Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- contextualizar a importância dos determinantes sociais e culturais para a saúde;
- descrever a influência de aspectos sociais e culturais na dor musculoesquelética;
- refletir sobre o papel do fisioterapeuta nos aspectos sociais e culturais na dor musculoesquelética;
- sugerir ações interpessoais e institucionais nos determinantes sociais e culturais da saúde.
Esquema conceitual
Introdução
A dor é atualmente definida pela International Association for the Study of Pain (IASP) como uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial.1
A definição de dor da IASP, revisada em 2020 e substituindo a definição de 1979, representa um avanço no entendimento da dor, uma vez que passou a enfatizar a inter-relação entre processos biológicos (lesão tecidual real ou potencial) e psicológicos (experiência sensitiva emocional) da dor.1
Durante o processo de atualização da definição de dor proposta pela IASP, houve profunda discussão entre membros da força-tarefa sobre se os aspectos sociais da dor deveriam ser incluídos na definição. No entanto, a força-tarefa entendeu que os aspectos sociais não seriam um componente essencial da definição.1
A exclusão ou o não reconhecimento dos fatores sociais como fatores vitais para o surgimento e a perpetuação de diversas condições de saúde, incluindo dores musculoesqueléticas, não são novidades. Ao longo dos últimos 40 anos, o modelo biomédico, um modelo de saúde unicamente centrado nas causas biológicas das doenças, passou a ser reconhecido como limitado para a compreensão de diversas condições de saúde, incluindo dores musculoesqueléticas.2,3
O reconhecimento da limitação do modelo biomédico levou à adoção de diversos modelos que abrangem a multidimensionalidade em saúde. Entre os modelos, estão o modelo biopsicossocial,2,3 um novo modelo em saúde pública preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e o modelo ecológico em saúde.4
Apesar de esses modelos representarem um avanço em relação a modelos focados exclusivamente nos aspectos biológicos do processo de saúde-doença, uma crítica frequente é o foco excessivo em intervenções em nível individual. São exemplos dessas críticas as mudanças no estilo de vida, as mudanças comportamentais ou a educação em saúde.5 Entre os modelos mais abrangentes citados, o modelo biopsicossocial é, sem dúvidas, o mais amplamente aceito e discutido em fisioterapia.
Na área de saúde musculoesquelética, o modelo biopsicossocial vem ganhando espaço, e muitos fisioterapeutas o reconhecem como uma alternativa superior ao modelo biomédico. Porém, os aspectos culturais e sociais são normalmente negligenciados nas discussões sobre esse modelo.6
Neste capítulo, será apresentada uma visão aprofundada sobre a importância dos determinantes sociais e culturais para a saúde e a dor musculoesquelética, promovendo reflexões sobre como fisioterapeutas podem contribuir para reduzir o impacto dos determinantes sociais no contexto da dor musculoesquelética.