- Introdução
A doença de Parkinson (DPdoença de Parkinson) é a segunda doença degenerativa mais comum no mundo.1 Estima-se que mais de 4 milhões de pessoas possuam o diagnóstico e projeta-se que, daqui a 20 anos, esse número irá dobrar em razão do processo de envelhecimento populacional.2 Não há cura para a DPdoença de Parkinson, que possui ordem sistêmica.
O tratamento de indivíduos com DPdoença de Parkinson é fundamentado no gerenciamento dos sintomas e das complicações, que se dividem em motoras e não motoras,1 e visa ao aumento da funcionalidade, à prevenção de incapacidades e à melhor percepção da qualidade de vida. Uma das modalidades terapêuticas é a farmacológica, que envolve o uso de levodopa e é fundamental para o manejo da doença; no entanto, em longo prazo, o fármaco se torna menos eficaz e determina muitas complicações e poucos benefícios.2
Há evidências crescentes de que outras estratégias de tratamento da DPdoença de Parkinson devam ser empregadas para otimizar a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes. Nesse contexto, os recursos utilizados na fisioterapia neurofuncional são bastante úteis para prolongar a independência e otimizar a qualidade de vida. Entre eles, destaca-se o emprego da dupla tarefa (DTdupla tarefa), estratégia simples, útil e de baixo custo que pode auxiliar na avaliação e no tratamento de indivíduos com DPdoença de Parkinson.2
Com frequência, pacientes com DPdoença de Parkinson apresentam perda do controle motor automático e comprometimento cognitivo, o que determina a disfunção executiva3 — a execução da DTdupla tarefa é dependente desses aspectos. Intrinsecamente, esse processo pode ser explicado pelo fato de os pacientes precisarem se concentrar em alcançar os padrões adequados de movimento, ativando as regiões do córtex pré-motor sem utilizar o circuito dos núcleos da base, que está deficiente em decorrência da diminuição de dopamina.2
Assim, em situações de DTdupla tarefa, os pacientes usam recursos corticais para realizar as tarefas motoras. Esse processo compromete o desempenho de ambos os componentes (motores e cognitivos),4 o que favorece o aumento do risco de quedas em consequência do aumento dos episódios de freezing, do comprometimento do equilíbrio e das modificações dos parâmetros espaçotemporais da marcha, quando expostos a tarefas simultâneas.3,5,6
Em razão disso, torna-se importante discutir as possibilidades de uso da DTdupla tarefa no processo de avaliação e reabilitação de indivíduos com DPdoença de Parkinson, bem como sua aplicação na prática clínica. A realização da DTdupla tarefa é requisito para uma vida diária saudável na comunidade e no lar,2 e para o funcionamento cotidiano. No entanto, essa capacidade, muitas vezes, está prejudicada em pacientes com DPdoença de Parkinson.
Na fisioterapia neurofuncional, a DTdupla tarefa, que reúne um aspecto motor e um cognitivo ou dois aspectos motores, tem se mostrado útil como estratégia de reabilitação e avaliação a ser aplicado em indivíduos com DPdoença de Parkinson. Como estratégia de tratamento, objetiva melhorar a realização de ações que requerem atenção dividida e, em termos de avaliação, tem sido empregada para verificar o papel da demanda da atenção no controle motor.
Nesse contexto, este capítulo discorrerá sobre a DPdoença de Parkinson como distúrbio sistêmico, a DTdupla tarefa como estratégia de avaliação e de reabilitação de pacientes com a condição, e a aplicação do método na prática clínica especificamente para tais indivíduos.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a DPdoença de Parkinson como distúrbio sistêmico;
- reconhecer a DTdupla tarefa como estratégia de avaliação e reabilitação;
- descrever o recurso DTdupla tarefa como preditor de risco de quedas em indivíduos com DPdoença de Parkinson;
- identificar os benefícios do treinamento de DTdupla tarefa em pacientes com DPdoença de Parkinson;
- discutir os critérios de aplicação da DTdupla tarefa na prática clínica.
- Esquema conceitual