Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- revisar a história das cirurgiãs em diferentes contextos históricos;
- refletir sobre a questão de gênero na profissão de cirurgião;
- contribuir para a diminuição do assédio moral às cirurgiãs.
Esquema conceitual
Introdução
Desde o início dos tempos, quando precisavam se disfarçar de homens para aprender a arte da cirurgia, até os dias atuais, as mulheres têm que lutar duramente e enfrentar inúmeras barreiras para se tornarem cirurgiãs e serem reconhecidas.
Ainda hoje, é comum para quase todas que escolheram essa especialidade ter de enfrentar preconceitos e escutar, ao longo de sua vida profissional, que as mulheres não podem/devem ser cirurgiãs.
A palavra cirurgia tem origem do latim, chirurgia, que a tomou do grego, kheir = mão + ourgós = trabalho, o que significa trabalho manual. Na medicina, é a parte do processo terapêutico no qual as operações são realizadas usando-se instrumentos com as mãos.1 A cirurgia é a ciência; a operação é o que se realiza. O cirurgião é aquele que realiza operações (e não cirurgias) com as mãos, talvez por isso se diga que a cirurgia é ciência e arte, combinadas à perfeição.1–4
Desde a pré-história — porque seres humanos são, desde sempre, sujeitos a doenças —, a medicina vem sendo praticada, envolvendo o uso de substâncias e também cirurgias para tratamento de doenças e ferimentos. Esses procedimentos eram associados a rituais mágicos e religiosos. Assim, certamente, as mulheres estiveram envolvidas nessas práticas.2,3
No entanto, a estruturação das sociedades patriarcais afastou as mulheres de muitas atividades importantes, distanciando-as da vida pública e limitando-as ao espaço doméstico e aos cuidados de seus lares e prole.5
Condenadas ao confinamento do lar, as mulheres tornaram-se invisíveis quanto ao protagonismo como agentes da saúde, na medida em que, por muito tempo, os historiadores estiveram preocupados apenas com os aspectos políticos e públicos da vida social.5
Na história da cirurgia, não foi diferente. Mesmo as mulheres que conseguiram romper as barreiras impostas pelas sociedades em que viveram são pouco conhecidas, reforçando a ideia de que a medicina e a cirurgia sempre foram — e ainda são — domínios naturalmente masculinos. No entanto, as mulheres marcaram sua presença, aproveitando-se das brechas encontradas em diferentes momentos históricos.5