Introdução
A terapia cognitivo-comportamental (TCCterapia cognitivo-comportamental) é considerada a mais indicada para o tratamento psicoterápico de uma diversidade de transtornos, bem como para o aumento do bem-estar e da qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. Muitos estudos apontam sua eficácia e eficiência, com resultados significativos e comprovados cientificamente.1,2 As características dessa proposta de intervenção são aspectos fundamentais para o sucesso terapêutico, como: é estruturada, com metas estabelecidas, sustentada na relação terapêutica colaborativa e bidirecional, voltada para o presente, educativa, breve, baseada na descoberta guiada.3
Entende-se que, para que haja fidelidade na proposta de intervenção baseada nos princípios da TCCterapia cognitivo-comportamental e, consequentemente, o aumento das possibilidades de sucesso terapêutico, o terapeuta deve ser devidamente habilidoso em aspectos e dimensões gerais e comuns da psicologia, bem como nos aspectos próprios dessa perspectiva teórica .4 Assim, todo o processo de TCCterapia cognitivo-comportamental deve incluir: colaboração, aliança com o paciente, questionamento socrático, descoberta guiada, conceitualização cognitiva de caso, estrutura clínica e adequação do tratamento.5
A identificação do problema inclui os mecanismos do ciclo de manutenção e é visualizada pela conceitualização cognitiva de caso. Ou seja, saber elaborar uma formulação cognitiva do caso atendido, utilizando os preceitos e axiomas da teoria,5 deve ser uma habilidade do terapeuta que utiliza a TCCterapia cognitivo-comportamental como abordagem, porém ela tem sido considerada difícil de ser desenvolvida. Uma das dificuldades na elaboração da formulação de caso é o déficit na habilidade de envolver as questões culturais, étnicas e éticas .1
Com base nesse raciocínio, Barletta e colaboradores6 ressaltam que um dos principais desafios atuais é a formação de profissionais. Para se formar um terapeuta na perspectiva cognitivo-comportamental, são exigidas algumas atividades específicas, como participação em cursos teóricos e prática clínica supervisionada realizada por profissionais gabaritados. Um sistema que avalia e atesta a qualidade do profissional é a certificação, ou acreditação, que é exigida do terapeuta cognitivo-comportamental para sua atuação profissional ao redor do mundo.
Instituições renomadas e reconhecidas internacionalmente, como a British Association for Behavioural & Cognitive Psychotherapies (BABCP — www.babcp.com), no Reino Unido, e a Academy of Cognitive Therapy (ACT — www.academyofct.org), nos Estados Unidos, certificam os terapeutas com base em competências, métodos e avaliações sugeridas em diretrizes específicas. Essas duas instituições também dão acreditação para supervisores, a fim de aumentar a possibilidade de ocorrência de treinamento adequado.2
Para a acreditação de supervisores, a BABCP exige que o profissional tenha sua certificação por pelo menos três anos como terapeuta e um treinamento de supervisor, no entanto, não indica o que deve conter minimamente no curso para supervisor ou como deve ser esse treinamento. Essa falta de critérios gera uma variação muito grande nos cursos de treinamentos de supervisores que são oferecidos, desde a duração até a qualidade.3
No Brasil, também existe a preocupação com a qualidade do terapeuta cognitivo-comportamental. Em 2014, a Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC – www.fbtc.org.br) realizou uma chamada para certificar profissionais que comprovassem experiência clínica e teórica em TCCterapia cognitivo-comportamental por pelo menos 10 anos à época.7
Como continuação desse processo, desde 2015, a cada dois anos, a FBTC oferece uma certificação ao terapeuta que alcance alguns critérios:7
- comprove prática clínica em TCCterapia cognitivo-comportamental há pelo menos três anos;
- comprove envolvimento na área, seja por titulação (doutorado, mestrado, especialização, formação ou atualização), docência ou por produção acadêmica;
- alcance nota mínima de 7 pontos na prova de conhecimentos.
Ainda que essa certificação seja recente no país e foque apenas no terapeuta, ressalta-se sua importância na direção de aumentar e validar a qualidade dos profissionais de TCCterapia cognitivo-comportamental.
Partindo desse primeiro olhar sobre o treinamento de terapeutas, este capítulo fará um passeio sobre conceitos básicos, competências essenciais e estratégias de ensino fundamentais para a supervisão clínica em TCCterapia cognitivo-comportamental.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a importância das funções da supervisão clínica e defini-las;
- identificar elementos para a supervisão baseada em evidência;
- identificar as competências do terapeuta cognitivo-comportamental;
- reconhecer os modelos de supervisão;
- descrever as estratégias pedagógicas de ensino na supervisão de TCCterapia cognitivo-comportamental;
- assegurar a importância do treinamento do supervisor clínico de TCCterapia cognitivo-comportamental;
- refinar as competências do supervisor clínico de TCCterapia cognitivo-comportamental.