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NÓDULO DE TIREOIDE E BÓCIO

Autores: Igor de Oliveira Claber Siqueira, Sócrates Palácio da Silveira, Mônica Isaura Corrêa
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Introdução

O nódulo tireoidiano é um achado muito comum na população geral, especialmente entre as mulheres, crescendo sua prevalência com o aumento da idade. Estima-se que 4 a 7% da população adulta tenham um nódulo tireoidiano palpável.1 Estudo nacional observou, através de ultrassonografias (USGultrassonografias) realizadas por razões não ligadas diretamente à tireoide, que 35% das mulheres acima de 40 anos apresentavam nódulo tireoidiano, sendo que cerca de 16% tinham nódulos com mais de 1cm.2

Frente a um nódulo de tireoide palpável, os diagnósticos mais comuns e sua respectiva incidência aproximada são os seguintes:1

 

  • nódulos coloides, cistos simples ou hemorrágicos e tireoidite (em 80% dos casos);
  • neoplasias foliculares benignas (em 10 a 15%);
  • carcinoma da tireoide (em 5%).

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A principal razão para se investigar um nódulo tireoidiano baseia-se na necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial com câncer da tireoide.

Assim, se, por um lado, os nódulos na glândula são frequentes, apenas um em cada 20 identificados clinicamente tem origem maligna. Além disso, os carcinomas tireoidianos representam aproximadamente apenas 1% de todas as neoplasias malignas.3 Eles são classificados em:

 

  • diferenciados (papilíferos e foliculares);
  • não diferenciados (anaplásicos);
  • medulares.

Os carcinomas papilíferos são os mais frequentemente observados, seguidos pelos foliculares, correspondendo, ambos, a 94% do total dos casos. Exceto pelos carcinomas anaplásicos, que apresentam alta letalidade, o prognóstico geralmente é bom e, por exemplo, alcança uma sobrevivência global maior do que 95% para os carcinomas papilíferos.4,5 Estudo brasileiro realizado entre 1995 e 1999 encontrou uma taxa nacional de mortalidade por câncer de tireoide de 0,22/100.000 habitantes para homens e de 0,42/100.000 habitantes para mulheres.4

A conduta nos casos de nódulo tireoidiano permanece controversa e vem se alterando significativamente com o tempo. Outras questões, entretanto, estão mais claras, como os múltiplos riscos de um rastreamento de nódulos e câncer da tireoide na população geral. O grande desafio no seu manejo está no equilíbrio fino em realizar a sua investigação, expondo o mínimo possível de pessoas a condutas e procedimentos desnecessários, ao mesmo tempo em que se identificam corretamente as que poderiam morrer em virtude de um câncer agressivo.

É verdade que, muitas vezes, isso não é possível com os recursos atuais, gerando muitos casos de resultados falso-positivos e de sobrediagnóstico e sobretratamento. Por isso, novas ferramentas têm sido testadas. Um exemplo: quando resultados da avaliação citológica de aspirados do nódulo mostram lesão ou atipia folicular de significado incerto ou neoplasia folicular, o risco de malignidade com essa classificação varia de 5 a 32%. Entretanto, a maioria desses pacientes será submetida à cirurgia da tireoide que, em última instância, acabará por revelar, na realidade, que o processo era benigno e a cirurgia era, por isso, desnecessária.

Estudo recente, que buscou melhorar a estratificação de risco utilizando marcadores moleculares que teriam um alto valor preditivo negativo para malignidade, revelou que tais marcadores seriam capazes de, se aplicados na classificação acima referida, evitar cerca de 2/3 de cirurgias da glândula (o que corresponderia, nos Estados Unidos, à redução de 50 mil intervenções por ano).6,7 Com isso, também seriam reduzidas muitas das complicações e dos custos das cirurgias, como necessidade de hospitalização, hipoparatireoidismo, paralisia da corda vocal, hipotireoidismo, etc.

É, portanto, compreensível e, mais do que isso, recomendável que as diretrizes que tratem da definição de condutas na abordagem do nódulo tireoidiano assumam outros fatores que atribuam maior ou menor risco de malignidade aos tradicionalmente conhecidos (há crescente evidência de que a presença de características ultrassonográficas suspeitas é mais preditiva de malignidade do que o tamanho do nódulo isoladamente8), numa tentativa de cada vez mais tender a balança para o lado dos benefícios de tal investigação.

Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, espera-se que o leitor seja capaz de:

 

  • conduzir e orientar uma pessoa com bócio, nódulo tireoidiano ou com medo de câncer de tireoide da forma mais humana e cientificamente embasada (atualizada), no contexto da sua prática diária na atenção primária à saúde;
  • frente a uma pessoa com bócio e, principalmente, a um indivíduo com nódulo tireoidiano, ser capaz de distinguir quais serão merecedores de condutas mais agressivas e, ao mesmo tempo e não menos importante, poupar a maioria das pessoas de encaminhamentos, tratamentos e procedimentos desnecessários (prevenção quaternária);
  • ampliar sua habilidade em lidar com os frequentes achados acidentais (incidentalomas) em estudos ultrassonográficos relativos à tireoide;
  • ampliar sua competência cultural em abordar a pessoa com queixas vagas e inespecíficas que podem representar um bócio e/ou nódulo tireoidiano evidenciado acidentalmente pela pessoa ou por terceiros;
  • desenvolver e alargar sua habilidade em conduzir a entrevista de uma pessoa que apresenta queixas inespecíficas relativas à cabeça e ao pescoço como estímulo iatrotrópico para medo de câncer de tireoide;
  • saber compartilhar o cuidado, com o especialista focal, de pessoas que se submeteram a tratamento de nódulos tireoidianos e bócio.

Esquema conceitual

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