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FARMACOTERAPIA NA ARTRITE REUMATOIDE

Fabíola Bagatini Buendgens

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  • Introdução

A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica, autoimune, que acomete principalmente as articulações sinoviais periféricas. A progressão da doença causa deformidades articulares, comprometimento sistêmico e perda da capacidade funcional.1–3 Em virtude disso, há uma diminuição na sobrevida, na produtividade laboral e na qualidade de vida dos indivíduos por ela acometidos, o que aumenta a utilização de recursos de saúde e os custos, em comparação com a população geral.4

A artrite reumatoide afeta 0,3 a 1% da população, com predomínio no sexo feminino e maior incidência na faixa etária entre 30 e 50 anos, os mais produtivos da idade adulta.5,6

No Brasil, Marques Neto e colaboradores7 verificaram a prevalência de artrite reumatoide variando de 0,2 a 1% nas diferentes macrorregiões brasileiras, sendo: 1% no Norte, 0,57% no Nordeste, 0,5% no Centro-Oeste, 0,6% no Sudeste e 0,2% no Sul. Alguns anos mais tarde, Senna e colaboradores8 estimaram-na em 0,46%, representando quase 1 milhão de pessoas acometidas por essa doença.

Considerando a escassez de informações sobre a epidemiologia, as manifestações clínicas e o manejo da doença no Brasil, Castelar-Pinheiro e colaboradores9 avaliaram 1.115 pacientes em 13 ambulatórios públicos de artrite reumatoide do país e verificaram que, entre eles, 89,4% eram do sexo feminino, a idade média foi de 56,7 anos e a duração média da doença foi de 12,7 anos. Aproximadamente 80% desses pacientes eram de classe socioeconômica média-baixa ou baixa, com mediana de tempo de instrução de oito anos, sendo que 3,23% não eram alfabetizados.9

A dor e as deformidades articulares, resultantes da doença não controlada, e a incapacidade funcional limitam as atividades de vida diária e dificultam a permanência no mercado de trabalho. Cerca de 70% dos indivíduos apresentam danos articulares irreversíveis no primeiro ano da doença, e 80% dos adultos com artrite reumatoide em idade produtiva têm dor incapacitante, rigidez e capacidade funcional diminuída.1,10

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em países desenvolvidos, cerca de 50% dos indivíduos são incapazes de se manter no mercado de trabalho em tempo integral após 10 anos do início da doença.6

O impacto econômico gerado pela artrite reumatoide foi subestimado no passado, porém se sabe que indivíduos com a doença necessitam de cuidado contínuo e, em alguns casos, de intervenções de alto custo, como cirurgias e uso de medicamentos com preço elevado. A incapacidade física gerada pela doença reduz a produtividade e, somada à aposentadoria precoce, adiciona custos indiretos substancialmente elevados.11

Estudos internacionais, desenvolvidos no início da década de 2000, apontaram que os maiores responsáveis pelos custos relacionados com a artrite reumatoide eram os referentes a hospitalizações.12,13 No entanto, essa situação foi alterada com a melhor compreensão da fisiopatologia da doença, associada aos avanços biotecnológicos, que permitiu a produção de novos medicamentos, mas que, devido a seu alto preço, tornaram o tratamento farmacológico o principal responsável pelos custos da doença.14 Estudos mais recentes, realizados em diferentes países, confirmam essa informação.15–17

Estima-se que, nos Estados Unidos, o custo social ao ano da artrite reumatoide seja de 19,3 bilhões de dólares, sendo que 33% do custo total correspondem aos empregadores, 28% aos indivíduos, 20% ao governo e 19% aos cuidadores. Adicionando custos relacionados com qualidade de vida (10,3 bilhões) e morte prematura (9,6 bilhões), o custo social total ao ano da doença chega a 39,2 bilhões.18

No Brasil, em 2016, o custo total ao ano do tratamento de 167 pacientes com artrite reumatoide foi de R$ 3.461.850,35, correspondendo a um custo médio de R$ 20.729,64 (desvio-padrão [DP] = 19.627,70) por indivíduo por ano, que constituiu 68,2% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita estimado para o ano de 2016.17

Os custos diretos corresponderam a 95,8% do custo total, e o subsetor público foi responsável por 58,6%. O tratamento farmacológico contribuiu com 65,5% do custo direto total, sendo que o custo com medicamentos modificadores do curso da doença (MMCDmedicamento modificador do curso da doenças) biológicos correspondeu a 79,4% desse valor, as hospitalizações contribuíram com 12,2%, os exames com 5,8%, e o tratamento não farmacológico com 5,2%. Os demais itens juntos corresponderam a 11,3% do total.17

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • conhecer a patogênese, a fisiopatologia, os aspectos clínicos, o diagnóstico e a classificação da atividade da artrite reumatoide;
  • compreender como são constituídas as estratégias gerais para o tratamento da artrite reumatoide;
  • reconhecer os principais fármacos empregados no tratamento farmacológico da artrite reumatoide, bem como os efeitos adversos relacionados;
  • identificar aspectos relevantes para a efetividade e a segurança do tratamento da artrite reumatoide no âmbito do cuidado farmacêutico.
  • Esquema conceitual
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