Introdução
Os fármacos anticolinérgicos são comumente prescritos à população idosa para o tratamento de problemas de saúde específicos, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a doença de Parkinson ou a bexiga hiperativa. No entanto, há alguns fármacos com efeitos anticolinérgicos pouco reconhecidos por essa atividade, uma vez que a atividade anticolinérgica não está relacionada nem com o seu efeito terapêutico principal nem com o seu mecanismo de ação primário.
Isso acontece, por exemplo, com alguns antidepressivos, antipsicóticos ou anti-histamínicos. Esses fármacos são pouco reconhecidos pelos profissionais de saúde como tendo propriedades anticolinérgicas, o que faz muitos idosos terem uma elevada carga anticolinérgica, definida como o efeito cumulativo da utilização de um ou mais fármacos com propriedades anticolinérgicas.
Considerando a elevada distribuição dos receptores muscarínicos por todo o organismo humano, os fármacos com efeitos anticolinérgicos podem desencadear efeitos adversos centrais — declínio cognitivo, delirium, confusão mental — e periféricos — boca seca, olho seco, retenção urinária, obstipação ou taquicardia. Além disso, a literatura refere que o uso de fármacos anticolinérgicos está associado a resultados clínicos negativos, como declínio funcional, quedas, hospitalização e mortalidade.
Essa realidade motivou o desenvolvimento de ferramentas para identificar fármacos anticolinérgicos, que são as escalas e outros instrumentos de avaliação da carga anticolinérgica. Essas ferramentas foram criadas para avaliar a exposição a fármacos anticolinérgicos e para predizer a possível ocorrência de efeitos anticolinérgicos adversos, por meio da quantificação da carga anticolinérgica de cada indivíduo. A literatura apresenta diferentes níveis de associação entre essas escalas/instrumentos e o aparecimento de resultados clínicos.
Tendo em conta o grande potencial para a ocorrência de reações adversas em uma população tão suscetível quanto a população idosa, é importante aumentar o conhecimento acerca dos fármacos anticolinérgicos e ter um melhor entendimento sobre os métodos disponíveis para usar na prática clínica, em especial as suas principais vantagens e limitações.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- rever as principais ações da acetilcolina (ACh);
- diferenciar os tipos de receptores colinérgicos;
- analisar a distribuição dos receptores colinérgicos no organismo;
- descrever os mecanismos farmacológicos dos receptores colinérgicos;
- elencar os efeitos anticolinérgicos periféricos e centrais;
- avaliar a influência do envelhecimento na maior sensibilidade aos efeitos adversos anticolinérgicos;
- identificar os diferentes métodos de quantificação da carga anticolinérgica;
- estimar a capacidade preditiva de escalas/instrumentos de quantificação da carga anticolinérgica.