- Introdução
No ciclo biopsicossocial, o ser humano experimenta fragilidades referentes à saúde. Essas experiências podem ter relação com episódios clínicos agudos, situações crônicas e acidentais, imprevistas na condição de vida, as quais se mostram como possibilidades ou limites de superação à existência. Nessa perspectiva, as doenças crônicas apresentam-se como a principal causa de mortalidade e são responsáveis por grande parte de todo o gasto decorrente com doenças no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).1
No Brasil, dados da OMS (2018) apontam que as doenças do aparelho circulatório, respiratório e neoplasias correspondem às mais letais. Ademais, existem outras patologias e causas externas que levam ao processo de morte/morrer.2 Assim, a abordagem e o cuidado no final da existência mostram-se relevantes diante da transição demográfica e epidemiológica, que impõe o crescente envelhecimento populacional e a prevalência das doenças crônico-degenerativas.3
Considerando tais dados, o cuidado de enfermagem permeia toda a existência e tem em sua abrangência processos saudáveis e doentios, que seguem o curso na busca do bem-estar.
Cuidar é uma ação de auxílio, de ajuda, de dedicação, de assistir o outro de forma sistemática, criativa e sob bases científicas. Assim, o cuidado é uma convergência da arte e da ciência, devido às situações impostas a profissionais de enfermagem frente ao compromisso científico de competência, interação e envolvimento com o ser.
A enfermagem tem a responsabilidade de cuidar do ser humano em seu ciclo vital durante o processo de saúde/doença, do nascimento à morte e em cenários múltiplos da produção em saúde. Logo, a morte e o morrer são processos na ação do cuidado de enfermagem e correspondem ao final do ciclo existencial dos seres vivos.
O ser humano tem consciência desse curso da existência. No entanto, há períodos de remissão e estagnação, nos quais os conflitos existenciais dão espaço a crenças que atenuam as incertezas frente aos mistérios da vida, tornando quase que esquecida a presença da morte. Assim, neste capítulo aborda-se a necessária atuação do enfermeiro e da equipe de saúde no cuidado no processo de morte/morrer, no campo da tanatologia. Enfatizam-se questões bioéticas, técnicas, emocionais e psicoespirituais, em um momento da existência que não se mostra para o cuidado em saúde como final, mas sob perspectivas particulares, que demandam habilidades profissionais no campo da percepção sensível e da abordagem científica, técnica e tecnológica.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever o cuidar/cuidado de enfermagem na morte e no morrer;
- reconhecer a bioética no cuidar/cuidado no processo de morte/morrer;
- distinguir os processos decisórios frente à morte e ao morrer;
- sistematizar o cuidado de enfermagem no processo de morte/morrer;
- detalhar o cuidado de enfermagem no preparo do corpo após a morte.
- Esquema conceitual