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DESPRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS EM INDIVÍDUOS IDOSOS

Autores: Marcio Galvão Oliveira, Welma Wildes Amorim
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • analisar os conceitos relacionados à desprescrição de medicamentos em idosos;
  • considerar os medicamentos inapropriados para idosos e a polifarmácia;
  • revisar os principais instrumentos e os passos para a promoção da desprescrição de medicamentos, o engajamento dos pacientes nesse processo e os desfechos desejados.

Esquema conceitual

Introdução

A população idosa em geral é usuária de muitos medicamentos devido às múltiplas morbidades que acometem essa faixa etária.1 Cerca de 18% dos idosos no Brasil utilizam cinco ou mais fármacos,2 e aqueles que recebem mais medicamentos têm maior probabilidade de ser hospitalizados devido a uma reação adversa a esses produtos.3 Cerca de um terço das prescrições para idosos é potencialmente inapropriada, independentemente das suas condições clínicas.4

Uma prescrição inapropriada abrange “o uso de medicamentos que apresentam um risco significante de evento adverso quando há evidência de alternativa igual ou mais efetiva e com menor risco para tratar a mesma condição”.5

Além disso, a prescrição inapropriada inclui:5

[...] o uso de medicamentos em uma frequência ou um período maior do que os clinicamente indicados, o uso de múltiplos medicamentos que possuem interações medicamentosas ou medicamento-doença e, sobretudo, a subutilização de medicamentos benéficos que são clinicamente indicados, mas não são prescritos por discriminação da idade ou razões ilógicas.

No Brasil, a probabilidade de sobrevida de usuários de mais de cinco medicamentos em cinco anos é de 77,2%, enquanto entre os não usuários é de 85,5%. O uso de mais de cinco medicamentos é um fator de risco para óbito, mesmo após ajuste para outras condições associadas à mortalidade, como idade, sexo, renda, doenças crônicas e internação.6 Além disso, as reações adversas a medicamentos (RAMs) são responsáveis por mais morbidade e mortalidade do que a maioria das doenças crônicas.3

Apesar de amplamente utilizado em pesquisas e na prática clínica, o termo polifarmácia tem sido definido de diversas formas, segundo o ponto de corte da quantidade de medicamentos adotado por cada pesquisador.4

A polifarmácia é um desafio clínico porque o sistema de saúde está orientado para iniciar medicamentos, não para reduzir doses ou interromper tratamentos. As diretrizes clínicas normalmente incluem recomendações para iniciar o uso de medicamentos, mas não para o processo de desprescrição.3

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a polifarmácia como “o uso simultâneo de vários medicamentos” e admitiu que, embora não exista uma definição-padrão, a polifarmácia é frequentemente definida como o uso rotineiro de cinco ou mais medicamentos. Isso inclui medicamentos de venda livre, prescritos e/ou tradicionais e complementares utilizados por um paciente.7

Segundo a OMS, o objetivo deve ser reduzir a polifarmácia inapropriada (prescrição irracional de muitos medicamentos) e garantir a polifarmácia apropriada (prescrição racional de múltiplos medicamentos com base nas melhores evidências disponíveis e considerando fatores individuais do paciente e o contexto).7

Para tanto, conhecer os principais instrumentos e os passos para promoção da desprescrição de medicamentos inapropriados pode auxiliar os farmacêuticos no processo de cuidado aos pacientes idosos nos diferentes níveis de atenção à saúde.

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