- Introdução
A disfunção autonômica cardiovascular ocorre por lesão das fibras autonômicas simpáticas e/ou parassimpáticas centrais (pré-ganglionares), periféricas (pós-ganglionares) ou ambas, que estão relacionadas ao sistema cardiovascular (SCVsistema cardiovascular), resultando em distúrbios da regulação neuro-humoral. Além disso, manifesta-se como um grupo heterogêneo de síndromes clínicas.
A neuropatia autonômica cardiovascular (NACneuropatia autonômica cardiovascular) associada ao diabetes melito (DMdiabetes melito) é uma manifestação de disfunção do sistema autonômico. Inicialmente, acomete o sistema parassimpático e, posteriormente, o sistema simpático. Contudo, essa manifestação é subdiagnosticada e pouco estudada.
Clinicamente, a NACneuropatia autonômica cardiovascular se manifesta por distúrbios funcionais ou condições clínicas que envolvem o desajuste das atividades reflexas cardiovasculares, tais como taquicardia em repouso, intolerância ao exercício, hipotensão ortostática (HOhipotensão ortostática), instabilidade cardiovascular intraoperatória e disfunção elétrica do coração, traduzida por arritmias e por isquemia miocárdica (IMisquemia miocárdica) silenciosa. Essas alterações comprometem a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes.
A NACneuropatia autonômica cardiovascular, segundo a sua evolução, pode ser subdividida em subclínica (fase em que predominam as alterações funcionais reversíveis) e clínica (quando as alterações neuronais estruturais estão plenamente estabelecidas).
A avaliação da integridade do sistema nervoso autonômico (SNAsistema nervoso autonômico) é realizada por meio de exploração da atividade parassimpática, analisando o comportamento da frequência cardíaca (FCfrequência cardíaca) em resposta à respiração profunda, ao ortostatismo ou à manobra de Valsalva. A atividade simpática é explorada por meio de aferição da pressão arterial (PApressão arterial) em resposta à mudança de postura (ortostatismo) e ao esforço isométrico. A análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFCvariação da frequência cardíaca) no domínio do tempo, no domínio da frequência e por métodos gráficos complementa essa avaliação.O tratamento da NACneuropatia autonômica cardiovascular inclui o controle glicêmico, bem como o controle dos fatores de risco cardiovascular (RCVrisco cardiovascular), além do tratamento dos sintomas como a HOhipotensão ortostática.
Ao longo deste capítulo, serão abordados diversos aspectos da NACneuropatia autonômica cardiovascular em pacientes com DMdiabetes melito e sem DMdiabetes melito e serão apresentadas as principais alterações, a fisiopatologia, os aspectos clínicos importantes dessa disfunção e os principais métodos utilizados em seu diagnóstico e prognóstico.
É de extrema importância o reconhecimento precoce da NACneuropatia autonômica cardiovascular antes de sua evolução para estágios avançados. Será dada especial atenção às situações nas quais se deve suspeitar do diagnóstico e a forma de realizar a investigação apropriada. Também serão descritos os principais aspectos terapêuticos atuais e discutidas as terapias promissoras que devem ser incorporadas nos próximos anos.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- distinguir a disfunção autonômica cardiovascular em pacientes com DMdiabetes melito e sem DMdiabetes melito;
- identificar as principais manifestações da NACneuropatia autonômica cardiovascular e suas formas de apresentação clínica;
- avaliar os métodos diagnósticos que podem ser utilizados e quais achados estão presentes em indivíduos com NACneuropatia autonômica cardiovascular;
- reconhecer as situações nas quais o diagnóstico de NACneuropatia autonômica cardiovascular deve ser considerado;
- solicitar os exames adequados para o diagnóstico da NACneuropatia autonômica cardiovascular;
- indicar a abordagem terapêutica nas diversas formas de apresentação da NACneuropatia autonômica cardiovascular.
- Esquema conceitual