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CHOQUE NEUROGÊNICO: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM NO CENÁRIO DE EMERGÊNCIA

Autores: Raphael Pessoa de Oliveira, Raul Luiz de Souza Cavalcanti, Leonardo dos Santos Barcelos, Thayene Leite da Silva
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  • Introdução

A literatura especializada na prática da enfermagem em cenários de emergência apresenta diversas definições para o quadro clínico de choque, sendo uma das mais antigas datada de 1872, quando Samuel Gross caracterizou o choque como “um desarranjo grosseiro na maquinaria da vida”.1

Em contrapartida, as definições mais recentes tendem a considerar a identificação do mecanismo que leva ao choque e suas implicações sobre a homeostase do paciente. Essas definições são mais específicas e caracterizam com mais clareza o quadro das disfunções fisiopatológicas observadas no choque.2

Esse é, na verdade, o princípio básico do atendimento de emergência, já que o estado de choque não pode ser definido somente pela baixa pressão arterial (PApressão arterial), pelo pulso rápido e pela pele fria e úmida, sendo essas apenas manifestações sistêmicas de todo o processo patológico em questão.3

É preciso observar que, independentemente do fator que desencadeou o choque, algumas respostas fisiológicas são comuns em todos os tipos de choque; são elas:3

 

  • hipoperfusão dos tecidos;
  • hipermetabolismo;
  • ativação da resposta inflamatória.

Em condições normais de funcionamento do organismo, o metabolismo energético ocorre de forma aeróbia dentro das células, onde os nutrientes são quimicamente quebrados, transformando-se em trifosfato de adenosina (ATPtrifosfato de adenosina), que fica armazenado para posterior utilização. É com essa energia que as células realizam o transporte ativo, a contração muscular e as demais funções do organismo.2,3

Quando o organismo entra em estado de choque, as células são privadas de oxigênio e de nutrientes, uma vez que o suprimento sanguíneo passa a ser inadequado. Desse modo, as células necessitam realizar a produção de ATPtrifosfato de adenosina por meio do metabolismo anaeróbio, ocasionando uma produção insuficiente de energia e um ambiente intracelular acidótico, que causa o inchaço da célula e o aumento da permeabilidade de sua membrana, resultando no comprometimento da bomba de sódio e potássio (Na+/K+) e na consequente danificação das estruturas, o que leva à morte celular.2,3

O que determina a chegada ou não do oxigênio às células é um sistema composto pelo coração (motor do sistema), pelo volume de líquidos (que funcionam como um fluido hidráulico), pelos vasos sanguíneos (encanamentos) e, finalmente, pelas células do corpo. Com base nesses componentes, o choque pode ser classificado como hipovolêmico, distributivo ou cardiogênico.2

O choque distributivo ocorre quando há alterações do tônus vascular por várias causas. Dentre os choques classificados como distributivos, encontra-se o choque neurogênico, objeto de discussão neste artigo.2

O choque neurogênico ocorre em decorrência de um desequilíbrio entre as estimulações parassimpática (dilatação) e simpática (contração). No choque neurogênico, o paciente encontra-se com a predominância da estimulação parassimpática, causando vasodilatação, que dura um período estendido e leva a um estado hipovolêmico relativo.4

Apesar de o volume sanguíneo ser adequado no choque neurogênico, os vasos sanguíneos encontram-se dilatados, o que acarreta um estado de hipotensão, resultando na perfusão insuficiente dos tecidos e das células, que é comum a todos os estados de choque. Essa condição pode ser causada por diversos motivos, tais como lesão raquimedular, anestesia espinhal ou lesão do sistema nervoso, ação depressora de medicamentos ou hipoglicemia severa.4

No choque neurogênico, o sistema nervoso simpático (SNSsistema nervoso simpático) não é capaz de responder aos estressores corporais, e, por isso, suas características clínicas são os sinais de estimulação parassimpática: pele seca e quente e hipotensão com bradicardia, diferentemente do que se observa em outros tipos de choque.4

Diante do choque neurogênico decorrente, predominantemente, de eventos traumáticos, de forma direta ou indireta, as ações imediatas nos cenários de emergência consistem, sobretudo, na atenção da equipe quanto às técnicas de imobilização adequada do paciente, garantindo um atendimento seguro. As ações devem privilegiar a cautela, evitando movimentos da coluna e dos segmentos lesionados e seus agravos pós-traumáticos.2–4

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • rever a fisiopatologia do choque neurogênico;
  • reconhecer as características clínicas do choque neurogênico;
  • revisar as principais complicações do choque neurogênico;
  • apreender as principais condutas a serem implementadas pelo enfermeiro e por sua equipe no atendimento à vítima de choque neurogênico;
  • identificar as diferenças clínicas apresentadas por vítimas de choque neurogênico e de choque medular.
  • Esquema conceitual
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