do médico e nas clínicas de reabilitação. É a patologia articular mais comum da atualidade, com cerca de 27 milhões de casos apenas nos EUA.1
Cerca de 10% da população norte-americana acima dos 55 anos sofrem com os problemas dessa patologia. Desses pacientes, um quarto apresenta a doença de uma forma muito agressiva.1
No Brasil, as doenças degenerativas articulares são responsáveis por 30 a 40% das consultas nos ambulatórios dos reumatologistas, sendo a segunda patologia relacionada ao auxílio-doença e a quarta a determinar a aposentadoria.2
Embora seja consenso de que existem aspectos genéticos envolvidos na etiologia da OAosteoartrose,3 o desenvolvimento, a manutenção e a degeneração articular são regulados por fatores mecânicos, como atividades esportivas que lidam com a imposição de carga excessiva nas articulações e também o movimento anormal realizado pelas articulações diartrodiais. Isso pode demonstrar que a OAosteoartrose pode ter várias etiologias, porém todas levam à interação de fatores biológicos e mecânicos.
Esses fatores podem levar a um quadro que é caracterizado por degeneração da cartilagem articular e subsequentes alterações no osso subcondral. A lesão na cartilagem é, de certa forma, o maior temor do atleta, principalmente o de elite. A compreensão exata do mecanismo biológico que ocorre nesse processo é limitada, porém sabe-se que o ácido hialurônico (AHácido hialurônico) e as proteoglicanas têm um papel fundamental na mecanobiologia que envolve a proteção da cartilagem.
As características específicas de cada modalidade esportiva exigem movimentos que não seriam realizados no dia a dia. É importante compreender que o nível de exigência da cartilagem de um atleta depende diretamente do tipo de movimentos que são realizados na ação motora específica de cada modalidade.
O tratamento de eleição, em muitos casos de OAosteoartrose, tem sido o medicamentoso. Atualmente, o uso de medicamentos sistêmicos ou intra-articulares, de forma terapêutica ou preventiva, já faz parte do arsenal médico terapêutico.
As terapias farmacológicas sistêmicas têm como principal objetivo o alívio da dor, por meio de analgésicos (acetaminofeno, inibidores específicos da ciclo-oxigenase-2) e anti-inflamatórios não hormonais (AINH), além dos opioides.
As terapias intra-articulares têm sido largamente utilizadas no Brasil e no mundo, devido à rapidez dos efeitos analgésicos e de alívio dos sintomas de degeneração da cartilagem. Os medicamentos utilizados para esse tratamento são, principalmente, os glicocorticoides, o AHácido hialurônico e os tratamentos tópicos (por exemplo, capsaicina e metilsalicilatos).
Tais medicamentos são extremamente caros, levando a gastos na casa dos US$4 bilhões ao ano nos EUA, segundo o American College of Rheumatology Subcommittee on Osteoarthritis Guidelines. No Brasil, estima-se um gasto em torno US$2 bilhões ao ano com o tratamento de efeitos indesejáveis da OAosteoartrose.
A utilização dos condrorrepositores intra-articulares é eleita, com frequência, como tratamento dos atletas com comprometimento da cartilagem; contudo, tal emprego não deve ser feito de forma indiscriminada, haja vista seu efeito deletério.
■ Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, espera-se que o leitor esteja apto a:
- ■ identificar os principais componentes da cartilagem;
- ■ conhecer as funções e o funcionamento das proteoglicanas;
- ■ compreender as funções do AHácido hialurônico e o colágeno na cartilagem;
- ■ reconhecer os efeitos do treinamento físico sobre a cartilagem, bem como a mecanobiologia da cartilagem;
- ■ entender os tipos de forças intra-articulares que ocorrem sobre a cartilagem e os efeitos de tais cargas sobre seus componentes;
- ■ compreender como a cartilagem atua, amortecendo as forças a que é submetida;
- ■ aprender a avaliar e a identificar as principais modalidades de reabilitação física usadas em pacientes com alterações na cartilagem.
■ Esquema conceitual