- Introdução
A cavidade nasal é revestida de epitélio respiratório entremeado com células secretórias de superfície. Essas células secretórias produzem imunoglobulinas, mediadores inflamatórios e interferons importantes, que são a primeira linha de defesa imunológica da via aérea.1 Os seios paranasais são revestidos por epitélio ciliado, que apresenta batimento característico direcionando as secreções para seus óstios naturais. Sabe-se, hoje, que essa superfície mucosa contém, além dos fatores já citados, microrganismos, não se tratando de meio estéril.
O conhecimento a respeito da microbiologia dessas cavidades tem avançado nos últimos anos, com o advento de técnicas moleculares de detecção de microrganismos por meio da identificação de seus ácidos nucleicos, que independem do cultivo desses seres em meios específicos. Esse avanço parece ter implicações não apenas para entendimento da homeostase normal do nariz, mas também para o papel desses microrganismos em condições patológicas, como a rinossinusite crônica (RSCrinossinusite crônica).
A RSCrinossinusite crônica representa um dos problemas de saúde mais comuns no continente americano. Estatísticas norte-americanas relatam uma prevalência que varia de 2 a 16% nos Estados Unidos.2 No Brasil, estudo publicado com a população da cidade de São Paulo aponta prevalência de 5,51%, indicando, assim, mais de 500 mil pessoas acometidas na região metropolitana dessa cidade.3
Desde a sua caracterização, muito conhecimento foi adquirido em relação à natureza inflamatória da RSCrinossinusite crônica, envolvendo fatores do hospedeiro (por exemplo, alergia, imunodeficiência, imobilidade ciliar, obstrução anatômica) e fatores ambientais (infecções bacterianas e/ou viral, biofilmes, poluentes) em sua fisiopatologia. No entanto, até o momento, não se compreende de forma clara e suficiente a etiologia da RSCrinossinusite crônica. Embora a colonização bacteriana crônica tenha sido implicada, a relação precisa entre esses micróbios e a RSCrinossinusite crônica continua a ser alvo de debate, de modo que um perfil microbiano definitivo responsável pela manifestação da doença permanece controverso.
Neste artigo, será abordado o conhecimento mais recente sobre o estudo do microbioma, tanto em condições de normalidade dos seios paranasais quanto nas RSCrinossinusite crônicas. Essa área de estudos tem modificado a forma como se encara o papel dos microrganismos na saúde e na doença e trata-se de um tema muito relevante e atual, sendo extremamente necessário para aqueles que desejam adquirir novos conceitos e se preparar para novas fronteiras que vêm surgindo na microbiologia dos seios paranasais.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
- reconhecer a terminologia utilizada para descrever as comunidades microbianas;
- descrever como os micróbios são detectados nos estudos de microbioma;
- identificar as principais características do microbioma em seios paranasais saudáveis e nas RSCrinossinusite crônicas;
- compreender as principais implicações que derivam desse novo conhecimento para a fisiopatologia das RSCrinossinusite crônicas;
- reconhecer e avaliar, de forma crítica, o potencial dos novos fundamentos na prática clínica.
- Esquema conceitual