Entrar

ESPECIFICIDADES DA GESTÃO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM A PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS

Autores: Betina Hörner Schlindwein Meirelles, Bruna Coelho, Pollyana Bortholazzi Gouvea, Valdete Meurer Kuehlkamp, Veridiana Tavares Costa
epub-BR-PROENF-SA-C14V2_Artigo3
  • Introdução

A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids) evoluíram como um grande problema de saúde pública mundial e com repercussões sociais e econômicas, assumindo proporções pandêmicas, até os dias atuais, devido a sua rápida disseminação, seu agravamento e à impossibilidade de cura.1,2

Segundo dados epidemiológicos internacionais, existiam, em 2017, aproximadamente 37 milhões de pessoas vivendo com o HIV/Aids (PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids) em todo o mundo. Nesse mesmo ano, globalmente, houve 90 mil novas infecções pelo HIV a mais em homens do que em mulheres.3

Já no Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis e Aids, do Ministério da Saúde (MS), em 2017 existiam, aproximadamente, 882.810 PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids, com maior concentração dos casos notificados nas regiões Sul e Sudeste, correspondendo a 20,1 e 53% do total de casos, respectivamente.4

No que tange à diferenciação por sexo, a realidade nacional se contrapõe à mundial, visto que o maior número de notificações se concentra, prioritariamente, entre a população masculina, o que corresponde, aproximadamente, a 68% do número de registros no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), com uma razão de sexo equivalente a 2,5 (M:F).4

Embora os dados relacionados à contaminação ainda sejam significativos, observou-se, ao longo dos últimos anos, o aumento da expectativa de vida e a diminuição do número de casos relacionados à transmissão da doença; dados justificados pela implantação de ações e estratégias de controle e combate à epidemia.5 De acordo com informações disponibilizadas, as taxas de detecção apresentaram estabilização nos últimos anos, com uma média de 41 mil novos casos de Aids registrados anualmente.4

No Brasil, por exemplo, parte desses resultados significativamente positivos está relacionada ao acesso universal e gratuito à terapia antirretroviral (Tarvterapia antirretroviral), a partir da implementação da Lei nº 9.313, de 13 de novembro de 1996. Além disso, em 2013, o Brasil deu um passo de vanguarda no combate à Aids, tornando-se o primeiro país em desenvolvimento a recomendar o início imediato da Tarvterapia antirretroviral para todas as pessoas com HIV, independente da contagem de linfócitos CD 4.6,7

Nesse sentido, as ações realizadas no Brasil, no que se refere à disponibilização da Tarvterapia antirretroviral, estão em consonância com as metas estabelecidas a nível mundial, a chamada meta 90-90-90. Assim, até o ano de 2020, espera-se que:5

 

  • 90% de todas as pessoas contaminadas pelo HIV tenham acesso ao diagnóstico do vírus;
  • 90% de todas as pessoas diagnosticadas com infecção pelo HIV recebam Tarvterapia antirretroviral ininterruptamente;
  • 90% de todas as pessoas recebendo Tarvterapia antirretroviral tenham supressão viral.

Embora essa meta seja considerada “ambiciosa”, especialistas de vários países envolvidos com a temática do HIV entendem que ela é passível de ser alcançada.

A Figura 1 apresenta a meta tríplice para combate ao HIV/Aids.

Figura 1 — Meta tríplice para combate ao HIV/Aids.

Fonte: Adaptado de Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (2014).5

A expectativa é de que, ao alcançar a meta mundial, cerca de 73% de todas as pessoas que vivem com o HIV terão supressão viral, correspondendo a um número 2 a 3 vezes maior do que as estimativas atuais.5 Diante desse cenário, emerge a necessidade de desenvolvimento de ações multidisciplinares abrangentes que permitam a abertura de novas possibilidades entre as redes de serviço e estratégias de cuidado.8

A infecção pelo HIV é considerada uma condição crônica, de caráter evolutivo e controlável.9 Como uma condição crônica de saúde, requer gerenciamento contínuo, por anos ou décadas, abarcando uma vasta categoria de agravos com certo nível de cuidados permanentes, como:

 

  • incapacidades estruturais;
  • associação a doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, câncer e diabetes);
  • transtornos mentais (como a depressão).

Atualmente, a política nacional relacionada ao cuidado da PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids está voltada para a inserção da Atenção Primária de Saúde (APSAtenção Primária de Saúde), como ponto central do atendimento a essa parcela da população, e para a manutenção dos Serviços de Atendimento Especializado (SAEServiços de Atendimento Especializado), como ponto de apoio/retaguarda para esse serviço. Contudo, observa-se que essa prática ainda é insipiente; muitas vezes por resistência dos profissionais envolvidos e, em outras, por resistência dos próprios pacientes.10

O cuidado de enfermagem pode ser conceituado como um valor, um bem social; o produto de um sistema organizacional de cuidados com diversas interações humanas que tem o intuito de cuidar da saúde do ser humano, promovendo um viver melhor e um ser melhor cuidado.11

Considera-se que o modelo de cuidado em rede se torna uma importante estratégia de articulação entre os diferentes pontos de atenção à saúde, pois a APSAtenção Primária de Saúde, como ordenadora do cuidado, permite um atendimento compartilhado entre o SAEServiços de Atendimento Especializado e a Atenção Básica, garantindo, assim, maior acesso dos usuários ao sistema de saúde.12

O Caderno de Boas Práticas no HIV/Aids na Atenção Básica12 prevê a gestão compartilhada do cuidado da pessoa infectada entre o infectologista e o médico de família e entre as equipes multidisciplinares do SAEServiços de Atendimento Especializado e da Unidade Básica de Saúde (UBS). Assim, apresenta-se como chave para a melhora da assistência à pessoa com HIV/Aids, pois os serviços especializados têm a possibilidade de compartilhar seus conhecimentos relacionados à clínica e manejo do HIV.12 Em contrapartida, a APSAtenção Primária de Saúde, especificamente a Estratégia Saúde da Família (ESFEstratégia Saúde da Família), tem a possibilidade de intervir ou amenizar situações de vulnerabilidade, compartilhando-as com o SAEServiços de Atendimento Especializado e promovendo atenção integral ao sujeito.10

A gestão do cuidado proporciona um cuidado planejado com metas, estratégias e recursos necessários, e tem como objetivo proporcionar e manter o cuidado dos indivíduos e de suas coletividades, garantindo qualidade de atendimento aos usuários e familiares. O enfermeiro é considerado um dos protagonistas na gestão do cuidado, sendo essa uma função inerente a sua formação profissional.13 Nesse sentido, faz-se necessária a compreensão da gestão do cuidado às pessoas com HIV/Aids para que se desenvolvam ações e estratégias que garantam:

 

  • rápido acesso e adesão à terapêutica;
  • suporte profissional necessário;
  • melhora na qualidade de vida;
  • quebra na cadeia de transmissão do vírus.
  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer a importância epidemiológica e as necessidades de organização do cuidado a PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids;
  • atualizar-se com relação às especificidades da gestão do cuidado de enfermagem a PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids;
  • conceituar gestão do cuidado de enfermagem a PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids;
  • identificar as estratégias de gestão do cuidado na prevenção e no controle da Aids;
  • discutir a gestão do cuidado na perspectiva das redes de atenção/linhas de cuidado em HIV/Aids;
  • reconhecer as estratégias de gestão do cuidado frente ao diagnóstico e ao tratamento de HIV/Aids;
  • identificar os mecanismos de acompanhamento/adesão ao tratamento de HIV/Aids;
  • contribuir para a construção do conhecimento sobre a gestão do cuidado de enfermagem a PVHApessoas vivendo com o HIV/Aids.

 

  • Esquema conceitual
×
Este programa de atualização não está mais disponível para ser adquirido.
Já tem uma conta? Faça login