Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- compreender a anatomia das neuropatias periféricas;
- resumir a semiologia das neuropatias periféricas;
- elencar as polineuropatias e as radiculopatias;
- diagnosticar as neuropatias periféricas;
- resumir o tratamento das neuropatias periféricas.
Esquema conceitual
Introdução
As neuropatias periféricas estão entre as principais queixas em consultórios de neurologia.1 Estima-se que 2,4% da população mundial são afetados por neuropatias periféricas, chegando a uma prevalência de 8% em idades mais avançadas.2 Elas representam um complexo de doenças com manifestações clínicas sensitivas e motoras que podem ser causadas por diferentes etiologias, entre elas diabetes melito (DM), exposição a agentes tóxicos (álcool, cocaína e quimioterápicos), deficiências vitamínicas, doenças imunomediadas e mutações genéticas.3
As doenças neuropáticas se referem às manifestações clínicas causadas por lesões do sistema nervoso periférico (SNP). Elas podem se manifestar com lesões nos nervos cranianos, periféricos e/ou do sistema nervoso autônomo, além das raízes espinhais, dos gânglios espinhais, dos plexos nervosos e do neurônio motor localizado no corno anterior da medula espinhal.3
Com base no local da lesão, as doenças neuropáticas são divididas em neuronopatias e neuropatias periféricas. Nas neuronopatias, as lesões ocorrem na substância cinzenta, ou seja, no corpo do segundo neurônio motor ou no neurônio sensitivo localizado no gânglio sensitivo. Por outro lado, as neuropatias periféricas ocorrem devido à lesão das fibras nervosas ou da substância branca presentes nas raízes espinhais, nos nervos periféricos e nos plexos, englobando mononeuropatias, polineuropatias, radiculopatias e polineurorradiculopatias.
Nas neuropatias periféricas, um ou mais nervos periféricos, de forma contígua ou não contígua, podem ser acometidos.3 Os termos “mononeuropatia” ou “neuropatia focal” são utilizados quando os sintomas sensitivos e motores são causados essencialmente pela lesão de apenas um nervo periférico. Quando nervos periféricos distintos são afetados em membros diferentes, ou seja, sem uma relação de contiguidade, aplica-se o termo “mononeuropatia múltipla” ou “mononeuropatia multifocal”.
Por outro lado, quando os nervos periféricos doentes são vizinhos ou contíguos, isto é, no mesmo membro, utiliza-se o termo “polineuropatia”.4,5 As polineuropatias são as mais frequentes apresentações das neuropatias periféricas. Suas manifestações clínicas, com aspecto típico distal em bota e luva, correspondem à lesão de vários nervos periféricos em um mesmo membro, ou seja, de um nervo ao lado do outro.3
Em alguns pacientes, além dos nervos periféricos, são afetadas as raízes espinhais. Por isso, nessas situações, utiliza-se o termo “polirradiculoneuropatia”. Notadamente, as manifestações clínicas da referida apresentação são distintas, visto que manifestam a sobreposição da lesão do nervo periférico à lesão da raiz espinhal, ou seja, o paciente pode apresentar sintomas com envolvimento proximal de membros devido à lesão da raiz espinhal, associada a um padrão distal de queixas (bota e luva) concomitantes à lesão do nervo periférico.
Outrossim, as “radiculopatias” são as segundas mais frequentes neuropatias periféricas existentes, abrangendo um grupo de doenças em que a lesão se localiza nas raízes espinhais e/ou nos nervos espinhais, podendo a injúria ser de origem compressiva, traumática, inflamatória e/ou infecciosa. Sabe-se que podem ocorrer em diferentes pontos da coluna vertebral, como na região cervical, torácica e lombar, e, ainda, desencadear sintomas sensitivos e motores incapacitantes ao paciente.