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CONSTRUTIVISMO TERAPÊUTICO NAS TERAPIAS COGNITIVAS PÓS-RACIONALISTAS

Autor: Lilian Erichsen Nassif
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  • Introdução

A ciência moderna, apoiando-se no objetivo cartesiano de conhecimento e pautada no empirismo, no positivismo e no materialismo, foi fundamental para o desenvolvimento da psicologia enquanto disciplina separada da filosofia e da fisiologia experimental nos séculos XVIII e XIX. Para tanto, em um contexto no qual se pressupunha um mundo regido por regularidades e leis matemáticas, a psicologia precisou submeter o seu objeto de estudo, o homem, às regras da previsibilidade e do controle, buscando o conhecimento verdadeiro, a representação clara e inequívoca da realidade.

A partir de alguns acontecimentos históricos, essa epistemologia da ciência tradicional, do acesso direto à verdade dos fatos reais foi, gradativamente, questionada pelo novo paradigma pós-racionalista. Contudo, encontram-se abordagens da psicologia e da psicoterapia cognitiva com base em perspectivas racionalistas e objetivistas, as quais, atualmente, não tratam do terreno fenomenológico e da complexa natureza da experiência humana vivenciada.

As perspectivas racionalistas e objetivistas de abordagem da psicologia e da psicoterapia cognitiva assumem que a realidade é constituída por uma ordem externa objetiva, existindo independentemente das observações das pessoas (pressuposto comum ao racionalismo tradicional, ao objetivismo e ao realismo), sendo inevitável que elas deixem passar despercebidas as suas próprias particularidades e os seus processos enquanto observadoras. As únicas possibilidades de investigação em um mundo objetivista são o refinamento ou aperfeiçoamento das percepções deste mundo e a modificação das representações mentais, de forma que elas reflitam a realidade objetiva.

Entretanto, com base na abordagem pós-racionalista, a terapia cognitivo-construtivista adota mudanças radicais desses pressupostos e das formulações tradicionais da experiência humana e do trabalho terapêutico. Por tal perspectiva não objetivista, torna-se fundamental entender de que modo as características das pessoas enquanto observadoras aparecem nesse processo de observação e, portanto, de que maneira participam na cocriação de realidades pessoais, as quais respondem individualmente, como explica Guidano:1

O que é importante enfatizar aqui é que não há um ponto de vista externo e imparcial, capaz de analisar o conhecimento individual independente da representação desse mesmo conhecimento; não há um “ponto de vista do olho de Deus” (PUTNAM, 1981). Portanto, o conhecimento deve ser considerado a partir de uma perspectiva epistemológica e ontológica, na qual o conhecer, a consciência e outros aspectos da experiência humana são vistos do ponto de vista do sujeito que experiencia.

Neste artigo, será mostrado como o pensamento pós-racionalista se manifesta em um conjunto de princípios construtivistas. Embora haja uma pluralidade de enfoques dentro dessa abordagem, todos eles demarcam a sua oposição a uma epistemologia objetivista.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • identificar a história das terapias pós-racionalistas ou da terapia cognitivo-construtivista;
  • reconhecer os princípios teóricos gerais da terapia cognitivo-construtivista;
  • analisar o papel do terapeuta na terapia cognitivo-construtivista;
  • diferenciar os princípios das terapias racionalistas ou objetivistas e da terapia cognitivo-construtivista;
  • reconhecer algumas técnicas da terapia cognitivo-construtivista e as suas aplicações em casos clínicos.
  • Esquema conceitual
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